Bem Vindo

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Não se despreza documentos oficiais ou fontes fidedignas para garantir a credibilidade; o que hoje é uma verdade amanhã pode ser contestado. A busca por fatos, dados, informações, a pesquisa, reconhecer a qualidade no esforço e trabalho de terceiros, transformam o resultado em um caminho instigante e incansável na busca pela História.

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Poderá demorar um pouquinho para baixar, mas vale à pena. - Bom Passeio.

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domingo, 5 de março de 2017

Ilhota

Ilhota
- Um dos objetivos dos governos brasileiros na metade do século XX era o de fazer uma reestruturação (limpeza) em suas grandes cidades.

- Com o fim da escravidão, em 1888, os negros não tiveram nenhum tipo de assistência para adaptação à sua nova condição de “liberdade”.

- A grande maioria foi se realocando em lugares ruins de morar, porém próximos da zona urbana. A exemplo de outras cidades, a região da Ilhota seguiu essa linha de desenvolvimento. “Eles preferem morar ali, sem pagar aluguel, porque fica próximo de locais de trabalho. Essa situação é extremamente comum na época. Preferem viver mal ali, mas podendo ir a pé para local do trabalho, ir a pé para unidades sanitárias gratuitas, centro modelo, etc. Tudo ali fica acessível, ao mínimo de custos”, contextualiza o sociólogo do Demhab.

- Como não existem muitos documentos sobre a Ilhota, lendas surgiram para contar sua história.

- A Ilhota, parte de terra recortada por uma sinuosa curva do tempo em que havia curvas no Riacho, que viria a ser o Arroio Dilúvio.



- A “Ilhota” - a primeira grande favela de Porto Alegre - estava localizada às margens do arroio Dilúvio, quase na confluência com o Guaíba.

- Habitada por moradores pobres e, em sua maioria, negros ou pardos, era mal vista pelos demais porto-alegrenses, que a consideravam um local de marginais e ladrões - o que, em certa medida, era verdade.

- Mas, também foi habitada por uma esmagadora maioria de trabalhadores que davam duro para ganhar a vida. Vivendo em sub-habitações, os moradores da Ilhota eram, inevitavelmente, as primeiras vítimas das grandes enchentes que assolavam a capital gaúcha, entre elas a fantástica cheia de 1941. 

Imagem, dos anos 1940, Lupi toca um samba na Sacumba

- Sacumba era um galpão lateral da sua casa, que ficava em um terreno estreito e comprido (13m x 57m) na Travessa Batista, 97, uma rua sem saída. Era uma construção simples de alvenaria, com pátio espaçoso. Os fundos davam para um dos braços de arroio da Ilhota.

- A “Ilhota” era habitada por pessoas pobres que queriam ficar perto do centro de Porto Alegre (Foto: Marcello Campos/arquivo pessoal)

Considerada uma chaga urbana, todos os prefeitos anunciavam que iriam removê-la, o que aconteceu aos poucos e foi consumado durante o governo de Guilherme Socias Villela, na década de 1970, quando se construiu o bairro da Restinga, hoje uma verdadeira cidade, e para onde foram transferidas as famílias.

Em 1914, o Plano Geral de Melhoramentos de Porto Alegre, elaborado pelo engenheiro-arquiteto João Moreira Maciel, norteou à modernização da cidade sob três conceitos básicos: circulação, higienização e embelezamento.'


- O plano só foi colocado em ação 10 anos depois e, como você já pode esperar, não respeitou os territórios negros. A Ilhota foi destruída para a horrorosa canalização do fétido Arroio Dilúvio.

Na Ilhota, nasceram gaúchos ilustres, como o compositor Lupicínio Rodrigues e o craque do futebol, Osmar Fortes Barcellos, o Tesourinha.

Reprodução do Correio do Povo de 1966 - foto Santos Vidarte (uma legenda do fotojornalismo gaúcho) retrata o que era aquela "maloca"

A antiga Ilhota, área onde passa a Av. Erico Verissimo, entre a Av. Ipiranga e a Praça Garibaldi, atualmente – conta com homenagens póstumas em forma de logradouros e edificações.

O Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues (CPC), o Ginásio Osmar Fortes Barcellos (Tesourinha) e a Praça Lupicínio Rodrigues são os exemplos.

Apesar da lembrança, muitos que passam pelo bairro não imaginam que aquele lugar era cercado de água, sofria constantemente com inundações, era discriminado pelo resto da cidade, e, mesmo assim, abrigava histórias fantásticas.

Lembranças

Aldovan Moraes, sociólogo do Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre (Demhab), afirma que “as chamadas populações ‘decentes’ buscavam evitar a Ilhota”, nutrindo “um medo permanente em relação a ela”.

Pelotense, a professora estadual Ilka Torres veio morar aqui em 1959 e lembra bem disso: “Tinha uma fama meio pesada, a gente tinha até restrições de ir lá por perto. Diziam que a polícia tinha receio de entrar na Ilhota”.
Moradora do Bom Fim, bairro próximo dessa comunidade pobre, ela conta que “havia um certo preconceito”:
“Acho que de serem negros, pobres e bêbados. Faxineiras ou empregadas não se queria que fosse da Ilhota, agora, por quê, não sei. Eu nunca tive [empregados] da Ilhota”, revela.

O sociólogo do Demhab Aldovan Moraes considera que boa parte dos moradores “eram pequenos criminosos”. Segundo ele, batedores de carteira, golpistas e assaltantes em geral.

O funcionário público aposentado e ex-morador da Ilhota Jairo Rodrigues esclarece:

“Alguns a gente sabia que eram marginais, mas não tenho notícias de alguém ser assaltado na vila. Nem de tráfico. Alguém conhecia alguém que fumava maconha, e que ia lá no cais pegar dos marinheiros que vinham de fora… Bebida sim, tinha os botecos… E, de vez em quando, um cara dava uma facada no outro. A beberagem, né? E claro, mulher, né? Ciúme. Uma vez, vi uma briga que o cara tocou uma faca e matou o outro. Mas foi poucas vezes”.

Na verdade, a violência era o último dos problemas dos moradores da Ilhota. Jairo Rodrigues viveu lá de 1947 a 1962 e hoje, aos 69 anos, o que mais se destaca em sua memória é a extrema precariedade do local:

“A lembrança que eu tenho é muito, muito ruim. No verão secava um pouco, mas no inverno era lodo. Tu tinha que ser equilibrista e pisar numas tabuinhas para não atolar o pé. Eu tinha até vergonha, trabalhava numa loja na Praça Garibaldi e chegava lá todo embarrado, tinha que limpar os sapatos… Vou dizer, pra quem morou na Ilhota, não tem vila ruim”.

Jairo Rodrigues afirma que a Prefeitura nem se aproximava do local. “Não tinha órgão público que chegasse. A água era de bica, botavam uma torneira e tu ia de balde. Luz, só gateada. Nem gateada, era pior! Na 17 de Junho, uns camaradas vendiam luz pro pessoal da vila. Era ‘paliteiro’: puxavam um fio de 150 metros, todo emendadinho, e cobravam uma taxa por mês pela luz. Um biquinho né? Frigidaire, essas coisas, nem pensar”.

Esgoto? “Casinha. Patente, um buraco. Malcheiroso, com mosquito, o que tu possa imaginar. Era tudo de madeira, as casas uma do lado da outra, e cada um fazia seu banheiro. Tinha que tomar banho de bacia, era o que todos faziam. Saneamento básico não existia”, conta Jairo Rodrigues.

“Pra tu ver como era insalubre, na minha família, dos quatro irmãos, três contraíram tuberculose. Era comum. Morriam muitas crianças. Febre, vermes, doenças infantis… Era muito ruim, uma página negra na história de Porto Alegre”.

Remo junto a Ilhota

Postal registra uma das pontes que ligava a Ilhota a Cidade Baixa - década de 1920

Localizacão

A região conhecida como “Ilhota” ocupava a área que hoje vai da Praça Garibaldi (antiga Praça da Concórdia, na esquerda da Av, Venâncio Aires com a Av. Erico Verissimo) até a Av. Ipiranga, se espalhando em direção à Rua Lima e Silva por um lado e, pelo outro, até a Av. Getúlio Vargas (antiga 13 de Maio).


Conforme Aldovan Moraes, sociólogo do Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre (Demhab), a “Ilhota” se baseava em duas ruas.

“Houve uma troca entre as ruas Olavo Bilac e Lobo da Costa”.

Por ironia, a “Ilhota” não existiu desde sempre.

O Início
A Ilhota surgiu após obra da Intendência Municipal de Porto Alegre, que foi realizada do final de 1904 ao início de 1905.

O objetivo do intendente José Montaury (1858-1939) era de dar maior vazão a dois arroios que estavam atingindo ruas da região, como a Rua Arlindo (região do Colégio Protásio Alves à Praça Garibaldi).

Em seu lugar havia o Riacho, apelidado Riachinho, que era o mesmo Arroio Jacareí do século XIX, cujas curvas acentuadas delimitavam uma zona que se alagava muito quando chovia.

A memória popular optou por chamar esses arroios de Dilúvio e Cascatinha, porém eles tiveram outros nomes:
Dilúvio: - Arroio Jacareí, Arroio do Sabão, Arroio da Azenha, Arroio Dilúvio, Riacho e Riachinho foram as alcunhas do primeiro.
Cascatinha: - Arroio das Águas Mortas, Cascata e Cascatinha foram do segundo.

Com o término da obra, criou-se uma região ilhada, mas bem localizada, próxima do centro da Capital.

A obra de José Montaury criou um veio onde a água mal circulava, tornando-se um fétido berçário de mosquitos que os porto-alegrenses denominaram “braço morto do Riacho”.

A obra originou um curso d’água próximo ao encontro dos dois arroios, formando uma ilha na região.

Nascia a “Ilhota”.

Seu leito formava uma área cercada de água onde se formou uma vila, que se expandiu e deu nome a um conjunto de comunidades carentes chamado popularmente de “Ilhota”.

Para a Prefeitura, aquilo eram 22 hectares de problemas: além de ser considerado um antro de criminosos, todo ano caminhões precisavam ficar de plantão para recolher os flagelados das cheias.

Os Moradores
Logo apareceram os primeiros moradores.

No início do século XX, os habitantes iniciais da Ilhota eram proprietários que adquiriram terrenos ali conforme sugere Aldovan Moraes.

Na metade no século XX, o crescimento populacional de Porto Alegre atingiu também a pequena ilha, que foi ficando cada vez mais densa. A área sujeita a inundações atraiu pessoas que não tinham condições de morar na parte urbana, mas que tinham interesse em ficar perto do coração da cidade.

E as cheias dos arroios que a cercavam vitimavam cada vez mais os moradores.

A partir de 1910, os primeiros invasores tenham chegado, eram “os pobres do próprio município”.

Em 1911, a curva da Rua Lobo da Costa, cruzando o arroio, passava a se chamar Rua Ilhota. E o final da Rua Ilhota tinha um esquema de cruz, um formato de “T”.

O “T” se chamava Travessa Baptista. Então, a Rua Ilhota era o segundo nome de um logradouro. O que estivesse dentro da região [Ilhota] era Rua Ilhota e Travessa Baptista, e o que estivesse fora era Lobo da Costa, atual Olavo Bilac.

Rua Arlindo

A Rua Ilhota era, simplesmente, a continuação ou final da Lobo da Costa.

Porto Alegre foi a primeira cidade do país a ter um Plano Diretor.

Em 1914, o arquiteto João Moreira Maciel (1877-?) propôs um projeto que tentava organizar o crescimento da cidade, o Plano Geral de Melhoramentos. Apesar do projeto centenário, ele foi fundamental para capital gaúcha. Muitos pontos saíram da cabeça de Maciel, como a Perimetral Loureiro da Silva, a Av. Mauá (que era Av. do Porto), Av. Júlio de Castilhos, Av. Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), etc.

Entre eles, a canalização do Arroio Dilúvio, que mudaria totalmente a Ilhota. Levaram anos para a mudança acontecer.

A Ilhota se tornou um bairro mítico de Porto Alegre, lendas se criaram naquela porção de terra cercada por água.

Em 16 de setembro de 1914, nascia na Ilhota Lupicinio Rodrigues

Casa da Família Rodrigues

Falam em uma Ilhota gigantesca.

Entretanto, em 1935, o número de domicílios na região não era expressivo, aproximadamente 78. E é errôneo dizer que a Ilhota tratava-se de uma única vila. Foram diversos conjuntos que formaram esse território. Onde hoje se situa o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, ficava a Vila Piratini.

Em 1939, a prefeitura começou a executar suas ações práticas sobre o Arroio Dilúvio e a Ilhota.

Dos anos 1940 aos 60, Porto Alegre sofreu o seu maior aumento populacional e na Ilhota não foi diferente. O funcionário público aposentado conta que, enquanto morou lá, “mudou só pra pior”: “Cresceu, apertou mais. Tinha lugares que o pessoal não ia e começou a ir, a ocupar os espaços. Lugares alagados mesmo, baixinhos. Cada um fazia o que dava, arrumava uma carroça, botava terra. Cada um por si e Deus por todos”.

Os jornais da época são unânimes ao descrever o local como abrigo de marginais.

O Início do Fim

A partir das enchentes de 1941, a Intendencia Municipal (Prefeitura) começou a projetar o fim da Ilhota, e, conforme ela foi superlotando, começaram as remoções massivas.

Até 1945, segundo o sociólogo Aldovan Moraes do Demhab, havia poucas vilas irregulares em Porto Alegre:

“A Prefeitura só começa a se preocupar com isso na segunda metade dos anos 1940, não existe problema antes disso. Existe, mas não era considerado um problema. Numericamente falando, o percentual de invasões anterior a 1945 não é importante. Era um assunto irrelevante”.

Uma das primeiras vilas removidas da cidade foi a Vila Piratini, que ficava onde hoje está o Colégio Júlio de Castilhos.

Foto área da Ilhota na década de 1940, quando começaram as ações da prefeitura para modificar a região (Foto: Marcello Campos/arquivo pessoal)

De acordo com o livro Porto Alegre: Guia Histórico, de Sérgio da Costa Franco, no Decreto Municipal nº 333, de 06/07/1946, 77 construções, localizadas entre a Rua Ilhota e a Travessa Baptista, foram demolidas em função da canalização do Riacho, além do saneamento e urbanização da zona.

D.T.O.

Em 1947, os moradores dessa vila foram mandados para as proximidades da Rua Arlindo, uma zona ao lado da Ilhota criando a Vila DTO onde agora fica o Colégio Protásio Alves.

Na prática, essa era mais uma vila chamada popularmente de Ilhota, assim como a Vila dos Eucaliptos, Cabo Rocha, a Araquilândia, o Cantão da Arlindo.

 “O que dividia a DTO da Ilhota era a Rua Arlindo [mais ou menos por onde abriram a Erico Verissimo]. Mas é meio misturado, né?”, ressalta Jairo Rodrigues.

Em novembro de 1954, foram retiradas 704 malocas da Vila DTO, mas foi durante a ditadura que o processo se intensificou.

Em 1948, conforme os registros Demhab, 295 pessoas moravam na Ilhota (o Cantão), num total de 87 casas.

A reportagem Ilhados na Miséria, escrita em 2011, por Ariel Fagundes e Leandro H. Rodrigues para o Jornal Tabaré, contou a história da Ilhota. Como diz no texto: “Em novembro de 1954, foram retiradas 704 malocas da Vila DTO”, mas foi durante a ditadura que o processo se intensificou.


Nasce a Restinga

Em 1967, o Demhab (Departamento Municipal de Habitacaão), com a gentil ajuda do Exército, retirou mais de mil casas da Ilhota e levou seus moradores para inaugurarem a recém criada Restinga, os moradores da Ilhota foram designados a morar também na região de Mato Sampaio (bairro Bom Jesus) e São Gabriel (bairro Camaquã).

Aldovan Moraes admite que “os antigos habitantes da Ilhota não foram beneficiados pelas obras que retiraram eles dali”. “O ponto de vista da vítima era desconhecido, os moradores não eram ouvidos. Houve sofrimento, houve horror inicial, a coisa piorou”, garante o sociólogo do Demhab.

Apesar de não morar lá desde 1962, Jairo conta o que seus amigos passaram: “Vieram caminhões, desmancharam tudo na marra e jogaram o pessoal na Restinga. Tenho um conhecido que levaram tudo e ele nem foi buscar. Foi traumático”.

Pois se a Ilhota era ruim, a Restinga do fim dos anos 1960 era muito pior: “Nos primeiros anos, não tem rede de água, nem nada”, afirma Aldovan Moraes. Segundo ele, o plano era que “os habitantes de cada domicílio da Ilhota tivessem direito a um lote na Restinga”.

A partir dos anos 1970, já não há mais lotes suficientes e se começa a pôr mais de uma casa no mesmo.

Os Moradores da Ilhota Sofrem

Apenas por estarem próximos ao Centro, os habitantes da Ilhota tinham acesso a serviços públicos mínimos, como o Centro de Saúde Modelo e o colégio Emílio Massot, além de poderem trabalhar formal ou informalmente.

Na Restinga, isso acabou. Aldovan Moraes conta que lá eles ficaram “simplesmente atirados, todos na mesma situação, sem nada” e a fome virou rotina.

Toda atividade econômica da Ilhota é impossível nesse novo local. Eles não têm para quem mendigar, quem roubar, ou como ir a pé pros locais de emprego.

Na Restinga tudo que existia eram os coitados dos pequenos proprietários de chácaras que tinham que se precaver pra evitar que suas lavouras fossem roubadas.

Enquanto a Restinga ia sendo ocupada por egressos de várias vilas que foram removidas na época, alguns ainda permaneciam na Ilhota.

Projeto Renascença

Até 1972, a situação se arrastou, quando o Banco Nacional de Habitação - BNH, lançou o plano Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada (Cura). Com isso, Porto Alegre recebeu mais de Cr$ 360 milhões de cruzeiros, para realizar uma imensa reforma urbanística chamada Projeto Renascença, sobre o pretexto de estar recuperando áreas deterioradas da cidade.



Meio século depois de apresentado o Plano Maciel, o prefeito Guilherme Socias Vilella pôs em prática o Projeto Renascença.

Assim foi construída a Av. Erico Verissimo e seus arredores.

Além da remoção total da Ilhota, esse projeto previu a criação da Primeira Perimetral, o aterro de parte do Guaíba criando o Parque Marinha do Brasil e a e Avenida Beira Rio, dentre várias outras supostas melhorias.

Aldovan Moraes afirma que até houve “o projeto de apartamentos para egressos da Ilhota na mesma região onde ela seria extinta”, mas essa foi “uma das tantas coisas que nunca saíram do papel”.

Em 1978, o Centro Municipal de Cultura - CMC foi inaugurado.

Em 1986, durante o governo do prefeito Alceu Collares, passaria a homenagear Lupicínio Rodrigues.

O Fim total da Ilhota

Com a retificação do Dilúvio, a ilhota foi riscada do mapa.

Seus últimos habitantes deixaram o local, em 1979.

Em 1979, o Projeto Renascença foi concluído, acabando de vez com os últimos suspiros da Ilhota. Como mais um tumor social, a ilhota foi removida cirurgicamente por máquinas pesadas que a transplantaram para longe dos olhos da cidade.

Da “Ilhota”, não restou praticamente nenhum resquício, apenas o traçado irregular de algumas ruas indicando por onde passava o velho Riachinho (Rio Jacareí).

É pequeno em território, mas de grande simbolismo histórico-cultural.

Ilhota Cultural

Lupicínio Rodrigues foi o filho mais ilustre da Ilhota.
Ali nasceu, em 1914, e morou por cerca de quarenta anos.

Além de Lupi, a Ilhota foi berço de manifestações artísticas da cidade, como o Carnaval e o Samba.

O texto do projeto de lei diz que a iniciativa busca resgatar a vida cultural de Porto Alegre entre as décadas de 1940 e 1960.
O perímetro abrange o Centro Municipal de Cultura, a Praça Lupicínio Rodrigues e o Ginásio Tesourinha.

O Novo Bairro

A “Ilhota” agora um bairro.
A antiga ilhota nasceu e viveu Lupicínio Rodrigues e é oficialmente um bairro de Porto Alegre.

A lei foi publicada no Diário Oficial.

Um naco de terra foi suprimido do Menino Deus para dar origem ao novo arrabalde, tentando reconstituir os limites do antigo lugarejo.

A iniciativa é uma justa homenagem ao autor de Se acaso você chegasse.

É, todavia, contraditória sob o aspecto geográfico. Afinal, a ilhota não existe mais. Ficará sendo como é hoje o Guaíba. Chamamos de rio, mas não é rio, é lago. Passaremos a chamar de Ilhota um pedaço de terra que não é uma ilhota, mas uma fração de continente.

Em abril 2015, o Projeto altera o Menino Deus e cria o Bairro Ilhota
Está em tramitação, na Câmara Municipal de Porto Alegre, projeto de lei de autoria da Mesa Diretora que propõe a alteração dos limites do Bairro Menino Deus e a criação do Bairro Ilhota.

A proposta, se aprovada, modifica a Lei nº 2.022, de 7 de dezembro de 1959. Além do presidente da Câmara, vereador Professor Garcia (PMDB), também integram a Mesa Diretora os vereadores Mauro Pinheiro (PT), Delegado Cleiton (PDT), Guilherme Socias Villela (PP), Any Ortiz (PPS) e Márcio Bins Ely (PDT).

A zona do Bairro Ilhota seria compreendida pelos seguintes limites e logradouros públicos, conforme descrito no projeto:

"Com ponto inicial na Avenida Erico Verissimo, no Ginásio Municipal Osmar Fortes Barcellos (Tesourinha), esquina com a Rua Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, segue pela Avenida Érico Veríssimo até encontrar a passagem de pedestres localizada entre o Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicinio Rodrigues e a Praça Augusto César Sandino; daí, segue pela passagem de pedestres até encontrar a Rua Marechal Setembrino de Carvalho; daí, segue pela Rua Marechal Setembrino de Carvalho até encontrar a Praça Lupicinio Rodrigues; daí, segue para a esquerda, contornando a Praça Lupicinio Rodrigues, até encontrar a Rua Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva; daí, segue pela Rua Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, por sua numeração de lado ímpar, até a convergência com a Avenida Érico Verissimo".

As Homenagens 

De acordo com o vereador Professor Garcia (PMDB), a alteração objetiva fazer uma homenagem ao centenário de Lupicinio Rodrigues, nascido na Ilhota, comunidade do Bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, no dia 16 de setembro de 1914.

Falecido no dia 27 de agosto de 1974, Lupicinio – ou Lupi, como era mais conhecido – estaria completando, neste ano, 100 anos de vida.

"Esse projeto busca resgatar a vida cultural de Porto Alegre entre as décadas de 1940 e 1960, uma vez que o Bairro Ilhota irá abranger o Centro Municipal de Cultura, a Praça Lupicinio Rodrigues e o Ginásio Tesourinha", explica Garcia.

Personalidades
Lupicínio Rodrigues

Nome completo         Lupicínio Rodrigues
Também conhecido(a) como Lupe
Nascimento    16 de setembro de 1914
Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Data de morte, 27 de agosto de 1974 (59 anos)
Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Compositor

Período em atividade década de 1920 — 1973

Lupicínio Rodrigues (Porto Alegre, 16 de setembro de 1914 — Porto Alegre, 27 de agosto de 1974) foi um cantor e compositor.


- Lupicínio Rodrigues nasceu pelas mãos da parteira-benzedeira Júlia “Dona Quimbá” Garcia, às 21h30min de uma quarta-feira, 16 de setembro de 1914.

- Ele deixou uma composição que nunca foi gravada, de 1937, intitulada Ilhota. O samba é uma das quase 300 canções.


- Consta que a casa da Travessa Batista, 97, ficava onde hoje é a praça Lupicínio Rodrigues, atrás do Ginásio Tesourinha

Lupe, como era chamado desde pequeno, compôs marchinhas de carnaval e sambas-canção, músicas que expressam muito sentimento, principalmente a melancolia por um amor perdido.


O Termo

Foi o inventor do termo “dor-de-cotovelo”, que se refere à prática de quem crava os cotovelos em um balcão ou mesa de bar, pede um uísque duplo, e chora pela perda da pessoa amada.

Constantemente abandonado pelas mulheres, Lupicínio Rodrigues buscou em sua própria vida a inspiração para suas canções, onde a traição e o amor andavam sempre juntos.


Casa de Lupicinio na Ilhota

De 1935 a 1947, trabalhou como bedel da Faculdade de Direito da UFRGS.

Nunca saiu de Porto Alegre, a não ser por uns meses em 1939, para conhecer o ambiente musical carioca. Porto Alegre era seu berço querido e todo o seu universo.

Boêmio, foi proprietário de diversos bares, churrascarias e restaurantes com música, que seguidamente ia abrindo e fechando, tudo apenas para ter, antes do lucro, um local para encontro com os amigos.

Torcedor do Grêmio, compôs o hino tricolor, em 1953:

Até a pé nós iremos / para que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / com o Grêmio onde o Grêmio estiver. Seu retrato está na Galeria dos Gremistas Imortais, no salão nobre do clube.

Deixou cerca de uma centena e meia de canções editadas; outras centenas que compôs foram perdidas, esquecidas ou estão à espera de quem as resgate.

Encontra-se sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre.

Obras:
Aves daninhas
Cadeira vazia
Cevando o amargo
Ela disse-me assim
Esses moços, pobres moços
Exemplo
Felicidade
Foi assim
Hino do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
Judiaria
Loucura
Maria Rosa
Migalhas
Nervos de Aço
Nunca
Quem há de dizer
Se acaso você chegasse
Se é verdade
Sozinha
Torre de Babel
Um favor
Vingança
Volta
Zé Ponte


Discografia
Francisco Egydio (C/ Walter Wanderley e Seu Conjunto) - Vive os Sucessos de Lupicinio Rodrigues - LP 1963 (Odeon)
Jamelão - Interpreta Lupicinio Rodrigues - LP 1972 (Continental)
Lupicinio Rodrigues - Gravações Originais - LP 1974 (Discos Copacabana)
Lado A_____________________________Lado B
01 Felicidade______________________01 Vingança
02 Se acaso você chegasse__________02 Namorados
03 Aves daninhas___________________03 Inah
04 Os beijos dela___________________04 Não sou de reclamar
05 Nunca__________________________05 Nossa senhora das graças
06 Jardim da saudade_______________06 Amor é um só


NELSON COELHO DA CASTRO, GELSON OLIVEIRA, BEBETO ALVES, PAULO GAIGER, NEUSA ÁVILA, PERY SOUSA, NANCI ARAÚJO - Coompor Canta Lupi - LP 1989
Vários Interpretes Revivendo 4 CDs - CD (Cedar Revivendo)
Thedy Corrêa Loopcinio - CD 2005 (Orbeat)
Joanna - Joanna canta Lupicínio - (1994, BMG Ariola / 400.000 cópias

Tesourinha


Osmar Fortes Barcellos - O Tesourinha


Osmar Fortes Barcellos
Nascido em 03 de dezembro de 1921
Em Porto Alegre (RS), Brasil
Falecido em 17 de junho de 1979 (57 anos)
Local da morte Porto Alegre (RS), Brasil
Pé Destro
Apelido Tesourinha, A Flecha

Informações Profissionais
Posição Ponta-direita

Clubes Profissionais
Anos Clubes Jogos e Gol(o)s

1939–1949 Internacional 149 (176)

1949–1952 Vasco da Gama

1952–1954 Grêmio

1954–1957 Nacional

Seleção Nacional

1940–1944 Rio Grande do Sul 7 (6)

1944–1950 Brasil 23 (10)

Osmar Fortes Barcellos, mais conhecido como Tesourinha (Porto Alegre, 3 de dezembro de 1921 — Porto Alegre, 17 de junho de 1979), foi um futebolista brasileiro que atuava como ponta-direita.

Carreira
Tesourinha, que teve o apelido tirado de um bloco carnavalesco no qual participava chamado Os Tesouras. Começou a carreira jogando em um clube amador de Porto Alegre, o Ferroviário, time da Ilhota, sua ex-vila na capital do Rio Grande do Sul, hoje batizada de Praça Garibaldi.

Em 1939, foi convidado por um olheiro do Internacional a fazer testes no clube, sendo aprovado. No Internacional, Tesourinha estreou no dia 23 de outubro de 1939, em uma vitória de seu time sobre o Cruzeiro por 2–1, em partida válida pelo Citadino de Porto Alegre.


Seu primeiro gol como profissional só viria a ocorrer em um amistoso com o Força e Luz em 14 de dezembro daquele ano, no qual o Internacional venceu por 7–0, sendo Tesourinha autor de um dos gols.

Devido à concorrência com o consagrado Carlitos, Tesourinha foi deslocado para a ponta direita, onde teve exitosa carreira. Consagrou-se no chamado Rolo Compressor, como foi denominada a equipe do Internacional da década de 1940 hexacampeã gaúcha e tida como como "imbatível".

Em 1944, foi convocado pelo treinador Flávio Costa para a Seleção Brasileira, onde Tesourinha estreou em um amistoso contra a Seleção do Uruguai, no dia 14 de maio, marcando um dos gols da vitória brasileira por 6–1.

No ano seguinte, seria titular nas seis partidas da Seleção Brasileira no Campeonato Sul-Americano de Seleções, sendo eleito o melhor atleta da competição.



Em 1949, participou de nova edição do Sul-Americano de Seleções, desta vez sendo campeão e novamente escolhido como melhor atleta. Tesourinha marcou 7 gols neste campeonato.

Ainda em 1949, Tesourinha transferiu-se do Internacional para o Vasco por uma quantia considerada uma fortuna na época.

Estreou no dia 4 de janeiro de 1950, em partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo, na qual o Vasco venceu a Portuguesa de Desportos por 5–2 e Tesourinha marcou um gol cobrando falta.


No clube carioca, fez parte do lendário Expresso da Vitória. Atuou no Vasco até o ano de 1952.

Na seleção, foi titular absoluto por cinco anos seguidos. Tinha participação certa na Copa do Mundo de 1950, formando o ataque titular ao lado de Zizinho, Ademir, Jair e Chico, mas sofreu uma grave lesão nos meniscos na véspera que o deixou de fora da competição.

Em 1952, Tesourinha foi contratado pelo Grêmio, ficou conhecido por quebrar um tabu histórico de ter sido o primeiro atleta negro da história a jogar no clube. Tesourinha fez a sua estréia no Grêmio no amistoso do dia 16 de março daquele ano, em uma vitória por 5–3 sobre o Juventude, em Caxias do Sul. Tesourinha marcou dois gols na partida.

Encerrou a carreira em 1957, jogando pelo Nacional de Porto Alegre.

Ainda ensaiou seguir a carreira de técnico, ao dirigir o Futebol Clube Montenegro em 1960.



Tesourinha faleceu em 1979, aos 57 anos, vitimado por um câncer no estômago.

Títulos
Internacional
Campeonato Gaúcho: 1941,1942,1943,1944,1945,1947 e 1948.
Vasco da Gama
Campeonato Carioca: 1950.
Seleção Brasileira
Copa Roca: 1945
Copa Rio Branco: 1947 e 1950
Copa América: 1949
Taça Oswaldo Cruz: 1950
Prêmios Individuais
Melhor jogador da Copa América: 1945 e 1949


O que Restou da Ilhota

- Pouco restou da Ilhota de Lupi e Tesourinha. A referência geográfica do novo bairro é o triângulo formado pelas avenidas Ipiranga, Érico Veríssimo e Getúlio Vargas.

PRAÇA GARIBALDI (antigo potreiro da Várzea, depois praça da Concórdia até 1907) - Virgílio Calegari, 1912: construção do monumento em homenagem a Giuseppe e Anita Garibaldi, confeccionado por marmoristas de Carrara (acervo do Museu Joaquim José Felizardo);
Adriana Bednarz, 2013 (acervo Porto História PH).

- A Praça Garibaldi, no bairro Cidade Baixa, é uma referência que permite situar a ILHOTA; marca o local que delimitava a fronteira entre o espaço interno da vila e o espaço exterior urbanizado.

- A Praça Garibaldi era um lugar de sociabilidade. As famílias iam se refugiar nas noites quentes de verão e ali também ocorriam encontros amorosos, folias de carnaval e conflitos entre marginais e a polícia.


Em 1975, o Projeto Renascença transformou a Ilhota. Reformulou o bairro através da construção do Ginásio Tesourinha e do Centro Municipal de Cultura e Teatro Renascença. A avenida Érico Veríssimo cortou a vila ao meio enquanto o processo de urbanização valorizou os terrenos da área desocupada, onde na década de 1980 se multiplicaram os condomínios de classe média.


- Os moradores foram transferidos para a recém criada VILA RESTINGA, situada na periferia de Porto Alegre.

Curiosidades
Por apresentar um físico franzino quando contratado pelo Internacional, Tesourinha foi autorizado pela diretoria do clube a retirar meio quilo de carne e dois litros de leite por dia em uma padaria próxima ao Estádio dos Eucaliptos, para que pudesse adquirir massa muscular.

Foi o primeiro atleta negro da história a vestir a camisa do Grêmio, em 1952.

Na partida amistosa de despedida do Estádio dos Eucaliptos, em 26 de março de 1969 (Internacional 4 x 1 Rio Grande), Tesourinha entrou em campo pelo Internacional tendo, na época, 47 anos de idade. Entrou apenas no segundo tempo, substituindo Bráulio. Ao final da partida, Tesourinha retirou as redes

Notas:

Carlos Garcia
Site: Nonada Jornalismo Cultural Investigativo
Jornal Zero Hora
Jornal Correio do Povo
Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho

8 comentários:

  1. Gostaria de saber de onde saíram as referências sobre a Ilhota.

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  2. Morei de 1960 (quanto tinha 4 anos) até 1985 num prédio da Getúlio Vargas em cujos fundos se estendia a Ilhota. Vários colegas meus no Grupo Escolar Cel. Afonso Emílio Massot eram moradores da Ilhota. Eu jogava futebol com a turma na Ilhota. Bons tempos.

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    1. Dos 5 aos 6 anos eu frequentei o Jardim de Infância que havia na praça Garibaldi.

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  3. Ilhota uma lembrança boa da minha infância, gostei muito de lembrar desse momento!!!!

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  4. Como era o nome da rua que agora se chama Avenida Érico Veríssimo?

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    1. Não existia rua onde é a Érico Veríssimo. Ela passa exatamente onde era o antigo leito do riacho. Mas talvez você esteja perguntando sobre a Rua Arlindo, que era bem próxima.

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    2. Na minha infância (e parte da adolescência), até 1967, morei exatamente na Rua Arlindo. Ela iniciava na confluência das ruas José do Patrocínio e Sebastião Leão, e prolongava-se pelo bairro Menino Deus, mais ou menos no mesmo trajeto da atual Érico Veríssimo.
      GARIVALDINO FERRAZ - Brasília/DF

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  5. Excelente postagem.
    Vivi dos 3 aos 16 anos na Rua Arlindo, um dos limites da Ilhota (a garotada chamava Ilhota do Norte, em uma referência aos gibis do Bolinha e Luluzinha, que separavam as turmas de moleques como pertencentes às zonas sul e norte). A "Ilhota do Sul", menor ficava no outro lado do Dilúvio.
    Não concordo com as descrições sobre a população e precariedades do local. Talvez por ter residido na "periferia" da vila, não percebia os conflitos citados no texto. O atendimento de saúde, penso que era muito melhor do que temos atualmente. Eu tinha problemas de amigdalite e era frequentemente atendido pelo SAMDU (Serv de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência). Lembro que em duas ou três oportunidades que fui a um armazém onde havia telefone (acredito que seja o prédio rosa que aparece no Google Maps, na esquina da José do Patrocínio com Lopo Gonçalves) chamar o SAMDU, não demorava 15 minutos e chegava a ambulância com médico, assistente e o motorista. Faziam o atendimento, medicavam e deixavam medicação para o tratamento. Quando necessário, removiam para o hospital.
    Havia o problema de saneamento, mas lembro que em 1967 tínhamos água encanada. Energia elétrica, não lembro de não haver em minha casa (de madeira, construída sobre pedras-ferro com uns 30/40 cm de altura para prevenir as enchentes).
    Em 67, minha mãe optou por financiar um lote em Cachoeirinha (no meio do mato) porque lá havia transporte coletivo mais eficiente do que na Restinga, e ela trabalhava no Restaurante Universitário (o mesmo existente quase em frente à Fac Direito da URGS, na João Pessoa).
    Gostaria que mais pessoas participassem e expusessem seus comentários aqui!

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