Bem Vindo

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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Aterros - em Montagem

Aterros
Sobre o guaíba

Mapa do centro de Porto Alegre feito pelo Eng. Clóvis Silveira de Oliveira e editado em seu livro “Porto Alegre – A Cidade e Sua Formação”- Ed.Norma –1985


- A linha vermelha representa a beira do rio no início do povoamento (1752).
Em verde, está o atual alinhamento da Sete de Setembro e em azul claro, a área atual que foi sucessivamente aterrada até o Cais do Porto.Ao observar o mapa, podemos reparar que o chamado “Beco dos Marinheiros” ( trecho à esquerda no mapa) e o trecho entre a Gal. Câmara e a Praça XV (Porto dos Ferreiros) não teriam continuidade sem os aterros.
Porto Alegre

- Historicamente, os aterros como forma de acrescentar área à cidade é utilizado no Brasil em diversos casos como nas cidades do Rio de Janeiro, no Recife, em Salvador, citando apenas alguns exemplos.

Este procedimento trata-se, entretanto, de uma técnica muito antiga, utilizada desde os tempos da Grécia Antiga e da Roma Imperial.

Em todos os casos o desafio que se impõe é “o domínio” e a “domesticação da natureza pela técnica e engenharia”. Se por um lado a cidade se beneficia com os melhoramentos trazidos pela ampliação, saneamento e embelezamento das áreas conquistadas pelos aterros, por outro lado continua ou surge a ameaça de cheias do rio ou do mar, que tendem a retomar à sua margem original.

Porto Alegre passou por muitos problemas semelhantes, como a falta de área e condições sanitárias junto ao núcleo original, o qual acabou sofrendo sucessivos aterros desde meados do século XIX, fazendo com que a cidade aumentasse seus limites em relação às águas do Guaíba em três vezes sua área original. Esse fato, aliado à evolução das configurações morfológicas, acabou por marcar uma transformação paisagística gradual, mas constante, principalmente no século XX. Essa expansão que a cidade sofreu, sobre tábua rasa, permitiu aos técnicos, por vezes, dar à urbanização uma forma mais aproximada a um ideal ou modelo urbanístico, fato este, muito arraigado na tradição arquitetônica.

É o caso das duas margens que contornam o centro da cidade, de um lado, Avenida do Porto (Mauá) ou da Avenida Júlio de Castilhos, que não necessitaram demolições para suas aberturas, e do outro o Centro Administrativo, que também, não precisou observar a tipologia do entorno imediato para sua implantação.

Entretanto essas ocorrências se deram em tempos diferentes.
- Primeiramente, na margem Norte, em função de sua localização, vinculada ao porto e junto ao centro econômico da cidade.
- Posteriormente, na margem Sul em função da expansão da cidade.

O Vento

O centro de Porto Alegre se caracteriza geograficamente por uma ponta de terra que avança para o Guaíba, o lago que antes era chamado de rio. Com o desenvolvimento da cidade, essa ponta passou a funcionar como um funil, uma vez que a partir da área central os caminhos que levavam para fora se abriam em leque.

Na sua origem a escolha da margem Norte para o primeiro assentamento, tinha tido sua escolha em razão da questão ambiental, uma vez que ficava em local com boas características portuárias, na encosta de uma crista e, portanto, protegido dos ventos fortes e dominantes, que vinham do Sul.

Porto Alegre tem uma relação tão conturbada com o Guaíba que avançou sobre ele e ainda construiu um muro para escondê-lo.
Os aterros que triplicaram o tamanho da área central, produzindo melhorias, mas também efeitos adversos, a degradação do Centro.

A expansão do Centro de Porto Alegre ocorreu pela transformação de água em concreto, aterros realizados junto às margens do Guaíba durante mais de um século triplicaram a área da península e modificaram em tal grau o desenho da cidade que ele não seria reconhecido hoje por um morador de 100 anos atrás.

O vento teve um papel decisivo na história dos aterros e acabou por condicionar o atual contorno do Centro.
A força com que ele soprava do Sul estimulou a ocupação no Norte, mais protegido, tornando obsoleto o nome da Rua da Praia ainda na metade do século XIX, quando uma área roubada ao Guaíba deu origem a uma nova via ribeirinha, a Rua Nova da Praia, atual Sete de Setembro.

Do lado Sul da península havia muito descampado, mas não existia o interesse em crescer para lá por causa do vento.
Além disso, o porto era melhor na margem Norte.

Os Pequenos Avanços

Ao longo do século XIX, os aterros realizados explicam a atual Praça XV. Ali, então margem do Guaíba, funcionou entre 1844 e 1870 o mercado da cidade. Quando ele ficou pequeno, aterrou-se a área em frente para construir-se o atual Mercado Público. O prédio antigo foi demolido e abriu um vazio que se transformou em espaço público de lazer.

No início os avanços sobre o rio Guaíba e rio Jacareí (Arroio Dilúvio) se resumiam a pequenos ganhos de terra para melhor aproveitamento dos terrenos de particulares.

Até o final do século XIX, Porto Alegre teve claramente uma frente definida para o rio.



No século XIX, a primeira grande mudança no centro da capital foi o aterro que criou a Rua Nova da Praia, futura Rua Sete de Setembro.

Numa planta de 1839, de L. P. Dias, em Porto Alegre, o trecho entre as praças da Alfândega e Harmonia não é mais do que uma irregular costa de rio nos fundos das casas da Rua da Praia.

Um pouco antes do fim da Revolução Farroupilha, porém, já se começa a falar na Rua Nova da Praia (atual Sete de Setembro), que margeava o lago, justificando o seu nome.

Em 1842, o Guaíba sofre o primeiro aterro, para a construção da doca do primeiro mercado público da cidade, inaugurado em 1844.

Em 1846, o primeiro passo foi criar rampas de acesso para embarcações na embocadura das ruas Clara (João Manoel) e do Ouvidor (General Câmara).

Da metade da década de 1840 à de 1860, foram quase 15 anos de obras e aterros, desde a Praça da Harmonia até o Largo do Mercado, para a criação da Rua Nova da Praia.
Estava deflagrada uma tradição nunca mais interrompida:

“Aterrar as águas do Guaíba para expandir a área urbana”.

A faixa de terra disponível junto ao porto, delineada pela Rua da Praia, era estreita, mas até então suficiente. Depois da Revolução Farroupilha, o panorama mudou. As companhias de comércio e de navegação se concentraram nos terrenos próximos a Praça da Alfândega, valorizando as propriedades e estimulando as construções. A solução foi avançar a linha de terra e criar uma nova rua, que ligasse a Praça da Harmonia na Ponta do Arsenal, a Praça da Alfândega e o Beco do Leite (Uruguai) e Largo Paraíso (Praça XV).

Seguindo a descrição do cronista Caldre Fião:
“Casas elegantes, construídas sobre as águas da praia, iam formando já a rua nova. Assoberbada pelo lucro do comércio na cidade”.

Em 1854, a terra começaria mesmo a avançar sobre as águas. As obras começaram roubando um pedaço do rio junto ao prédio da Alfândega, onde ficava o atracadouro principal.

Conforme Saint –Hilaire, sobre o atracadouro:

“...quase na metade da Rua da Praia, existia um grande cais dirigido para o lago, uma espécie de ponte de madeira com parapeito mondada sobre pilares de alvenaria, com 100 paços de comprimento, em cuja a extremidade havia um armazém. A vista desse cais seria de lindo efeito se não houvesse sido prejudicado pela construção de um edifício pesado e feio, à entrada da ponte, de 40 passos de comprimento, destinado à alfândega”.

A Praça d’Alfândega foi o primeiro espaço urbano a ter uma intervenção plástica definida.
Durante quatro anos, a praça foi redesenhada, passando a fazer frente para o cais de pedra, com duas escadarias, assentos e parapeitos.

Em 1855, foram necessárias desapropriações para que a Rua Nova chegasse ao Largo Paraízo junto ao Mercado.

Em 1858, o trecho de aterro da Praça da Alfândega até a atual João Manoel foi feito.

Em 1861, o trecho que vai dali até a o Arsenal ficou pronto, graças tanto ao governo quanto aos proprietários, que contribuíram com aterros e paredões.

Em 1862, com o desenvolvimento da cidade e de suas funções portuárias e econômicas, vamos encontrar na próxima planta, uma nova da margem construída por aterro que passou a se denominar Rua Nova da Praia (atual Rua Sete de Setembro), e os atracamentos das embarcações que se faziam, ainda, por trapiches e rampas.

Esse Aterro apesar de ter sido pensado na sua totalidade, constituindo-se na ligação, em “linha reta”, da Ponta do Arsenal ao Caminho Novo, foi sugerido que se fosse feito de forma particular pelos proprietários.


A Câmara Municipal como solução para formação dos novos atracamentos distribuía “todos os terrenos à margem pelas pessoas que quiserem e estiverem nas circunstâncias de os aterrar e construir o cais de sua testada no prazo infalível de um ano, debaixo da pena de comissão, devendo ficar uma rua à 80 ou mais palmos entre os cais e os edifícios” de confinantes ao porto a construírem as rampas, os trapiches ou os armazéns.

Desta forma a distribuição dos novos terrenos da margem era feita pelas pessoas que quisessem ou que pudessem, o que não poderia gerar nenhuma expectativa de que essa margem viesse a se tornar uniforme e contínua.

Além desse aterro, foi feito também, um outro junto da antiga Praça dos Ferreiros ou do Paraízo (atual Praça XV de Novembro), que teve uma grande área de acréscimo para se localizar o Novo Mercado.


Esse desenvolvimento se justificou em função do fim da Guerra Farroupilha (1835-1845), da intensificação do comércio, da movimentação do porto e da “derrubada das muralhas” que cercavam a cidade que começa a permitir um entrosamento maior entre a cidade e sua região.

De 1858, até o final do século, Porto Alegre teve claramente uma frente definida para o rio Guaíba. A Praça d’Alfândega foi o primeiro espaço.”

Junto a estes primeiros aterros começou a se preocupar com embelezamento da Praça da Harmonia, sobretudo com arborização, até então desprezada, o trabalho na Praça da Harmonia foi árduo, feita por presidiários da cidade. Além de vasos de mármore trazidos do Rio de Janeiro, havia uma bomba manual que puxava água do Guaíba, nos anos 1860 funcionou um chafariz abastecido por canos, ganhou nome novo com o fim da forca, também chamada de “Praça dos Namorados”.

O presidente da Província Ângelo Ferraz, dizia:
“Que aquele lugar era o ponto mais destacado para a visão dos que entravam no porto, e o que mais penúria exibia”.

Em 1865, mesmo ano em que a Rua da Praia se tornou Rua dos Andradas, a via construída sobre o rio a Rua Nova ganhou o nome de Rua Sete de Setembro, ambas em homenagem a Independência do Brasil.

Rua Sete de Setembro

Em 1888, é feito o segundo grande aterro, entre a Rua João Manoel e o Caminho Novo e junto a Ponta da Cadeia.


Na planta de 1888, as margens se deslocavam em forma de projeto. Aqui as perspectivas de uma cidade imaginária começavam a tomar corpo com a possibilidade de se criar uma avenida que se prolongasse por toda margem Norte.


A área do mercado já não parecia um corpo avançado como na anterior, tudo começava a ficar alinhado. Além disso, a cidade já contava com arraias plenamente consolidados, prontos para em pouco tempo assumirem o status de bairros.

No Centro, a questão dos arruamentos e das construções na nova área ainda não estavam definidos.

Ao Sul da península, o Guaíba sempre foi raso, e o tempo se encarregou de assoreá-lo cada vez mais, sugerindo a idéia dos aterros na Zona Sul.

Em 1893, uma firma holandesa apresentou ao governo estadual o primeiro projeto de urbanização da Praia de Belas, e por vários anos outros projetos com a mesma finalidade chegaram a administração municipal.

No início do século XX, vieram os novos aterros e os armazéns do cais do porto.

Em 1900, antes do aterro final e padronização da orla para a construção do novo cais do porto, havia mais de 30 trapiches na área do Centro, projetando-se sobre o Guaíba e dezenas de outro trapiches junto ao Caminho Novo e Praia de Belas.


Esse caos era inaceitável para os republicanos positivistas, para os quais a cidade – sala de visitas do estado – devia ter um belo portal de entrada.

“É preciso melhorar o porto tanto do ponto de vista econômico como estético, sobretudo higiênico”.

A segunda cidade industrial do país

Em 1907, Porto Alegre disputava com São Paulo o título de segunda cidade brasileira com maior produção industrial, atrás do Rio de Janeiro.
Alargar a superfície serviu para modernizar o porto da capital.

Enquanto a capital paulista detinha 15% da produção nacional, a gaúcha tinha 14%. Um cais condizente com a condição de pólo exportador era necessário no Guaíba. Somavam-se a isso a decisão federal de modernizar os portos, vistos como propagadores de doenças, e o interesse da administração do Estado de tornar Porto Alegre um cartão de visitas.

Aterros na margem Norte

No princípio, as intervenções urbanas se concentravam na área mais central da cidade, especialmente junto à margem Norte, em um processo que se iniciou de forma difusa em meados do século XIX.

Nesta ocasião, este aterro estava ligado também à preocupação com o saneamento e a reestruturação urbana, buscando, através de amplas reformas e extensões do tecido urbano, eliminar áreas insalubres como becos, cortiços, ruas estreitas e sem rede de esgoto ou abastecimento de água, áreas ribeirinhas e malocas.

O Positivismo Inspirador

A jovem república trouxe ao poder do estado um governo fortemente centralizador, de nítida inspiração na “doutrina positivista” de Augusto Comte. Sua primeira e mais singular figura foi Júlio de Castilhos, que escreveu a constituição republicana do Estado, e foi primeiro governador, acompanhado por Borges de Medeiros, fiel seguidor de suas idéias, que permaneceu no governo por mais de 30 anos.

Porto Alegre Cresce

Com este grupo, o cenário político rio-grandense sofre uma grande virada, deslocando pela primeira vez o foco dos interesses do campo para a cidade. A questão urbana estava na ordem do dia.
Este governo era formado pela parte dissidente da oligarquia rural que aos poucos se desvinculava do campo para formar vínculos com a cidade e por industriais, pequenos e médios comerciantes, funcionários públicos, além dos pequenos proprietários rurais das colônias alemã e italiana. Dentre a sua pauta política, havia a questão dos transportes, traduzida na interligação de todo estado por uma malha rodo-hidro-ferroviária. Isso implicava, entre outras coisas, na reformulação do porto e na construção de um novo terminal ferroviário na cidade.

Tais obras vieram junto com uma política de modernização dos portos brasileiros, do governo federal, integrado a um projeto de reformulação da cidade como um todo. Momento esse, que permitiu que engenheiros e demais técnicos da secretaria de obras tivessem um papel muito importante dentro do projeto político positivista do governo republicano de Borges de Medeiros.

Borges de Medeiros

Um dos grandes objetivos era a transformação da capital em uma cidade que estivesse em consonância com o que ocorria no exterior, tornando-a, através das obras viárias, de saneamento e embelezamento, na ‘sala de visitas do estado’. Nesse contexto surgiu pela primeira vez, a necessidade de se elaborar um “plano urbanístico” que ordenasse as ações e definisse as diretrizes do crescimento da cidade.

O Legado

O governo autoritário que buscava reafirmar sua identidade procurou deixar sua marca na cidade através de um urbanismo, com forte apelo formal e pretendendo, ao mesmo tempo, buscar referências com as nações mais evoluídas, das quais emprestava o modelo.

Plano Maciel

Em 1909, José Montaury de Aguiar Leitão, intendente (Prefeito) caracterizou-se por uma visão de futuro e muitas das transformações fundamentais de Porto Alegre foram por ele conduzidas. Talvez a mais significativa tenha sido a implantação do serviço de primeiros-socorros já em seu primeiro mandato. Porto Alegre foi a primeira cidade do Brasil a implantar tal serviço. A primeira rede de esgotos da capital também foi construída em seu governo (como resultado, a mortalidade infantil caiu de 32,2% para 17,9%).

Foi em seu governo que serviços públicos como: - iluminação e transporte ganharam seu primeiro grande impulso. Pavimentação, construção da vias largas e arborização também foram medidas tomadas pelo prefeito, que encomendou um “projeto de melhoramentos” da cidade ao engenheiro-arquiteto João Moreira Maciel, que refletia os preceitos fundamentais do urbanismo haussmanniano: - sanear, circular e embelezar. O plano que era abrangente, englobava bairros além da área central. Envolvia a margem Norte, cobrindo o projeto de modernização do porto, que já vinha sendo realizado pela Secretaria de Obras do Estado, propondo o tratamento de seu entorno, local onde deveriam ser implantados novos equipamentos e serviços, além de diversas obras de melhoramentos e embelezamento.

Se o Plano de Melhoramentos parece distante daquele feito por Haussmann em Paris, ou mesmo pelo de Pereira Passos no Rio de Janeiro, não podemos esquecer que o mais importante para o estudo em questão, não é propriamente o resultado, nem a concretude do que foi executado, mas a identificação do paradigma que serviu de base ao Plano de Maciel. As diferenças de contexto como limitações orçamentárias, padrão cultural e econômico muito diverso, e implicaram uma adaptação considerável do tipo de intervenção, como bem coloca Maciel:

Melhorar, Conservando”, tal foi o critério que adaptamos no estudo do projeto que nos vae occupar. Não é possível pretender actualmente a abertura de avenidas largas na parte central da cidade, como seria nosso desejo, pois isso importaria em despesas muito pouco compatíveis com os recursos actuaes da Municipalidade; e mesmo por que o futuro da cidade terá muito para onde se estender e a attenção da Intendência deverá voltar-se para a parte suburbana, e a não compreendida no actual plano, para evitar o
que agora se pretende fazer com grandes sacrifícios.


Problema do Brasil: - A Demora

O referido plano não teve uma implantação tão rápida quanto se desejava. A principal Avenida, a Borges de Medeiros, que unia margem norte à margem sul, assim como a Avenida Júlio de Castilhos paralela a margem, só teriam início 10 anos mais tarde.

Outras obras só foram realizadas na administração de Loureiro da Silva (1940) e outras ainda, somente na administração Tompson Flores (1970).

O projeto da Praça d’Alfândega, posto que, esta era o principal acesso da cidade para quem chegava, de longe, por barco, era prioritário havia tempo.

Antes mesmo do projeto do porto, aquele logradouro fazia parte da margem Norte, que não passava de um litoral mal definido, com inúmeros avanços e trapiches particulares. Tratavam-se de empresas que faziam o serviço de transporte de mercadorias e passageiros entre o interior e a capital e entre esta e o restante do país e exterior. Segundo relatos da época, as condições de salubridade destes locais estavam muito aquém do desejado.

“A construção de um cáes no littoral do porto é uma antiga e legitima aspiração dos seus habitantes. Já tive a occasião de demonstrar em meus relatórios anteriores as suas vantagens commerciais, hygienicas e estheticas.(relatório Porto, p. 45)

No centro daquela praça também se encontrava, como deixa claro seu nome, a Alfândega, que estava precariamente instalada em um prédio bastante singelo do início do século XIX.

O Grande Projeto

O Projeto Maciel mostra a intenção de conectar a Praça d’Alfândega à Praça da Matriz, no alto da cidade, onde estão o Palácio Piratini, a Câmara e a Catedral Metropolitana. Daí se explica o gabarito da Avenida Sepúlveda com canteiro central marcado por palmeiras - ela deveria fazer tal conexão.

Nesse contexto foi pensada a nova Praça da Alfândega, um local fortemente representativo, com imponentes prédios públicos à sua volta. Ali foram instalados a nova Alfândega, a Delegacia Fiscal (atual Margs), os Correios e Telégrafos (atual Memorial do Rio Grande do Sul) e a Fazenda.

A praça, ampliada pelos aterros, foi ajardinada ao estilo das praças francesas, tendo um eixo central formado aquele da Avenida Sepúlveda. Esta conecta a praça ao portão do cais, uma estrutura de ferro e vidro trazida da França, a qual marca o local de embarque e desembarque dos passageiros.

“...a avenida em questão além de vir a concorrer para o embellezamento da capital, estabelece uma communicação muito conveniente entre a parte baixa e a parte alta da cidade, e sua importância será ainda maior (...) si o Governo do Estado conseguir (...) construir o trecho de cáes com escadarias, para movimento de passageiros no porto.”

A reformulação da Praça da Alfândega passou a fazer parte dos esforços do governo no sentido de embelezar a cidade e transformá-la no hall de entrada da sala de visitas do estado, a que deveria se tornar Porto Alegre, segundo os políticos da época.
Até aquele momento, não havia na cidade local adequado para a recepção de seus visitantes.

“Não há em Porto Alegre um local disposto convenientemente para este fim, podendo-se notar que o embarque e desembarque de pessoas de elevada posição social que a visitam, como dos viajantes em geral, faz-se pelo interior de trapiches cujo fim exclusivo é a manutenção de mercadorias.”

Início das Obras

Em 1911, as obras começaram como seqüência natural de obras que o governo do Estado fazia na barra de Rio Grande e no sistema de navegação da Lagoa dos Patos.

Em 1913, o primeiro trecho de cais, de 140 metros, junto ao portão geral, ficou pronto.

Implantação do Plano Maciel

Em 1914, em nome do “higienismo e do embelezamento” o urbanismo deixou suas marcas nessa margem. A zona do porto foi iniciada ainda na administração do intendente José Montaury, sendo difícil precisar a data de abertura de algumas de suas ruas, já que o processo de re-urbanização se dava em escala nunca antes vista. As novas ruas foram implantadas paralelas à Rua da Praia (Andradas) e as já existentes tiveram seus alinhamentos redefinidos, assim como as transversais que foram prolongadas e alargadas até a nova margem, definida pela Avenida Marginal (do Porto ou Mauá).

Estas avenidas foram pensadas em conjunto, com uma tipologia de edificações formada por edifícios de 5 andares e construídos no alinhamento, observando sempre a proporção entre a altura destes e a largura da via para uma boa ventilação e iluminação. Tal modelo servia tanto para ruas menores como para as largas avenidas, com canteiros centrais definidores de eixos, sendo conhecido como rua corredor.

A linguagem arquitetônica, do início do século, era o ecletismo, estilo esse adotado por inúmeros prédios, os quais muitos deles permaneceram como remanescentes pela cidade. Ao contrario do que possa parecer, a questão da estética ou da forma arquitetônica, não era algo de menor importância dentro do plano, mas um tópico que mereceu destaque do seu autor, posto que este clamava por criatividade, buscando sair do marasmo da mediocridade.

“As duas avenidas em questão, (referindo-se à avenida do Porto e Júlio de Castilhos), além de constituírem o centro commercial do futuro, seriam o ponto chic do smartismo porto-alegrense, e portanto necessário se faz que a Intendência formule lei especial para só permittir que se levantem edifícios de certa natureza, certa altura, e obedecendo certas linhas architectonicas, para desta forma constituírem desde logo uma norma para que outros edifícios congêneres modificassem a actual construcção da capital, que deixa muito a desejar, sobre tudo pelo lado esthetico.” (Maciel, 1914).

O Plano de Melhoramentos municipal projeta o novo cais e prevê o avanço em direção ao Guaíba por mais dois embelezados e modernos quarteirões, cortados por largas avenidas: - Siqueira Campos, Júlio de Castilhos, Mauá.

- No Plano Maciel, já era prevista o aterro junto a Praia de Belas e a construção da Avenida Beira Rio.

As diferentes paisagens urbanas que uma cidade apresenta não são frutos do acaso, como pode parecer à primeira vista, mas é o resultado de uma série de políticas do poder público para modelar e regular a cidade.

Dessa maneira, ao caminhar pelo centro de Porto Alegre, o observador pode perceber suas ruas estreitas e edificações dos mais variados períodos; construídas no alinhamento; a zona portuária da margem Norte, com avenidas largas e retilíneas, apresentando diversos prédios imponentes.

Em 1916, foi feito aterros no novo porto e junto a foz do Arroio Dilúvio, que aproveitava o próprio assoreamento.

Em 1919, foram retomadas as obras do porto.

Em 1921, outros 490 metros foram completados, com aterros entre o portão geral do porto e a Rua Marechal Floriano.

Junto a estes aterros foram abertas novas avenidas como a Júlio de Castilhos e Mauá, Siqueira Campos e várias transversais.

Em 1921, o cais do Porto Mauá é inaugurado.

- Apesar dos efeitos adversos, os aterros permitiram a modernização do porto, concederam espaços para a expansão da área central e facilitaram o acesso à região.

Vinte anos mais tarde, o intendente Otávio Rocha, que administrou Porto Alegre de 1924 à 1928, ainda insistia na questão, dizendo:

“É preciso modificar o nosso código de construções para evitar as edificações em desacordo com o progredir da cidade (...) Em certas ruas é preciso estabelecer-se tipos de construção que venham embelezar a nossa urbs e atestar a capacidade dos nossos construtores, evitando monstruosidades arquitetônicas.”

Entre 1924 e 1943, a abertura da Avenida Borges de Medeiros, ligara ao Centro aquele ponto de tímido desenvolvimento e criara as condições para seu aproveitamento e para a integração da Zona Sul à cidade.

Em 1927, foi feito os aterros complementares para a solidificação do porto de pedra junto ao Centro.

Em 1928, o presidente do Estado Borges de Medeiros se orgulharia de deixar pronto 1.652 metros de cais, com dez armazéns e 22 guindastes elétricos.


A Entrada Monumental da Cidade
Ao descer do navio, o visitante ultrapassava o pórtico, e caminhava junto a Avenida Sepúlveda em direção a Praça Senador Florêncio, passando pelos grandes prédios, Alfândega, Secretária da Fazenda (em primeira fase), Delegacia Fiscal, Correios, o entorno da praça, seguindo se visitante ao Grande Hotel, na esquina da Rua da Praia com Rua Calda Junior.

O novo porto, além de melhorar o escoamento da produção industrial crescente, enfim podia ser considerada a porta de entrada da cidade que estava sendo construída a imagem da elite.

Nesta época com os novos espaços aterrados, havia só na península, triplicado a área do Centro.

Estudo da Urbanização de Porto Alegre

Em 1938, a proposta de uma zona residencial em terreno criado sobre o Guaíba foi apresentada por Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Faria.
A Praia de Belas era uma região estagnada.

O engenheiro Edvaldo Pereira Paiva, juntamente com seu colega Luiz Arthur Ubatuba de Faria, à frente da Secretaria de Obras do município, elaboram um trabalho que se intitulou Contribuição ao Estudo da Urbanização de Porto Alegre. Aqui aparece pela primeira vez uma proposta de conjunto para a criação de um bairro residencial sobre um extenso aterro na enseada da Praia de Belas.

O modelo urbanístico adotado apresentava forte influência do plano do Rio de Janeiro de 1930, sob coordenação do urbanista francês Alfred Agache. O sistema de avenidas definidoras de eixos e articulados por rótulas que serviam como pontos focais, ruas bem configuradas por quarteirões fechados e compactos, eram características do urbanismo formalista da escola francesa então em voga.

À semelhança do plano do Rio de Janeiro, este apresentava um imponente conjunto de espaços abertos e prédios naquilo que seria a Entrada da Cidade, na Ponta do Gasômetro, numa correspondência direta com a Porta do Brasil do Plano de Agache.

Outro elemento semelhante era o Parque da Confluência, largo localizado na foz do Arroio Dilúvio canalizado, para onde também convergiriam uma série de avenidas à maneira da Place Etoile, de Paris e ainda do projeto do Rio de Janeiro.

Os quarteirões desenhados no aterro da Praia de Belas apresentavam espaços verdes em seu interior, tendo o sistema viário uma hierarquia característica dos planos modernos.

Junto ao Guaíba foi projetada uma avenida marginal de grande gabarito, elemento este já previsto no Plano de 1914 e que permanecerá em todas as propostas futuras. As perspectivas que este estudo traz mostram uma grande preocupação com a imagem urbana. Assim aparecem grandes avenidas em perspectiva convergindo para largos ladeados por prédios “art deco” muito característicos daquele período e monumentos marcando os pontos focais da perspectiva, constituíam-se nas radiais. Defendendo o sistema dos perímetros de irradiação, esse estudo mostra uma nítida influência das propostas de Prestes Maia para S.Paulo.

Por outro lado, no discurso que Edvaldo Pereira Paiva faz para justificar os objetivos do projeto, ele se apóia nos conceitos de embelezamento e salubridade, da mesma maneira que seus antecessores. Para ele, o atraso em que se encontrava a Praia de Belas era resultante das más condições higiênicas, isolamento das grandes vias de tráfego e seu completo abandono.

Na apresentação do plano ele expõe a idéia do novo bairro residencial:

“Um dos projetos de extensão previstos por nós para Porto Alegre Maior do futuro, é o da construção dum novo bairro residencial na Praia de Bélas com conseqüente saneamento e embelezamento dêsse litoral.”

Uma questão a ser colocada é o porque deste bairro ser construído sobre uma área aterrada, e não numa extensão urbana qualquer, já que a cidade possuía muitas áreas livres ou pouco densificadas para seu crescimento. Há de se levar em conta as dificuldades técnicas e o alto custo financeiro de tal empreitada. Edvaldo Pereira Paiva mostrava estar atento a esta problemática e fazia ele mesmo tal questionamento:

Quais seriam as vantagens que nos levaram a pensar na construção dum bairro residencial no local citado, apesar do grande aterro necessário, e quando a cidade tem tantas zonas quasi despovoadas?

Sua proximidade com o Centro seria um aspecto altamente positivo, possível a partir de então pela importante ligação com a margem Norte, através da abertura da Avenida Borges de Medeiros.

Plano Diretor de Gladosch

No ano de 1939, o então prefeito Loureiro da Silva contratou o arquiteto Arnaldo Gladosch, que havia trabalhado com Agache no Rio, para elaboração de um Plano Diretor para a cidade. Este aproveitou os estudos realizados anteriormente pelos dois urbanistas locais: - Edvaldo Pereira Paiva e Ubatuba de Farias. Na apresentação do Anteprojeto do Plano Diretor ao Conselho, enumerando as radiais que compunham o sistema viário radial principal, destacou a avenida da margem (sobre o aterro) como fundamental:

“Chegamos finalmente à última das grandes vias radiais: a Avenida Beira Rio. Esta artéria principal, além de desempenhar no futuro uma ação fundamental para todo o tráfego da zona sul da cidade, virá conduzir o povo de Porto Alegre aos jardins que margearão o Guaíba.”

Sua pretensão era transformar a margem em uma orla ajardinada. Ele inclusive expõe uma justificativa sobre o assunto, dizendo que a situação de uma cidade como Porto Alegre à margem de um rio conduz naturalmente à pressuposição de uma orla ribeirinha com exuberante vegetação.

Continua dizendo que a cidade não tirava vantagem alguma de sua situação favorável à margem do Guaíba e que seus habitantes não o usufruíam apenas por falta absoluta de avenidas marginais arborizadas ou jardins públicos atraentes e convidativos.

O Riacho

Este projeto das margens não poderia se desvincular de um outro na mesma região que era a canalização do Riacho (Arroio Dilúvio). No seu leito inicial, a sua desembocadura se dava na praia do Riacho, junto à Rua Pantaleão Teles (atual Avenida Washington Luís), passando pela Ponte de Pedra que se integrava ao arruamento da cidade através da Rua Cel. Genuíno.


O riacho correndo próximo e em direção ao Guaíba, deixava para as margens um problema muito sério de alagamentos e insalubridade. Daí a grande preocupação de se adequar e qualificar este local. Para Arnaldo Gladosch, este era o problema número um da cidade.

O Problema nº 1

O grande problema, o nº 1 de Porto Alegre, é o aproveitamento, para urbanização, das grandes áreas marginais do Riacho.             “Áreas estas atualmente insalubres, sujeitas à inundações pela enchentes do rio e que, portanto, representam um sério entrave à desejável continuidade do desenvolvimento da zona urbana da cidade. (...)”                      

Por este motivo que, uma vez assentado o anteprojeto do Plano Diretor em suas linhas gerais, iniciamos os estudos mais detalhados deste plano de saneamento e urbanização da Praia de Belas e canalização do Riacho, da Ponte da Azenha ao Guaíba.

Tratava-se de uma área de 140 ha com baixíssima taxa ocupação (40 hab/ha) e que ficava apenas a dois quilômetros, distante do Centro. Depois de saneada, Arnaldo Gladosch estimava que poderiam ser construídas moradias para 300 hab/ha, ou seja, para uma população de cerca de 42.000 pessoas.

“Além disso, seria construída uma antiga aspiração do povo porto-alegrense: a construção da Avenida Beira Rio, com seus jardins marginando o Guaíba, e dando ao mesmo tempo aos inúmeros moradores das zonas de Cristal, Tristeza, etc., um acesso direto à cidade”.

Continua defendendo o aterro da área:

Trata-se de uma obra de grande vulto, mas facilmente exeqüível, uma vez que, como demonstra o nosso projeto, se conquiste ao rio Guaíba uma superfície de terreno destinada futuramente a construções, cujo valor compense as despesas para a realização das necessárias obras de saneamento.(...)

Permuta das Areas

Apesar de afirmar que a primeira vista parece não ser lógico conquistar terreno ao rio, uma vez que existe uma vasta área a ser aproveitada fora daí, ele insiste que esses terrenos representam a principal base para execução desta grande obra, por que sem eles seria impossível um trabalho completo. Arnaldo Gladosch introduz a idéia de permuta das áreas a serem saneadas, pelas novas conquistadas mediante aterros, evitando assim o alto custo das desapropriações.

“Desta forma obteríamos uma desocupação gradativa das áreas necessárias sem uma inútil desapropriação de benfeitorias, de valor muito duvidoso e difícil de ser fixado.”

Diques Elevados

Arnaldo Gladosch pensou também em criar um sistema de proteção contra enchentes através da elevação das vias principais, resultando num sistema de diques, sistema este mais tarde adotado.

“Não sendo economicamente realizável um aterro geral dessas partes, projetamos elevar uma faixa das margens, tanto do Guaiba quanto do canal do Riacho, a um nível superior as águas máximas, formando dessa forma uma barragem contínua contra as inundações.”

O traçado do arruamento geraria quadras de 60 a 70 metros de largura por 200 a 250 metros de comprimento, “sempre que possível” e lotes de, no mínimo, 12m de frente, por 30 a 35 metros, no máximo, de fundos.

Na década de 1940, a margem Sul começa a ser ampliada. Os primeiros estudos de planos para a cidade já traziam propostas para a Praia de Belas como o Plano Maciel de 1914.

A Enchente

Em 1941, as centenas de hectares aterrados também deixaram um legado sombrio: - favoreceram a traumática enchente 41.

A região central era originalmente um morro estreito que se projetava para dentro do Guaíba, tendo como cume a atual Rua Duque de Caxias. As margens iam até a Rua da Praia, na face norte, e a Rua Washington Luís, no lado sul. A demanda por novos espaços originada do crescimento da cidade e a necessidade de qualificar o porto desencadearam a realização dos aterros - primeiro promovidos por particulares interessados em valorizar seus terrenos, mais tarde planejados pelo poder público.

Com as vantagens, eles trouxeram conseqüências negativas, que ainda reverberam no cotidiano de cada morador da cidade. Por ter sido feita na mesma cota da margem, a imensa área plana entre a Rua Sete de Setembro e o Guaíba tornou-se vulnerável a inundações.
Os porto-alegrenses não demoraram a perceber isso.

- Na célebre enchente de 1941, a região aterrada ficou submersa.

Retificação do Dilúvio

Em 1942, com o início da retificação do Rio Jacareí (Arroio Dilúvio), que deslocou sua foz, possibilitou a expansão da margem do Guaíba a partir da Rua Washington Luis.


Nota:
- A canalização do Arroio Dilúvio e construção da Avenida Ipiranga. Uma das maiores obras da América Latina na época e a maior intervenção urbana da cidade até então.

Plano 43

Em 1943, as idéias de Arnaldo Gladosch e Edvaldo Pereira Paiva sobre a Praia de Belas, incluídas no Plano 1943, acabaram não sendo executadas naquela gestão, deixando para futuras administrações essa empreitada, tendo apenas dado início à canalização do Riacho. Esses estudos, ainda muito presos ao saneamento e à higiene, demonstraram uma capacidade de análise muito mais ampla e profunda da problemática urbana, do que os primeiros estudos para a margem Norte. 



A Volta de Paiva

Nos anos 1950, Edvaldo Pereira Paiva volta à cena e coordena o desenvolvimento de outro plano para a cidade. Seu pensamento acompanhou a evolução da ciência urbanística, sendo ele integrante do grupo de técnicos mais vanguardistas de sua geração.


Isso se torna bem perceptível pela análise da evolução de seus projetos para a Praia de Belas.

Plano 59

No ano e 1951, nos estudos para a urbanização da Praia de Belas, de autoria de Edvaldo P. Paiva e Carlos Maximiliano Fayet e publicados pela revista Habitat, foram lançadas as diretrizes adotadas pelo Plano de 1959 para aquela área.


Nele podemos ver que a zona mencionada seria destinada exclusivamente para as funções residencial e turística. Nas áreas aterradas, o sistema viário não seria tratado como um prolongamento do que aqueles urbanistas chamavam de traçado obsoleto da cidade, “mas com uma nova concepção orgânica de traçado, baseada na criação de unidades vicinais, de tamanho adequado, de caráter residencial, não atravessadas por vias de tráfego.”

Além das habitações propriamente ditas, haveria a disposição de equipamentos de serviços comuns em pontos de fácil acesso dentro do bairro. Haveria um zoneamento de utilização dos imóveis, da altura e do volume das edificações, conforme a posição dos terrenos, seu tamanho e valor.

As grandes avenidas receberiam os edifícios de maior altura, com estacionamentos próprios, ligados às escolas e centros locais, criando uma zona de alta densidade. Já o interior das unidades teria baixa densidade, trânsito estritamente local e muito verde. A circulação dos pedestres se daria por vias próprias, separadas das de veículos, compondo um sistema viário completamente diferenciado.

Chama atenção a proposta de uma unidade diferente das demais, localizada no centro do projeto, próximo ao núcleo da cidade, composta por um conjunto de grandes edifícios residenciais de 20 pavimentos dispostos no interior de um parque de 22 ha de uso público. Esta é a unidade do projeto que mantém a maior vinculação com o urbanismo modernista, pela implantação dos prédios em terrenos de uso público e sem subdivisões em lotes e pela grande escala adotada.

Um conjunto de parques lineares entre a Avenida Beira Rio e a nova linha do litoral receberiam os principais equipamentos de lazer e esportes, divididos em dois grandes conjuntos.

- O primeiro estaria concentrado em torno da baía artificial criada acima da desembocadura do arroio Dilúvio e contaria com um estádio para 100 mil espectadores acompanhado de grande ginásio coberto, iate clube e cassino.

- O segundo, ao longo da Avenida Beira Rio, seria formado por três grupos de balneários em dois níveis (o nível da avenida, com bares e restaurantes e nível da praia, com os vestiários).

No entanto, as idéias mais ousadas inicialmente concebidas acabaram por serem modificadas ou adaptadas ao contexto da cidade e muitas delas parecem ter sido simplesmente descartadas.

Por fim, o projeto foi implementado de maneira parcial e com muitas alterações de modo que os conceitos inicialmente pensados acabaram por serem perdidos.

A atual paisagem da Praia de Belas resulta da aplicação parcial do projeto contido no Plano de 59. No local pode se ver apenas um conjunto de edifícios de 3 pavimentos com um sistema viário local, diferenciado e segregado do restante da malha urbana, constituindo massas edificadas bem uniformes. Esse conjunto corresponde às edificações de pequeno porte pensadas para as áreas interiores das unidades, que, junto com o Parque Marinha do Brasil e a Avenida Beira Rio são os únicos elementos do Plano da Praia de Belas, verdadeiramente implantados, parcialmente.

Os demais equipamentos como escolas, comércio, áreas de lazer e esportes, além dos prédios altos ao longo das avenidas e do conjunto residencial diferenciado não foram implantados.

Em 1953, o plano definitivo do aterro e do bairro Praia de Belas ficou pronto.

- Foi realizado o aterro junto a orla do Cristal; da Ponta do Mello a Ponta do Dionísio, para a construção do Hipódromo do Cristal.



Em 1954, é feito o aterro junto a Rua Voluntários da Pátria para construção da continuação do porto o “Cais Navegantes”, da Estação Ferroviária até a Igreja dos Navegantes.




Em 1955, a Câmara de Vereadores aprovou o plano definitivo para a Praia de Belas. Era de autoria dos urbanistas Edvaldo Pereira Paiva e Carlos Fayet e já projetava a criação de um parque e da futura Avenida Beira Rio.

Em 1956, começou a intervenção, na margem sul do Centro.

Em 1956, estava pronto o grande alargamento da área próxima a Rua Washington Luis, e afastando a orla de seu contorno primitivo, avançando um grande leito sobre as águas, junto a Praia de Belas.


Na extremidade junto ao Asilo Padre Cacique será construído o Estádio Beira Rio do Sport Club Internacional, quase dentro d’água no primeiro momento da construção.

Em 1956, o terreno doado ao Sport Club Internacional consistia de uma pequena porção das águas do Guaíba, pois o aterro só teve início em 1958.


Em 12 de setembro de 1956, a construção do Gigante da Beira-Rio, projeto do ilustre vereador colorado Ephraim Pinheiro Cabral, iniciou-se quando foi doado o terreno onde seria construído o estádio.

Em 1959, as primeiras estacas do Sport Club Internacional foram colocadas. 



Primeiro Plano Diretor

Em 1959, no primeiro Plano Diretor foi marcado pelas idéias do urbanismo racionalista e funcionalista do movimento moderno, claramente inspirado nos pressupostos da “Carta de Atenas”. Eram traduzidas por um sistema de vias expressas e grandes edifícios em altura isolados no terreno. Sua realização vai ocorrer ao longo da década de 1960, intensificando-se na década de 1970.

Neste aterro foi destinado uma grande área para a implantação do novo Centro Administrativo do Estado, na desembocadura do Riacho, também aterrada. O projeto definiu uma área residencial com uma nova concepção para ser implantada na Praia de Belas, ao longo do prolongamento da Avenida Borges de Medeiros, esta proposta no Plano de 1914 e retomada por Edvaldo Pereira Paiva e Arnaldo Gladosch.

Apesar de o Plano Diretor contemplar toda a área compreendida pela 3ª  Perimetral, foi na área conquistada ao rio pelo aterro que ele melhor pode expressar os seus princípios e aplicar o modelo urbanístico.

No aterro da Praia de Belas estava previsto um bairro residencial planejado, seguindo os postulados modernistas preconizados pelos CIAM’s e pelo seu expoente, Le Corbusier.

Sobre o projeto para a Praia de Belas, refere-se Edvaldo Pereira Paiva nos seguintes termos:

“Essas são as características do projeto aprovado e em vias de execução imediata. Traçado racional, econômico e salubre. Conservação da integridade do terreno, continuidade de jardins e parques. Boa e uniforme orientação das vivendas. Caminhos próprios para os pedestres, protegidos e separados do trânsito veicular. Segurança e amplitude do espaço livre, para uso das crianças e recreio dos adultos.
A futura Praia de Belas assim concebida adquirirá uma fisionomia totalmente distinta dos outros bairros da capital rio-grandense. A própria vida de seus habitantes adquirirá, seguramente, outro caráter. A natureza entrará a formar parte do ambiente cotidiano. Árvores, ar puro e sol deixarão, assim, de ser meros acidentes na vida do homem urbano.”

Na linha do céu, o palácio e a catedral inacabada. 
Ao centro, a ACM. À direita, o prédio do GBOEx em obras.
Foto: Revista do Globo, Reprodução – set.1964

O conceito modernista de disposição das edificações em super-quadras com uma maior liberdade de implantação em relação à rua não foi adotado nas “unidades” residenciais. O parcelamento do solo e os alinhamentos não fogem do padrão convencional. Os “super-quarteirões” de 15 a 20 ha foram subdivididos em quadras e lotes de tamanho bastante modesto e convencional (15 por 30 metros nos lotes internos, sendo maiores ao longo das avenidas).
Haveria prédios de 11 metros de altura nas ruas secundárias e 49 metros nas novas avenidas, com um mínimo de 10 pavimentos, com recuos de 6 metros de frente e fundos e 4 metros nas laterais.

- Poucos foram os quarteirões que saíram como o previsto. Na medida em que aterrava, a prefeitura percebeu que não ocorria uma comercialização dos lotes como a prevista. A saída foi mudar a destinação do aterro.

- No final, essa grande obra ficou inconclusa - diz a arquiteta e professora da PUCRS Maria Dalila Bohrer, autora da dissertação de mestrado.
O aterro Praia de Belas e o aterro do Flamengo, no Rio.

Em 1961, o insucesso do plano deduziu 100 hectares da área a ser aterrada.

Primeiros prédios residenciais sobre o aterro na Praia de Belas
Entreposto de Frutas e Verduras, que já não existe.
Foto: Revista do Globo, Reprodução – set.1964

Grande enchente no aterro Menino Deus - 1967

Lei de 1970, revogou o projeto do novo bairro Praia de Belas.
Optou-se por criar dois grandes parques:
- Maurício Sirotsky Sobrinho,
- Marinha do Brasil.

Centro Administrativo

Na década de 1970, dentre as mudanças ocorridas, uma das mais significativas está na implementação do Centro Administrativo do Estado na área imediatamente ao Sul do Centro Velho da cidade. Este conjunto, que não estava previsto no Plano de 1959, foi implantado e veio a marcar a paisagem da cidade em definitivo.


Às voltas com uma infinidade de hectares sem função, as autoridades levaram para lá órgãos públicos, como o Centro Administrativo e a Câmara Municipal.

Nota:
Segundo o professor de história da PUCRS Charles Monteiro, a remoção de repartições ajudou a degradar o Centro a partir dos anos 1970.

Formado por prédios públicos e governamentais de grande porte soltos no terreno, implantados numa vasta área verde recortada por vias expressas, este conjunto se distingue totalmente do restante do compacto tecido urbano. A escala é a do automóvel, a monumentalidade e a forma das edificações, resguardadas as particularidades, lembram Brasília, modelo que serviu de inspiração.

O Centro Administrativo, foi o exemplo mais significativo da arquitetura e do urbanismo modernistas em Porto Alegre, constitui-se, entretanto, de um projeto isolado.

Muro da Mauá

Em 1974, como conseqüência da enchente de 1941, a necessidade de proteger a região aterrada levou à construção do Muro da Mauá, que divorciou o Centro e o Guaíba e serviu de ingrediente na receita que deteriorou a região central.

Nota:
- O geógrafo Cícero Castello Branco Filho, que concluiu em 2005 dissertação de mestrado sobre a orla, aponta outro efeito nocivo dos aterros. Realizados com terra retirada do fundo do Guaíba, eles deixaram imensos buracos no leito, do cais até a margem do Parque Marinha do Brasil. Mesmo que o trecho seja despoluído, não será seguro para banho.

- Se fosse possível secar o Guaíba, veríamos buracos muito profundos preenchidos por lodo e lixo - diz.

O Grande Aterro – o que fazer ...

Em 1976, foi realizado concurso para a orla aterrada. O projeto vencedor previa aquário, cais turístico, bar flutuante e ilha artificial - jamais realizados.



Em 1976, é feito o grande aterro gerando o bairro Praia de Belas junto ao Menino Deus, da antiga foz do Riacho até o Asilo Padre Cacique, ganhando espaço para a construção do Parque Marinha do Brasil e do ginásio Gigantinho do Complexo do Sport Club Internacional.


O geógrafo Cícero Castello Branco Filho avalia:

A área aterrada ainda é uma zona pouco utilizada, não incorporada plenamente ao espaço urbano. Hoje a região tem um uso interessante para a cidade, mas gerou um impacto negativo na paisagem.
Ilhas foram engolidas pelo aterro e perdeu-se uma bela baía.


O jornalista e escritor Carlos Reverbel gostava de relatar a reação que o aterro gerou em um antropólogo norte-americano que esteve em Porto Alegre durante as obras.

- Vocês estão estragando uma das paisagens mais bonitas do mundo. É pena que não se possa comprar a paisagem e transportá-las para países que saibam admirá-las e preservá-las.


1972
1975

Em 1978, atingiu 200 dos 300 hectares previstos.

- Abrange a região que vai da Rua Washington Luís até o Arroio Dilúvio e da Rua Praia de Belas até a costa.

- Foram feitos os últimos aterros, que incluíram:
- Dique de Proteção Contra Enchentes, sobre o qual foi construída mais tarde a Avenida Beira Rio (do Centro a FEBEM, atual FASE) ao Sul,
- ao Norte foi construída a Avenida Castelo Branco (do Centro a Travessia Getúlio Vargas) e a BR 290 (Freeway) em direção a divisa com Cachoeirinha.

Os aterros se encerram sobre o Guaíba

- O último grande avanço sobre as águas do Guaíba, acrescentou 460 hectares, preenchendo o espaço do Estádio Beira Rio até a Ponta do Mello, no local do antigo Estaleiro Só.



Revitalização da Orla do Guaíba

Apresentado para a população da Capital em outubro do ano passado, o projeto de revitalização da Orla do Guaíba, desenvolvido pelo escritório do arquiteto paranaense Jaime Lerner, deve começar a se tornar realidade ainda neste semestre. O secretário de Desenvolvimento de Assuntos Especiais do município, Edemar Tutikian, garante que a licitação para a obra dos 1,5km iniciais deve ser lançada até junho. “O projeto de revitalização está em sua fase final e esperamos que, nos próximos 60 dias, esteja tudo aprovado. Pretendemos divulgar a licitação ainda neste semestre”, afirma.

A previsão inicial da prefeitura era concluir a primeira parte da revitalização em 2013. A intervenção, que deve durar cerca de dez meses, tem custo de R$ 60 milhões. A revitalização total contemplará 5,9km de orla, indo desde a Usina do Gasômetro até a foz do Arroio Cavalhada.

Desde o final de 2013, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) analisa cerca de 4,5 mil itens da proposta. “Há um acordo entre prefeitura e o TCE para que todo o trabalho desenvolvido seja revisado antes do lançamento da licitação. O trabalho é demorado pela sua complexidade”, explica Tutikian. De acordo com a assessoria do TCE, o órgão avaliou a minuta do edital de licitação e encaminhou diversos questionamentos para a prefeitura. Como as dúvidas foram respondidas parcialmente, ainda são esperadas mais respostas da administração municipal.

O projeto de revitalização da Orla foi marcado por diversas polêmicas antes mesmo de sua definição. A contratação do escritório do arquiteto Jaime Lerner por notório saber, sem a realização de licitação, foi criticada pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e durante a audiência pública realizada na Câmara de Vereadores.

Segundo informações do IAB, a contratação feita pela prefeitura pagou ao escritório R$ 2,1 milhões pelo projeto executivo de 1,5km. Além disso, o custo de R$ 60 milhões para as obras do trecho, que vai da Usina do Gasômetro até a Rótula das Cuias, foi considerado alto.


A intenção de Lerner neste trabalho, que durou dois anos e meio, foi criar um parque intensamente utilizado pela população.

O projeto prevê um terminal turístico de barcos, calçadão, ciclovia, banheiros, quadras esportivas, instalação de bancos e quiosques e um bar sobre a água.



Também está prevista a instalação de iluminação que permita o uso da orla à noite e um piso formado por bolinhas de gude que refletirão a luz do sol.



Se hoje observarmos atentamente a cidade, poderemos ver que em seu tecido urbano foram deixadas as marca dos diversos planos urbanísticos implantados ao longo de uma trajetória de um século de planejamento.

Vista aérea do centro de Porto Alegre, observamos com clareza as áreas aterradas do Centro Administrativo com predominância do verde e o núcleo histórico densamente edificado.

Referências:

PARTE DA REPORTAGEM DO JORNAL ZERO HORA SOBRE O
FUTURO DO CENTRO DA CIDADE E A ORLA DO GUAIBA
Porto Alegre - A cidade pisa no Guaíba
Itamar Melo

Porto Alegre cem anos de aterros: uma estratégia de desenvolvimento morfológico
Profa. Célia Ferraz de Souza
Acadêmico Augusto Alves
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Arquitetura – PROPUR.

Maciel, João Moreira - Relatório do Projecto de Melhoramentos e orçamentos, Porto Alegre 1914, Oficinas graphicas d’ “A Federação”,1927, p.1
Faria Santos, J. L. de Obras do Porto da Capital in Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas, Porto Alegre,
Oficinas Graphicas d’ A Federação, 1914, p. 270
Godoy, Cândido J. de. Palácio do Governo in Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas, Porto Alegre, Oficinas Graghicas d’A Federação, 1909, p. XII
Maciel, João Moreira - Relatório do Projecto de Melhoramentos e Orçamentos, Porto Alegre, 1914, Oficinas Graphicas d’ A Federação”, 1927 Relatório porto, p. 25
MACIEL, J M. Op.cit,
Paiva, Edvaldo P. Contribuição ao Estudo do Urbanismo em Porto Alegre Porto Alegre, 1938, pág. 90
SILVA, José Loureiro da Um Plano de Urbanização. Porto Alegre, 1943, pág. 137
PAIVA, Edvado P. e FAYET, Carlos M. Urbanização da Praia de Belas, em Porto Alegre R. G. S. Rev. Habitat, Porto Alegre, pág. 35
Silva, Lúcia. A Cidade do Rio de Janeiro nos Anos 20. Pesquisa em História, Publicação do Programa de Estudos Pós Graduados em História da PUC-SP, coord. Heloisa de Faria Cruz, São Paulo, Olho D’água, 1999, pág. 79, 80.

Wikipédia


Almanaque Gaúcho, por Ricardo Chaves

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