Bem Vindo

- Com esta série não é pretendido fazer história, mas sim é visado, ao lado das imagens, que poderão ser úteis aos leitores, a sintetizar em seus acontecimentos principais a vida da Cidade de Porto Alegre inserida na História.

Não se despreza documentos oficiais ou fontes fidedignas para garantir a credibilidade; o que hoje é uma verdade amanhã pode ser contestado. A busca por fatos, dados, informações, a pesquisa, reconhecer a qualidade no esforço e trabalho de terceiros, transformam o resultado em um caminho instigante e incansável na busca pela História.

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sábado, 24 de março de 2012

Porto Alegre - 1825 à 1849 - Parte X (Em Montagem)

Cronologia - 1825/1849


Em 1825, na Europa, Inglaterra, é inaugurada a primeira Estrada de Ferro com “locomotiva a vapor” do Mundo.

Em 1825, na América do Sul, o Peru torna-se definitivamente independente da Coroa de Espanha, mas permanece unido a Colômbia.

Em 1825, na América do Sul, Simon Bolívar conquistou a independência da região Sudeste do Peru, que passa a se chamar Bolívia em homenagem ao libertador.

Em 1825, no Brasil, na Província Cisplatina, acontece o Congresso Oriental em Flórida comandados pelo caudilho Juan Antônio Lavalleja, declaram nulos os acordo de submissão da Província ao Império do Brasil. Os argentinos e aliam aos uruguaios. Começava a “Guerra Cisplatina” pela posse da “Banda Oriental”, como era chamada a região do atual Uruguai. O conflito durou 3 anos.

- Para defender o Império, na Província de São Pedro (Rio Grande do Sul) foi formado o Exército do Sul, com a participação de gaúchos de todos os rincões.

Em 1825, em Porto Alegre, o imigrante alemão Luiz Rau, “especialista em couro” um ano depois da chegada a região, fabricante de couro, abre o primeiro Curtume na Real Feitoria (São Leopoldo), nesta época era colônia (distrito) de Porto Alegre.
Em 1829, outros 7 seguiram seu exemplo, neste ano já existiam na Colônia da Feitoria 8 moinhos de trigo, 1 fábrica de sabão, um engenho para lapidação de pedras e até uma pequena tecelagem.

- Mas para outros historiadores, apontam Nicolau Becker, conhecido como Lederbecker, ou o “Becker dos couros”. Como domo do primeiro curtume da região. Becker se estabeleceu no topo da colina em Hamburgo Velho, justo por onde passavam as tropas e tropeiros, rumo as “Vacarias dos Pinhais”, local para fazer e restaurar arreios, selas e serigotes. Foram os artigos de montaria que deram início a indústria coureira gaúcha.

- O especial “serigote” de Becker que ao inventar um novo tipo de lombilho (espécie de sela, ou selim), um alemão mostrou-o a um gaúcho e assegurou:
- “Das ist sehr gut!” (“Isto é muito bom”), expressão que por currutela, tornou-se serigote (“sehr gut”).

Em 20 de março de 1825, em Porto Alegre, é empossado como provedor para o Hospital de Caridade (Santa Casa) José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, fundador da Colônia de São Leopoldo, primeiro historiador do Rio Grande do Sul e primeiro Presidente da Província de São Pedro, após o advento da Constituição do Império, desenvolveu intensa atividade no sentido de concluir as obras do Hospital de Caridade (Santa Casa) enquanto Provedor da Irmandade e de habilitá-lo para receber os doentes.
Várias são as doações e a venda de terrenos da Irmandade para a continuidade das obras.

- Naquela época, o então Presidente da Província não foi à primeira escolha, mas a terceira, após a recusa do Coronel José Ignácio da Silveira.

Em 29 de agosto de 1825, na Europa, Portugal, através do embaixador inglês que o representava, assinou o Tratado Luso-Brasileiro de reconhecimento da independência.
O Brasil pagou 600 mil libras à Corte portuguesa e assumiu a dívida de Portugal de 1,4 milhões de libras esterlinas com a Inglaterra, e Dom João VI obteve ainda o direito de usar o título honorário de “Imperador do Brasil”, que não lhe dava, porém, qualquer direito sobre a antiga Colônia.

Em 18 de setembro de 1825, em Porto Alegre, o Provedor do Hospital de Caridade (Santa Casa) e presidente da Província José Feliciano Fernandes Pinheiro já explanava a intenção de começar a receber os doentes em 1º de janeiro de 1826, comprometendo-se pessoalmente a providenciar os custos das dietas do primeiro mês de funcionamento.
Seguindo o exemplo do Provedor, o Sr. Joaquim de Souza Ignácio, ofereceu-se para fechar com valos, à suas custas, do Cemitério que funcionava anexo ao Hospital, a Mesa recomendou ao Irmão Tesoureiro, que quanto antes promovesse e verificasse a continuação da frente do edifício desta Casa até a Capela a ela pertencente, providência que determinaria o fechamento do pátio que dá comunicação do edifício até a Capela do Senhor dos Passos.

Em 1826, na Europa, Inglaterra, em Londres, a Coroa para reconhecer a Independência do Brasil, força o país a assinar um Tratado “abolindo a escravidão” a partir de 1830.

Em 1826, na Europa, Portugal, em Lisboa, D. João VI instituiu um Conselho de Regência presidido por sua filha Isabel Maria.

Em 1826, em Porto Alegre, o Barão de Gravatay montou um Estaleiro e construiu o maravilhoso Solar da Baronesa (próximo ao atual Pão dos Pobres), que incendiou em 1888, o local que ficou conhecido como Areal da Baronesa, no Caminho de Belas.

Em 1826, em Porto Alegre, Antônio Álvares Pereira Coruja, foi nomeado pelo presidente da Província, depois visconde de Camamu para seguir para a Corte no Rio de Janeiro, capital do Império, aprender o “método de ensino mútuo”, do inglês Joseph Lancaster, um curso de um ano de duração.
Do qual saiu nomeado “Professor Régio”, designado para Porto Alegre.

Em 1º de janeiro de 1826, em Porto Alegre, é inaugurado o prédio da Santa Casa, com seu Hospital de Caridade, nos altos do Largo da Caridade (Praça D. Feliciano).
Nesta data o presidente (governador) da Província José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, carregou o primeiro doente nos próprios braços desde o pórtico até o leito.

- A construção da Santa Casa mudaria o perfil de Porto Alegre e motivaria a abertura de ruas e acessos até o local.

Em junho de 1826, no Brasil, Província de São Paulo, em Porto Feliz; o cônsul da Rússia no Brasil Jorge Henrique Langsdorff (1774-1879), naturalista, etnógrafo e diplomata, conheceu como poucos o interior das Minas Gerais, Rio de Janeiro e o litoral de São Paulo.

- Grigory Ivanovitch von Lagsdorff, alemão, médico e naturalista, foi botânico na primeira expedição ao redor do planeta, ao passar pelo Brasil em 1804, apaixonou-se.
Em abril de 1813 mudou de nome para Jorge Henrique a assumir como cônsul-geral da Rússia.
Entre 1826 e 1828, na Segunda Expedição Langsdorff, entre o interior paulista, as margens do Rio Tietê e Santarém no Pará, uma verdadeira aventura no coração do Brasil.
Em 1830, doente voltou à Alemanha em Freiburg onde ficou até sua morte.

Em 14 de outubro de 1826, em Porto Alegre, rumo a Província Cisplatina (atual Uruguai), na visita do Imperador D. Pedro I a capital da Província do Rio Grande do Sul, S.M.I. toma ciência da polêmica referente à área dos Campos da Várzea (atual Parque Farroupilha), que a Câmara insistia em parcelar para loteá-la e gerar receita frente aos custos de manutenção da cidade, mas o Imperador assegura definitivamente ao poder público, os terrenos dos Campos da Várzea, futuro Campos da Redempção, mais tarde Parque da Redenção (atual Parque Farroupilha).
Assinou Provisão inspirada pelo Visconde de São Leopoldo, José Feliciano Fernandes Pinheiro, na época Ministro do Império, que impedia a transação da área dos Campos da Várzea; - que desde 18 de agosto a Secretaria de Estado de Negócios do Império, em portaria especial, já destinara a área para os exercícios militares por ser ela a única que oferece as necessárias proporções.

Em dezembro de 1826, em Porto Alegre, o Imperador Dom Pedro I visitou o Hospital de Caridade (Santa Casa) solicitou a Irmandade o empréstimo de uma das enfermarias do Hospital para tratar dos militares na Guerra Cisplatina, contra a Província rebelde.

Em 1827, na Europa, Inglaterra, foi inventado os “fósforos” pelo químico John Walker, eram longos gravetos de madeira cobertos com uma mistura química que incendiavam com o atrito. O palito já foi chamado de “lúcifer” que em latim significa “portador da luz”.

Em 1827, na Europa, Portugal, em Lisboa, acontece à guerra civil entre Liberais e Monarquistas.

Em 1827, na América do Sul, o Peru declara-se Estado independente da Colômbia.

Em 1827, no Brasil, Jean-Baptiste Debret, um “flaneur”, tomou sua grande decisão e partiu para a Província do Rio Grande do Sul, seguindo a trilha do botânico Auguste de Saint-Hilaire, acompanhando um grupo de tropeiros, atravessa a província até a cidade de Rio Grande, de onde retorna ao Rio de Janeiro.
Freqüentava atento e deslumbrado, calçadas e cascatas, matas e morros, o caís e os caminhos, entrava em fazendas e favelas, palácios e paços, não dava um paço sem o bloco no qual rabiscava esboços minuciosos.
Em 1831, com a partida de D. Pedro I do Brasil, volta à França e deu início à edição da:
- “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”,
obra monumental, lançada em 3 volumes, entre 1834 e 1839, o livro segue o traço lógico da civilização do Brasil:
- O primeiro volume dedicado aos índios e as florestas,
- O segundo volume surge os escravos e artesãos,
- O terceiro volume investiga os costumes urbanos e os acontecimentos políticos.

Em 01 de junho de 1827, em Porto Alegre, circula o primeiro jornal do Rio Grande do Sul, o Diário de Porto Alegre, sob a direção de João Inácio da Cunha, com tipografia adquirida no Rio de Janeiro, ficava na Rua da Igreja (Duque de Caxias), nº 113.
O primeiro órgão da imprensa, surgiu em fase de grande agitação política, tendo servido de porta-voz do espírito despótico do Brigadeiro Salvador José Maciel, Presidente da Província acarretando com isso sérias questões e atritos políticos.
O Diáriocirculou até 30 de junho de 1828.

Em 02 de agosto de 1827, em Porto Alegre, na Rua da Praia, é aberta a primeira “Escola de Ensino Mútuo”, ou seja, de alfabetização em grupo, Método Lancaster que não foi generalizado por falta de professores que soubessem adotá-lo.
O Professor Régio Antônio Álvares Pereira Coruja leciou de 1827-35 na Escola do “Amansa- Burros”, seu antigo mestre.
Consta que foi aí que um aluno o chamou de “Coruja”, devido a sua fisionomia parecida com aquela ave noturna. Os demais alunos também passaram a chamá-lo assim, e Antônio Álvares Pereira Coruja incorporou o apelido ao nome.
Segundo a descrição da fisionomia de Coruja:
- “um homem feio, de sobrancelhas hirsutas (pelos longos), nariz adunco, boca rasgada e cabeça grandemente achatada.”

Em 24 de dezembro de 1827, em Porto Alegre, na festiva noite receberam com lágrimas nos olhos a imagem da padroeira Nossa Senhora do Rosário, que se encontrava na Matriz. A “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito” preparou grande festa em sua nova casa.
Estava inaugurada a Igreja Nossa Senhora do Rosário, na então Rua da Bandeira, mais tarde denominada Rua do Rosário, e por fim, atual Rua Vigário José Inácio, homenagem ao sobrinho do padre que expulsara os “negros”.

- Nenhuma autoridade religiosa da Matriz, como era chamada a Igreja Nossa Senhora Madre de Deus, havia se importado até então com essa manifestação de ecletismo religioso. A exceção foi o Vigário José Inácio dos Santos Pereira.
Ele proibiu que se executassem rituais africanos ali, com a alegação oficial de que a vizinhança reclamava do barulho. Mas os negros de consideraram expulsos do Largo da Matriz.
Então partiram para um empreendimento arrojadíssimo:
- a construção de sua própria igreja, ou melhor, um templo católico em que se sentissem a vontade.
Durante dez anos, de 1817 a 1827, eles trabalharam na obra, à noite os escravos, em horas vagas do dia os negros alforriados.

- Até a segunda década do século XIX, nas procissões de Nossa Senhora do Rosário e nos dias de Natal, os negros costumavam expressar sua religiosidade da forma mais espontânea:
- Dançando em frente da Matriz, com guizos nos tornozelos e ao som de tambores, marimbas e urucungos.
Exibiam a mesma naturalidade mostrada nos batuques do terreiro de Mãe Rita, a “mãe-de-santo” da época, a primeira de que se tem notícia na cidade.

- Na verdade o novo templo não foi resultado de mera ação do voluntarismo. Foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, entidade fundada em 1786, na qual os negros eram maioria, que comprou o terreno e comandou a construção.
Enquanto duraram os trabalhos, as festas se resumiam ao de sempre:
- Batuques nas tardes de domingo fora do centro urbano, em frente ao matadouro, mais ou menos na esquina do Caminho da Várzea (Avenida João Pessoa) e Rua da Imperatriz (Avenida Venâncio Aires).

- Embora o prédio tombado desde a década de 1950, a antiga igreja foi demolida, para ser substituído pela atual a pedido de religiosos católicos e por decreto do presidente da República Getúlio Vargas.

Em 1828, na Europa, Portugal, em Lisboa, D. Miguel I proclama-se rei absoluto de Portugal, irmão de D. Pedro I do Brasil que era pai de D. Maria que tinha o direito natural ao trono.

Em 1828, no Brasil, Província Cisplatina, sob mediação inglesa, foi assinada a paz, entre o Brasil, Argentina e a Província insurgente. A Banda Oriental é um Estado independente.
A província mais meridional do Brasil se declara independente com o nome de República Oriental do Uruguai.

- A situação dos senhores de terra e gado no Sul tendeu a agravar-se. O Rio Grande do Sul teve abalada a sua imagem de “Sentinela da Fronteira”, perdendo com isso o prestígio nas suas relações com o centro na Corte.
Alterava-se o “modus vivendi” colonial que fora estabelecido no passado entre a Coroa de Portugal e os senhores local

Em 1828, em Porto Alegre, ocorreu à escolha da nova Câmara Municipal de acordo com o novo regimento dos municípios, a cidade tinha cerca de 10.000 habitantes, 400 eleitores participaram da escolha dos novos vereadores.

Em 1828, em Porto Alegre, é criado o segundo jornal da cidade o “Constitucional Rio-Grandense”.

Em 1828, em Porto Alegre, é construído o prédio do quartel do 8º Batalhão de Cavalaria (Infantaria) na Rua da Igreja (Duque de Caxias), esquina do Caminho da Várzea ou da Azenha (João Pessoa) nas proximidades do Portão (entrada da fortificação) junto às instalações foi construído um hospital.
O prédio foi demolido na década de 1970, para construção do viaduto Loureiro da Silva.

Em 20 de fevereiro de 1828, em Porto Alegre, na Feitoria Velha (atual São Leopoldo) é iniciada a “construção da capela”, com invocação a Nossa Senhora da Conceição, exatamente no mesmo local onde se encontra a matriz.

Em 1829, em Porto Alegre, apareceu na cidade o uruguaio Manoel Eustáquio Ruedas que iria atuar no jornalismo que contibuiu para a proclamação da República Rio-Grandense. Republicano convicto foi um dos fundadores do “Gabinete de Leitura Continentino”, que publicava o jornal de mesmo nome. Também trabalhou com os irmãos Calvet no “Recompilador Liberal”.
Em 1833, recebeu ordem de expulsão do Rio Grande do Sul, por ser acusado de subversivo, mas por interferência de João Manoel de Lima e Silva (irmão do Regente do Império, Francisco de Lima e Silva), se livrou do processo e ainda pôde se naturalizar brasileiro, por estar casado com uma gaúcha e possuir propriedade na Capital.
Em 1834, passou a editar o “O Republicano”, junto com o italiano Tito Lívio Zambeccari.

1830

- A política ganha mais espaço na Província, a Guarda Nacional não tinha descanso, eram raros os dias em que não aconteciam aglomerações no centro de Porto Alegre ou correrias com “Viva a República”, até mesmo tiros para o alto.
A tensão política vinha crescendo na Província. A questão econômica era a principal, o descaso do Império em relação à Província.
O Rio Grande do Sul dependia da venda do charque, base da alimentação principalmente dos escravos. Para manter o preço baixo do produto, o Governo Imperial não cobrava muito imposto do charque importado dos países da Região do Prata, ao mesmo tempo taxava o sal, insumo básico das charqueadas gaúchas.
Esse tratamento condenava a provínvia à condição de “estalagem imperial”: - devia fornecer produtos a preços reduzidos. Por isso, muitos a chamavam, ironicamente, de Província-Boi.
Todas as correntes políticas gaúchas lutavam pela implantação da federação, ou seja, autonomia para as Províncias (estados), mas a forma dividia essas correntes.
Os mais exaltados estavam ligados aos Farroupilhas, as páginas de seu órgão oficial o jornal “O Continentino”, pregava a revolução armada quase diariamente.

O Círculo do Poder:
- O Pai de família a aplica aos seus “Filhos”, os Senhores aos seus “Servos”, a Comuna aos seus “Administradores”, o Estado à “Província”, e a União ao “Estado”...

Em 1830, em Porto Alegre e região, encerrou-se a primeira etapa da imigração oficial alemã em meio a denúncias de corrupção e desordem.

Em 1830, em Porto Alegre, a Praça da Quitanda ou Praça do Comércio (atual Praça da Alfândega) era o centro do comércio, e os “Largos” eram os espaços de reunião, bate-papos e exaltações da cidade.

- Os largos em Porto Alegre eram áreas e reuniões e freqüência diária, uns se transformaram em praças outros em ruas ou desapareceram:
Largo do Arsenal foi o primeiro instalado (local do primeiro cemitério), na Praia do Arsenal, atual Praça Brigadeiro Sampaio.
Largo da Forca, localizado na frente da Igreja das Dores, onde foi construído o “pelourinho”.
Largo da Quitanda, o mais movimentado, mais tarde conhecido como Largo do Comércio, atual Praça da Alfândega.
Largo da Caridade ou Altos da Caridade, junto ao prédio da Santa Casa.
Largo da Matriz ou Altos da Praia,  junto a Igreja Matriz, Palácio do Governo e Câmara.
Largo dos Ferreiros, Largos dos Açorianos, atual Praça Montevidéu.
- Chamado de Porto dos Ferreiros devido à presença da primeira forja de metais de Porto Alegre, na década de 1820 este nome alcançava o atual Largo Glênio Peres e Praça XV.
Largo do Paraízo (com “z”), atual Praça XV e parte do atual Largo Glênio Peres.
- A Praça Paraízo era assima chamada, conforme Coruja:
- “Ao lado do Porto dos Ferreiros, que assim se chamava toda a praia entre a esquina do Caminho Novo (Voluntários da Pátria) e o Beco da Ópera (Uruguai), - não se sonhando ainda em doca nem praça, nem mercado -, havia uma prquena casa habitada por moças cantadeiras (prostíbulo), e que dizem que cantavam bem, aonde aos domingos iam os moços passear, denominando-a “Casa do Paraízo”; e já se convidavam dizendo – “Vamos hoje ao Paraízo?”. – E assim ficou se chamando Rua do Paraízo (Rua José Montaury).

- As manifestações religiosas, como a Festa do Divino e a Páscoa, reuniam ricos e pobres, senhores e escravos em procissões que iniciavam na Praça da Matriz nos Altos da Praia.

Em 16 de junho de 1830, em Porto Alegre, a Câmara instala as bancas de peixes (Feira do Peixe) na embocadura do Beco dos Ferreiros (atual Rua Uruguai), quase todo o comércio de gêneros alimentícios já havia se transferido do Largo da Quitanda para o Caminho Novo (atual Rua Voluntários da Pátria), após o Largo Paraíso (nesta época em construção).

Em 1831, no Brasil, o naturalista inglês Charles Darwin passa pela ilha de Fernando de Noronha e pela Bahia, durante sua expedição científica.

Em 10 de fevereiro de 1831, em Porto Alegre, é definido o primeiro Código de Posturas Policiais, que estabelecia o perímetro urbano da cidade, que disciplinou a ocupação do espaço urbano, designando lugares de coleta de água, lavagem de roupa dos hospitais, despejo de esgoto e lixo.
Este código estabelecia os novos limites da cidade:
- Começava numa travessa perpendicular ao Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria) e o Guaíba e subia pelo lado norte do espigão, chegando aos primeiros moinhos de vento instalados no Beco do Barbosa (atual Barros Cassal com Independência), daí seguia no sentido da ponta da península a Travessa da Olaria (atual Rua Sarmento Leite), descendo para a Rua da Olaria (Lima e Silva) e daí para a Rua do Imperador (atual Rua da República), chegava à foz do Riacho (arroio Dilúvio), junto ao Guaíba.

No texto:
“São reputados urbanos todos os edifícios e terrenos compreendidos dentro destes limites”, a área era de 296,6 hectares.

- Nestes primeiros anos como cidade, Porto Alegre cresce como um Leque a partir da península com o núcleo urbano inicial consolidado.
Ao Norte:
- O Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria) seguia a margem do Delta do Jacuí e começaria a se interligar com o arranchamento dos imigrantes alemães (arraial dos Navegantes), junto à várzea do Gravataí.
Ao Leste:
- A Estrada dos Moinhos (Rua Independência), saia na altura da Santa Casa e seguia para a Aldeia dos Anjos (Gravataí), que começa a ser povoada.
Margeando a Várzea (Campos da Redenção), havia duas estradas:
- O Caminho do Meio (Avenida Bom Fim) dava acesso a Villa de Viamão.
Ao Sul:
- A Estrada da Azenha (Caminho da Várzea) se bifurcava depois da ponte:
Pela esquerda se chegava a Viamão,
Pela direita seguia-se para as estâncias de Belém Velho e Itapuã.
- O Caminho de Belas (Rua Praia de Belas), pela margem do Guaíba, cruzando a ponte de madeira, próximo a foz do Riacho, recebeu este nome pela figura do proprietário Antônio Rodrigues Belas, que por muitos anos foi encarregado da aferição de pesos e medidas.

- Porto Alegre viria a se expandir tendo como linhas mestres esses caminhos. Nesta época não havia plano de arruamento fora da zona urbana dentro da fortificação.

- As especificações de propriedades da época:
Solar – um pequeno terreno urbano com um grande casarão ou sobrado.
Quinta – um pavilhão, uma casa de recreio.
Chácara – uma pequena herdade com jardins.
Fazenda – uma casa com plantação de algodão ou café, além do gado.
Engenho – uma moagem e fabricação de açúcar.
Estância – uma grande propriedade de criação, principalmente gado.
Charqueada – um grande matadouro de gado e salgadeira.

- Com uma população estimada em 15 mil habitantes, a região com maior concetração populacional ficava entre as atuais ruas Marechal Floriano e Gal. Bento Martins.

Em 07 de abril de 1831, no Brasil, Rio de Janeiro, S.M.I. D. Pedro I, com a desestabilização da economia, através da emissão de moeda sem lastro, os ataques diários dos pasquins e a morte do jornalista paulista Líbero Badaró, por pressão popular e problemas de sucessão na Coroa Portuguesa, abdica ao trono do Brasil em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara (futuro D. Pedro II), então com 5 anos, e José Bonifácio (amigo leal) como tutor do pequeno príncipe, deixando em seguida o país.

Regência (1831-1840)

- Com a abdicação de D. Pedro I, devido o príncipe herdeiro ser criança (a Constituição permitia assumir o trono com 18 anos), durante o impedimento foi confiado à administração do Império a um Conselho de Regentes, eleita pelo Parlamento, tem início o Período Regencial:
- Regência Trina (3 regentes),
1831 – Marques de Caravelas, Brigadeiro Lima e Silva, Senador Vergueiro.
- Regência Trina Permanente (3 regentes),
1831-1835 – José da Costa Carvalho, Brigadeiro Lima e Silva, João Bráulio Muniz.
- Regência Una (1 regente),
1835-1837 – Padre Diogo Antônio Feijó.
A instalação da regência, não veio alterar o quadro de centralização.

- Neste momento, um novo segmento da classe dominante senhorial assumiu o controle do país. Os Cafeicultores, do Vale do Paraíba do Sul, responsáveis pelo emergente setor de ponta da economia nacional, difundiam uma política igualmente centralizadora para a nação. Sediados no Rio de Janeiro, a aristocracia próxima a Corte estava interessada na manutenção dos princípios da Carta de 1824 (Constituição).
Do Centro emanavam ordens para as províncias do Império, e das regiões periféricas afluíam recursos para o Rio de Janeiro.

- Estabelecia-se assim uma relação de poder em que a “oligarquia agrária” do centro do país participava do núcleo decisório da política econômico-financeira nacional, manejando-a em seu benefício, enquanto a “oligarquia gaúcha” ficava a margem deste processo.

Em 1831, no Brasil, Rio de Janeiro, é criado a Guarda Nacional para defesa da nação.

Em 31 de julho de 1831, em Porto Alegre, é fundado o “Gabinete de Leitura Continentino”, adeptos liberais do jornal “Copilador de Porto Alegre”, era uma sociedade secreta onde se conspirava a Revolução que quatro anos mais tarde iria assolar o solo rio-grandense.
Antônio Álvares Pereira Coruja ingressou no Gabinete e foi redator do primeiro jornal que o Centro publicou.

Em 04 de outubro de 1831, em Porto Alegre, é criada a Tesouraria da Fazenda da Província do Rio Grande de São Pedro.

Em 05 de outubro de 1831, em Porto Alegre, da sede é desmembrado o primeiro município, Bom Jesus do Triunfo (Triunfo).

Em 27 de outubro de 1831, no Brasil, fica proibida a “entrada de escravos” no país.

Em 25 de dezembro de 1831, em Porto Alegre, foi autorizado a funcionar a primeira loja maçônica oficial Philantropia e Liberdade, na Rua do Rosário em frente a Igreja do Rosário.
Os Maçons que estavam infiltrados dentro da elite da cidade conspiravam cada vez mais com mais força contra o governo da Província e o Império.

Maçonaria
- “A Maçonaria fundada na Inglaterra em 1717, era uma sociedade “secreta” de pensamento e filantropia. Com seus símbolos e rituais, os maçons eram a vanguarda que falava em liberdade, racionalismo e progresso. - Foi um núcleo anti-absolutista no Brasil. Em seus clubes e “lojas” tramou-se muito pela independência do Brasil, do Rio Grande do Sul e muitas outras Províncias, da qual participaram muito maçons (“pedreiro”, em francês).”

- Em Porto Alegre, além da loja maçônica funcionavam clubes e entidades secretas, sob o rótulo de gabinetes de leitura ou agremiações literárias e de filantropia.
Os “Legalistas ou Caramurus” chamavam os integrantes de sociedades secretas de “Marimbondos”.

Em 1832, na Europa, Grã-Bretanha, o Parlamento estabelece reformas políticas que estendem o “direito do voto” a donos de pequenas propriedades e fazendas.

Em 1832, no Brasil, na Província de São Pedro, o revolucionário Padre José Antônio Caldas, que portava uma espada embaixo da batina, em Jaguarão com Bento Gonçalves chegou a propor a “constituição de uma república” que unisse o Uruguai e o Rio Grande do Sul, plano que não teve seqüência.
Depois o Padre Caldas veio residir em Porto Alegre onde ingressou em uma loja maçônica, acabou expulso da Capital e perseguido pelos Caramurus (soldados imperiais).

Em 1832, no Brasil, na Província do Rio Grande de São Pedro inicia a navegação de “barcos a vapor”.
Em 1858, havia 6 vapores em circulação,
Em 1860, número que passou para 10, havia linhas para Pelotas, Rio Grande, Rio Pardo, São Leopoldo e Taquara.

Embarcação:
Navio a Vapor: - depois do “Clermont” (1807) vieram o “Phoenix” poucos dias depois do cunhado de Fulton, que foi o primeiro vapor a navegar em mar aberto. Após o barco americano de guerra “Demologos” e o construído especialmente para a Marinha Americana “Monitor” que foi o primeiro a queimar antracite (carvão) em vez de madeira.

Em fevereiro de 1832, no Brasil, Província da Bahia, Salvador, chega o veleiro Beagle, nas vizinhanças da capital baiana, abordo o inglês Charles Darwin (1809-1882), aos 22 anos, formado em Teologia.
Depois se desloca ao Rio de Janeiro, onde se fascina com a exuberância da Mata Atlântica, suas orquídeas magníficas e uma profusão de insetos desconhecidos.

Em 05 de abril de 1832, em Porto Alegre, os negociantes, o povo e o governo empenharam-se na nova obra de um Mercado Público, a Câmara registra:
“Sendo lido o Ofício do exmo. Presidente da Província acerca do estabelecimento de um Mercado Público no Largo do Paraíso, e bem assim o regulamento respectivo, deliberou a Câmara que uma comissão desse a respeito seu parecer com urgência.”
Mas faltava o principal, verba para a obra.

Em julho de 1832, na América do Sul, Uruguai, Montevidéo, atraca o veleiro Beagle a bordo o inglês Charles Darwin, permaneceu até maio de 1834, basicamente realizando levantamentos cartográficos.
Darwin aproveitou a longa estadia para realizar excursões terrestres, nas quais entrou em contato com os “Gaúchos” uruguaios e argentinos e com fósseis.

Em 07 de agosto de 1832, em Porto Alegre, através de Provisão autoriza a presidência da Província a estabelecer a Iluminação Pública de algumas ruas do núcleo urbano com óleo de baleia ou cera de abelha, com isso suas noites passaram da escuridão total (às vezes algumas fogueiras noutras o luar) para uma tímida penumbra, pois a luminosidade das luminárias colocadas era pouca.

- A Provisão estabelece também a construção de um chafariz para a distribuição de água potável.

Em 1833, no Brasil, no Sul, os Bugres uma tribo da nação brasileira da grande família Guarani. São de costumes ferozes, bem diferente dos pacíficos e agricultores Guaranis. Por outro lado, estes são os únicos selvagens que restam na Província de São Pedro, e tem-se a esperança de vê-los formar uma redução (Missão) nas fronteiras de São Paulo.
(Isabelle Arsène – 1833)

Em 24 de fevereiro de 1833, em Porto Alegre, a loja maçônica Filantropia e Liberdade, conforme ata, Bento “Sucre” Gonçalves recebeu “plenos e amplos poderes” para implantar ramificações maçônicas no interior da Província.

Em 24 de outubro de 1833, em Porto Alegre, a campanha do jornal “O Continentino” foi tanto, que a Câmara de Vereadores lavrou um protesto contra a Sociedade Militar na Província.

- A “Sociedade Militar” era frequentado por adeptos imperiais portugueses ultraconservadores que pregavam a volta de D. Pedro I ao trono e queriam abrir filiais por todo o país.

Em 03 de junho de 1833, em Porto Alegre, é nomeado por Carta Imperial, o primeiro Chefe de Polícia, o juiz de direito Dr. José Maria de Salles Gameiro de Mendonça Peçanha.

- Nesta época existia em Porto Alegre 3 Casas de Comércio Francesas, somente uma fazia comércio direto com a França, outra obtinha seus produtos em Buenos Aires e Rio de Janeiro e a terceira, amplo comércio com os Estados Unidos.
As mercadorias que chegavam a Porto Alegre alcançavam via fluvial a Real Feitoria, Santo Amaro (Triunfo), Rio Pardo e Taquari, de lá via terrestre a Vila Nova, São João da Cachoeira, Santa Maria da Serra e as povoações das Missões.
Os povoados mais próximos iam por muares, até Viamão, Aldeia Nossa Senhora dos Anjos, Santo Antonio da Patrulha e os Campos de Vacaria.

Em 07 de agosto de 1833, em Porto Alegre, iniciam-se as obras do Theatro São Pedro, após o presidente da Província desembargador Manoel Antônio Galvão (11.07.1831-24.10.1833) fazer a doação de um terreno no Alto da Praia (Praça da Matriz) para a construção de um teatro.

Em 1834, na Europa, Grã-Bretanha, acaba a escravidão nas colônias britânicas, com a libertação de todos os escravos.

Em 1834, na Europa, em Portugal, morre Dom Pedro I, ex-imperador do Brasil (D. Pedro IV de Portugal).
O Rei D. Miguel I, irmão de D. Pedro IV, foge para a Áustria e assume o trono português D. Maria II filha de D. Pedro I do Brasil, como queria o pai.

Em 1834, no Arquipélago dos Açores, na Ilha Terceira, na sede da Capitania Geral das Ilhas, a famosa “Angra do Heroísmo”, se desenvolveu o importante acontecimento do Movimento Liberal contra o Absolutismo do Rei D. Miguel I, onde D. Pedro IV (Pedro I do Brasil) organizou um exército que desembarcou junto à cidade do Porto em Portugal, depois de muitas batalhas sangrentas com quase cem mil mortos, derrotarem seu irmão D. Miguel, pondo fim ao absolutismo em Portugal, conhecido como “Guerra dos Dois Irmãos”.
D. Pedro IV assume a Regência de Portugal nos Açores, em nome de sua filha D. Maria II.
Na Praia da Vitória (nome em homenagem dos reis de Portugal a bravura dos habitantes frente aos exércitos miguelistas), aconteceu a primeira batalha que marcou a derrota D. Miguel I.

Em 1834, no Brasil, Rio de Janeiro, os dois “Bentos”, Bento Gonçalves da Silva, comandante da Fronteira Sul, já como coronel e Bento Manoel, comandante da Fronteira Oeste, são chamados a Corte, acusados de traição, contrabando de gado pelo comandante de Armas da Província, Marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto.

- Foram absolvidos e Bento Gonçalves aproveitou e indicou o novo presidente da Província Sr. Antônio Rodrigues Fernandes Braga, seu primo, depois de negociação entre ele e o major João Manoel de Lima e Silva, comandante do 8º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre, com o regente do Império general Francisco Lima e Silva, irmão do major.

Em 1834, no Brasil, Rio de Janeiro, por Ato Adicional da Regência, concedeu “poder legislativo” aos Conselhos Provinciais. Esta medida, que ampliava o espaço político do poder local, não foi suficiente, porém, para impedir a sublevação da elite rio-grandense.

- Há medida que os Conselhos Provinciais não tinham funções legislativas, mas só reivindicatórias, a morosidade da administração imperial e a falta de interesse dos presidentes provinciais em atenderem as demandas da província faziam com que os problemas se avolumassem.

- A opressão da Corte sobre a Província de São Pedro (Rio Grande do Sul) era percebida em vários níveis e resultava num sentimento generalizado de revolta por parte da oligarquia regional.

- A tensão básica entre anseios federativos e a política centralista não se circunscreveu ao Rio Grande do Sul, como provam as inúmeras rebeliões ocorridas no Período Regencial. Mas foi na Província de São Pedro que a revolta atingiu seu ponto mais alto, com a chamada Revolução Farroupilha (1835-1845).

Em 1834, no Brasil, avalia-se a população total da Província do Rio Grande de São Pedro em 160.000 habitantes, os imigrantes alemães entravam com um décimo desse total.
Na Província os melhoramentos introduzidos nas artes na cultura já são tais que o aspecto desta grande província mudou. A superfície está avaliada em quinze mil léguas quadradas, dividido em cinco comarcas. E tudo mudou de tal maneira a ponto de torná-la irreconhecível aos olhos daqueles que a percorrerem antes da guerra do Brasil com a República Argentina. É agora uma província indispensável ao Brasil, porque sozinha será capaz de abastecê-lo de carne, sebo, cavalos, mulas, milho, e mesmo o trigo, enquanto ela pode, em caso de necessidade, passar sem as outras, pois nas culturas da mandioca, algodão, arroz, cana de açúcar, etc. lhe fornecem o suficiente para consumo.
Poucas regiões no mundo são regadas e vivificadas, com mais profusão do que a Província de São Pedro, somente a Banda Oriental lhe poderá ser comparada. O clima é salubre e temperado, nenhuma terra é mais favorável à colonização européia.
(Isabelle Arsène-1833)

Em 1834, em Porto Alegre, por ato da Câmara, em termos de “iluminação pública”, a situação do núcleo urbano melhorou, com a utilização de novos produtos combustores.

Em 1834, em Porto Alegre, constatou-se que as crianças das famílias menos favorecidas eram alfabetizadas em casa, pelas mães, porque na cidade só funcionava um curso público de primeiras letras, dirigido pelo médico Dr. Calvet.
As 27 escolas espalhadas pela Província estavam sem professores devido à baixa remuneração.

Em 1834, em Porto Alegre, apareceu na cidade o Conde italiano Tito Lívio Zambeccari, miúdo, magro, de pele muito branca, gesto delicados. Apesar da figura frágil, se agigantava para pregar idéias libertarias.
Trabalhou nas redações dos jornais editados por Pedro Boticário, por Manoel Ruedas e prlo conterrâneo Luigi Rossetti. Com seus textos inflamados e vários pseudônimos, o carbonário pregava reformas e atacava o governo imperial. Participava das atividades secretas do “Gabinete de Leitura Continentino”, revolucionário cosmopolita se destacou entre os conspiradores farroupilhas.

Em 1834, no inverno, em Porto Alegre, a cidade conheceu a bela Ana Monteroso Lavalleja (esposa do general Juan Antônio Lavalleja, proclamador da República do Uruguai). Ana tinha amigos na Província de São Pedro:
- o compadre Bento Gonçalves da Silva, o conterrâneo Manoel Ruedas e o padre alagoano José Antônio Caldas. Foi por causa dessa amizade que Ana chegou a passar uma temporada na Capital.
Para os inimigos, os Farroupilhas já começavam a se articular contra o Império, a vinda de Ana Lavalleja era indício de espionagem e de conchavos entre os liberais rio-grandenses e os caudilhos do Prata.
Não por acaso, Lavalleja, Ruedas, Bento e o Padre Caldas eram maçons e membros do Gabinete de Leitura Continentismo.
Ao reencontrar Ruedas e o capelão Caldas, Ana Lavalleja passou a freqüentar as reuniões subversivas do Continetino.

- O caudilho uruguaio Juan Antonio Lavalleja tentera obter apoio dos conspiradores farroupilhas que se preparavam para a guerra. Lavalleja sonhava formar a Liga Federal de Artigas, um quadrilátero político com a participação do Uruguai, da Província do Rio Grande do Sul, a das províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes.

Em 20 de fevereiro de 1834, em Porto Alegre, chega o francês Louis Frédéric Arsène Isabelle, em sua excursão pelo Rio Grande de São Pedro, onde como um bom cronista, faz apontamentos de sua passagem por lugares da cidade, com coletas de espécimes geológicas, botânicas e zoológicas enviadas ao Museu de Paris.
Diz ele, nesta coletânea:
A Cidade
- “A 20, pelas onze horas, o vento soprou fortemente...
Chegamos a Porto Alegre ao meio-dia...
Algumas léguas antes de chegar avista-se Porto Alegre, esta cidade parece flanqueada por morros altos, entretanto eles estão a mais de uma légua de distância.
O Jacuy se divide em dois braços, um correndo para nordeste e o outro para sudeste...
O intervalo dos dois braços está cheio de ilhas cultivadas e habitadas, assim como ambas as margens.
Eis-nos chegados à pequena capital de uma grande Província do Brasil, a duas mil léguas do principal centro da civilização.
As luzes apenas alcançam por reflexões, os satélites oficiosos encarregam-se da divulgação de acordo com a inteligência que possuem; vede que céu, que paisagem.”

A Natureza
- Quereis gozar de um espetáculo difícil de ver mesmo na Grande Ópera? – Transportai-vos para o ponto mais alto da colina no lugar principal: tereis abaixo de vós, ao norte (que, como sabeis, é o meio dia do hemisfério austral), a cidade se desdobra em taludes; a barra coberta de barcos; ilhas, o curso sinuoso dos cinco rios estendendo-se exatamente como uma mão aberta com os dedos afastados, depois as casas de recreio, bordejando em meio círculo a margem sombreada da baia, vales arborizados prolongando-se paralelamente às colinas do nordeste, a “Várzea” ou planície atrás da cidade, com seus bosques, plantações de laranjas, bananeiras, palmeiras, cactos, todos cercados de sebes espessas, mimosas amarelas, vermelhas, violetas ou brancas, quase sempre em flor, e ainda, além dessa planície do sul, descansando agradavelmente a visa, lindas casas de campo (quintas, chácaras ou fazendas), bem construídas, pitorescamente colocadas sobre o alto dos morros.

Arquitetura
- Os edifícios, embora de arquitetura simples, não eram desprovidos de elegância, isto se aplica as casas de construção nova.
Construídas de tijolos e pedras de cantaria, tem geralmente um só andar, mas são muito altas, em geral quadradas, com grande número de janelas no primeiro andar e somente portas no resto do chão; estas tem muita altura e são geralmente duplas, de dois batentes, arqueadas, com grandes vidraças colocadas em losangos, quadrados, hexágonos e octógonos.
Um balcão de ferro bem recortado, quase sempre dourado, ocupa toda a fachada, com alguns ligeiros arcos que se sobrepõe de distância em distância para na época de calor, neles colocar-se uma tolda festonada.
O telhado coberto de telhas redondas, sai para fora, levantando à maneira do teto chinês uma cornija bem esculpida; esta parte saliente do telhado é colorida de vermelho e desenhada admiravelmente sobre a moldura da cornija e pintada de branco.

- As casas de construção antiga são baixas, guarnecidas de calhas e portas com rótulas, mas depois que D. Pedro I mandou derrubar, num dia de mau humor, todas as rótulas do Rio de Janeiro – desaparecem também, pouco a pouco, as das outras cidades do Império.
Estas rótulas, espécie de portas ou janelas clarabóia, tendo a função de gelosia, em Porto Alegre ruas inteiras são assim distribuídas.
(baseado no texto de Arsène, Isabelle – 1834, tradução de Dante de Laytano)

Em março de 1834, em Porto Alegre, na Colônia de São Leopoldo, também chamada de Real Feitoria ou Feitoria Velha (porque outrora ali se vendiam escravos negros), após cinco anos de fundação, com apenas 15 léguas quadradas, as margens do Rio dos Sinos (rio de quarta ordem), a sete léguas de Porto Alegre por terra, e a 20 léguas por água.
Da mesma maneira que o Jacuí e todos os outros afluentes do Rio Grande (Guaíba), o Rio dos Sinos, corre num leito de areia e terra lodosa, as margens são baixas que parecem submersas na água.
São, entretanto, habitadas e cultivadas, aqui e ali, mas tem-se o cuidado de construir a casa sobre estacas ou sobre andaimes de cinco a seis pés.
O telhado dessas pequenas casas, construídas alteadamente, dá-lhes a aparência de um pavilhão chinês.
Em três portos, seguimos a pé, subido e descido muitas vezes, avistamos enfim, na volta de um caminho coberto, a vila de São Leopoldo, situada no meio de uma planície, podendo ter uma ou duas léguas de circunferência.
Pensamos estar na Alemanha. Não pude evitar, à vista desta povoação européia, um sentimento de admiração, porque, em primeiro lugar, fui surpreendido pelo contraste que ofereciam estes lugares, cultivados com cuidado, estes caminhos, abertos penosamente através das colinas, morros e matos, estas pequenas propriedades rodeadas de fossos, profundos ou sebes vivas.
Em comparação com o abandono absoluto em que os brasileiros deixam suas terras, o mau estado de suas estradas, suas choupanas estragadas, enfim essa falta de atividade, esse espírito de desperdício e de destruição que os caracteriza tão bem quanto os argentinos.
Uma nação de regiões polares, conservado seus hábitos, costumes, vida ativa, dando nascimento a uma geração que deverá um dia, mudar a faze do país.
De todas as partes, ao Sul, leste e oeste, a planície é dominada por cerros, cobertos de matos.

- A vila (colônia) foi construída em um terreno pantanoso que as menores chuvas inundam, havia perto de 150 casas de madeira e tijolos, 1 igreja católica e na outra ponta a sudoeste, outra capela atendida por ministro da religião reformada, contendo na vila uma população de mil almas, habitada por artesões alemães, como marceneiros, ferreiros, fabricantes de carroças, sapateiros, alfaiates, seleiros, funileiros, e por negociantes tarberneiros, marceneiros, alborcadores, tanto alemães como de outros países, havia muitos comerciantes franceses.
As autoridades brasileiras: - compõem de um juiz de paz (dando audiência 1 vez por semana) e um comandante militar.

- Outros alemães, possuindo algum capital, foram estabelecimentos mais ou menos importantes, tais como curtumes, destilarias, serrarias, fábrica de fósforos, olarias e engenhos de farinha de mandioca e açúcar, produzindo um rendimento bastante elevado para a Colônia, independentemente das relações comerciais que a atividade dos alemães entretém com Porto Alegre.
Terça-feira de cada semana é o dia designado para levar à Capital os comestíveis e produtos da indústria desta pequena república.

- Muitos brasileiros, consultando mais o interesse particular de que a sua inclinação, naturalmente enciumados da prosperidade dos estrangeiros, começam a se estabelecer na Colônia, comprando muito caro os terrenos concedidos aos alemães e que estes lhe cedem de boa vontade, esperando poder abrir noutra parte estabelecimentos maiores.

- A emulação terminará por fazer nascer nos brasileiros, à vista de tantas dificuldades vencidas por homens trabalhadores, ao menos o orgulho nacional, interessado pelo progresso da Colônia, o que deve trazer felizes resultados para o país. Já foi organizada uma sociedade de acionistas para a construção de uma ponte sobre o Rio dos Sinos; tratava-se, também, de levantar edifícios públicos, abrir novas estradas, fazer um barco a vapor e de empreender, enfim, trabalhos capazes de fomentar a indústria e favorecer o comércio, verdadeiras fontes de riquezas e civilização dos povos.

- Na Colônia Isabelle Arsène foi recebido pelo Dr. João Daniel Hildebrand, hamburguês, homem moço, falava português e francês, exercendo a medicina e a cirurgia.
 (baseado no texto de Arsène, Isabelle – 1834, tradução de Dante de Laytano)

Em abril de 1834, em Porto Alegre, existem cinco igrejas (com pouco luxo) há um hospital, uma casa de misericórdia, um arsenal, dois quartéis e uma cadeia, recentemente construída. Há outros edifícios públicos em projeto, foi proposto transformar a planície chamada de “Várzea em Basseville”: - edificar-se ia um museu com um jardim botânico.
Porto Alegre torna-se ia uma das mais belas cidades do Brasil e uma das mais importantes no intercâmbio comercial.
Existem apenas escolas primárias, e se instala uma escola primária superior.
Há um teatro, em um galpão subterrâneo, e está em projeto outro na Rua do Ouvidor, que nos dias de chuva se torna uma verdadeira catarata.
Publicam-se quatro ou cinco periódicos, inteiramente consagrados à política, os habitantes, da mesma maneira que todos os das outras cidades do Império, estão divididos em dois partidos:
- Caramurus, compreendendo os simpatizantes do governo monárquico, e
- Farroupilhas ou “sans culottes”, simpatizantes do sistema republicano.

- Os portugueses da Europa, detestados no Brasil, por causa de sua posição à marcha do progresso dos povos, são chamados de “pés de chumbo”. Por sua vez, eles dão aos brasileiros o nome de “pés de cabra”.

As festas:
- Do Espírito Santo (Pentecostes) celebram-se com pompa, como nos tempos do Concílio de Trento.
As sacadas são guarnecidas de ricos tapetes de seda bordada com franjas de ouro; as confrarias azuis sucedem-se às vermelhas, estas às brancas, e estas às cinzas. Cada um leva relicários de santos, suntuosamente ornados, e depois três dias, vendem-se publicamente, ao lado da igreja, rosários, escapulários, galinhas assadas, pastéis, licores, etc. – Viva a Roma!

A moda e estilo na região de Porto Alegre, seguia a Corte no Rio de Janeiro e esta imitava a Lisboa ou Paris:
Das Mulheres:
- As damas finas usavam veludo, tafetá e seda em vestidos rodados, por baixo saias de armação. Ao andar pelas ruas nos dias de sol, com chapéus ou cabelos presos por um pente espanhol, as elegantes não dispensavam delicadas sombrinhas, luvas, leques de marfim ou madrepérola.
Nas demais, o adorno máximo é um vestido de cetim branco, bordado e palhetado de ouro e prata, sapato e luvas de cetim, e muitas jóias; o penteado se completa com flores artificiais.
O vestuário diário é diferente; ainda que elas sigam de boa vontade a moda francesa, sobretudo, gostam de cores vivas e desenhos bizarros Como são muito econômicas e sedentárias, e tomam sempre o maior cuidado com as suas roupas, também as modistas não ganha mais em Porto Alegre do que os boticários!
Um chapéu dura uma eternidade, e modas que maravilham o Brasil são antiquadas há mais de seis anos no exterior.
Enormes chapéus de esparteira e tafetás, sobrecarregados de laços de fita, casacas escocesas, vestidos vermelhos, e outras monstruosidades semelhantes.
Nas igrejas, freqüentadas somente por beatas e meretrizes, conservam ainda o traje negro e a mantilha de Portugal, vestuário da igreja de outrora.
As mulheres viajam como em todo o Brasil assaz curiosa: - não tem escrúpulo de andarem escarranchadas como homens, e por isso usam largas calças por baixo dos vestidos; além disso, trajam longas sobrecasacas, espécie de amazonas, algumas vezes de pano azul, mas ordinariamente de chita da Índia, de flores ou listras.
Possuem por toucado um imenso chapéu de tafetá, feltro ou castor, ornado de plumas de avestruz negras e longas, em forma de penacho.
Quando favorecidas pela sorte parecem-se muitos com as nossas grandes e poderosas damas da velha nobreza do campo (na França). E não penseis que essas brasileiras do campo não possuam certa espécie de dignidade natural; ao contrário, apesar de nunca terem saído de suas estâncias, chácaras e fazendas, e em tempo algum abandonado sua vacas, plantações de algodão ou de feijão, senão apenas para irem à pequena cidade vizinha, e embora na mais crassa ignorância, não deixam de cultivar, no mais alto grau, suas vaidades, susceptibilidades e ares de grandeza. Quando viajam, seja par ir à cidade, ou visitar alguma vizinha, coisa que acontece raramente, ostentam grande luxo nos arreios de seu cavalo.
São cobertas de prata maciça a rédea, a testeira, os recados, as esporas e os estribos em forma de turíbulo.
É necessário que uma mulher seja muito pobre para não ter ao menos cabaceira, estribos e esporas de prata.

Dos Homens:
- Seguem também a moda parisiense, são de boa aparência, geralmente falando, melhores que as mulheres, no conjunto embora tenham o defeito comum de possuir um nariz longo e pontudo.
É uma ligeira modificação do dos portugueses que o tem grosso e carnudo.
Os políticos, a boa aparência inluia a casacas de corte europeu, jabôs de rendas sobre camisas engomadas, calças de veludo, polainas, perucas de rabicho.
Os demais homens não ostentam menos luxo: - seus cavalos tem rabicho, sobre-chinchas e cabrestos, bem como todo o resto dos arreios, cobertos por placas de prata; levam ainda na mão, como os argentinos, um pequeno rebenque, com um cabo muito curto de prata maciça.
O cabo e a bainha de sua faca punhal são também de prata.
O traje dos homens do campo é mais rico do que os gaúchos argentinos e orientais; consiste em grandes botas, ma larga calça de veludo azul, uma jaqueta de pano azul, um amplo casaco de pano e um grande chapéu de abas largas levantadas dos lados e atado sob o queixo por um cordão terminado em duas borlas.
Muitos levam no verão, jaquetas de chita da Índia de cor e os homens distintos trazem sobrecasaca de chita da Índia, espécie de “robe de chambre”.
Todos andam armados, em viagem, de uma longa espada como no tempo da conquista e de um par de pistolas, penduras do cinturão, que leva uma pequena cartucheira.

Os Escravos Negros
- Vi essas coisas no ano da graça de 1834, em Porto Alegre e outras regiões do Rio Grande:
- Aqui, como em todas as antigas possessões espanholas e portuguesas, os Negros e Mulatos são operários, quer dizer homens laboriosos, trabalhadores, aqueles, que tem necessidade de exercitar a sua inteligência, mas tem a desgraça de serem escravos e, sobretudo, de ser Negro.
Estes são necessariamente brutos, vis usurpadores do nome de homens.
No entanto, esses brutos asseguram a subsistência e todas as alegrias da vida aos seus preguiçosos Senhores.
Sabeis como esses senhores, tão superiores, tratam seus escravos:
- Como tratamos nossos cães!
– Começam por insultá-lo. Se não vem imediatamente, recebem duas ou três bofetadas da mão delicada de sua Senhora (Sinhazinha ou Sinhá), metamorfoseada de harpia (), ou ainda um rude soco, um brutal pontapé de seu grosseiro Amo e Senhor (Sinhozinho ou Sinhô): - se resmungam são ligados ao primeiro poste e então o Senhor e Senhora vem, com grande alegria no coração, para ver como são flagelados até verteram sangue aqueles que não têm, muitas vezes, outro erro que a inocência de não ter sabido adivinhar os caprichos de seus Senhores e patrões!
Feliz ainda o desgraçado Negro, se seu Senhor ou sua Senhora não tomam, eles mesmos, uma corda relho, pau ou barra de ferro e não batem, com furor brutal, no corpo do escravo, até que pedaços soltos da pele deixem correr sangue sobre seu corpo inanimado. Porque geralmente se carrega o negro sem sentidos para curar seus ferimentos, sabeis com que? – com sal e pimenta, sem dar-lhes mais cuidado do que se presta a um animal, atacado por feridas, e que se quer preservar dos vermes.
Julguem que esse tratamento não seja menos cruel do que as fustigadas do rebenque ()?
Vi mais ainda. – Há Senhores tão bárbaros, principalmente no campo, que fazem incisões nas faces, espáduas, nádegas ou coxas de seus escravos, a fim de colocar pimenta. Outros levam seu furor frenético até o ponto de assassinar um Negro e atira-lo como a um cão, numa cova; - e se alguém, surpreso pela sua ausência, se informa da sorte do Negro, ele responde friamente; “Morreu” (o filho da p... morreu). Ninguém mais fala nisso.
Há, entretanto, leis severas para essa espécie de crimes, mas como observa Balzac:
“As leis nunca impedem a violência dos poderosos e ricos, mas atingem os pequenos que, ao contrário, tem necessidade de proteção”.

Disse Charles Darwin sobre o Brasil onde passou vários meses:
- Se surpreendeu com o fato de todas as cargas serem carregadas no lombo de escravos e, ironicamente, diz suspeitar que “os brasileiros desconheciam a invenção da roda”.

- Admiram-se como os negros não se revoltam contra os brancos.
Observa-se que os legisladores das colônias modernas empregam, para defender o tratamento dos Negros, os mesmo sofismas (meias verdades) que eles combatem, quando os Turcos querem legitimar o cativeiro dos brancos que já acontecem desde antes de Cristo, mas todos esses sofismas cairão por serem absurdos.
A aristocracia da “pele” cairá como todas as outras aristocracias!
- Demos tempo ao Tempo!

- As roupas dos escravos no Palácio do Governo e nas casas mais ricas usavam librés vermelhas e perucas brancas.

(baseado no texto de Arsène, Isabelle – 1834, tradução de Dante de Laytano)

Pirâmide Social
- O escravo formava a base da pirâmide social na época. Negros eram mão-de-obra em toda a Província, menos da zona colonial, onde as atividades eram desempenhadas pelos próprios colonos ou ajudantes pagos.
Lutaram na Guerra dos Farrapos a mando dos donos ou pela promessa de alforria aos sobreviventes. Os Negros formavam cerca, de 25% da população da Província.

- No patamar acima dos escravos estavam os Soldados e Peões.
Os peões eram os gaúchos, gaudérios, um tipo singular de trabalhador, quase sempre mestiços, analfabetos e sem propriedade. Viviam de trabalhos braçais relacionados à vida do campo. Chegaram a ser a maioria da população no sul da Província. Assim como os escravos os peaões estavam a serviço das estâncias e criava o compromisso de ir a guerra sob o comando do patrão.

- Pelo “Ato Adicional” de 1834, os “estancieiros” passaram a ser chefes de tropas da Guarda Nacional, oficiais vitalícios.
Os demais sem-terra que vagavam pelos campos ainda sem cercas “ peões, changadores, posteiros, índios vagos e escravos”, se tornaram soldados de ocasião. Não obedecer a convocação do estancieiro era correr risco de vida.

- A pirâmide social formava-se ainda com um terceiro nível, o dos Operários, Caixeiros viajantes, Artistas, Professores, Funcionários Públicos, Guarda-Livros, Colonos, pequenos Comerciantes, Capatazes e Suboficiais.

- No topo da pirâmide estava o Estancieiro, donos das charqueadas, Militares de primeiro escalão, grandes Comerciantes – importadores e exportadores, e o alto Clero.

Em 28 de abril de 1834, na noite, em Porto Alegre, chegou o novo presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga saudado pelos liberais, que tinham esperança de contar com um governo favorável às reivindicações Farroupilhas.
Foi recebido com pompas liberais, saudado pela banda do 8º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre.

Em 02 de maio de 1834, em Porto Alegre, assume o governo da Província do Rio Grande de São Pedro o Dr. Antônio Rodrigues Fernandes Braga (indicado pelo Coronel Bento Gonçalves da Silva), seu primo, que inicia seu governo em Porto Alegre, e termina em Rio Grande pelo avanço dos rebeldes Farroupilhas em 15/01/1836. (confirmar o parentesco)

- No dia da posse houve festa na praça em frente ao Palácio do Governo, Fernandes Braga era considerado honesto e de boas intenções, liberal recomendado justo por Bento Gonçalves.
Acontece que Fernandes Braga era irmão de Pedro Rodrigues Chaves, caramuru (imperial) extremado e violento, que editava o jornal “Correio Oficial” para combater os farroupilhas.

Em junho de 1834, no Brasil, os partidários de D. Pedro I, os Caramurus, esperavam vê-lo desembarcar no Brasil, logo que tivesse terminado a guerra sucessória em Portugal, o que não aconteceu, pois D. Pedro jamais voltou ao Brasil depois da abdicação.

Em 12 de agosto de 1834, no Brasil, o governo Imperial no Rio de Janeiro, editou um Ato Adicional a Constituição, a maior reforma constitucional durante o Império, em linhas gerais:
- Foi criando as Assembléias Provinciais, em substituição aos Conselhos Gerais ou Provinciais.
- Foi concedido maior autonomia às províncias.
- Foi abolido o Conselho de Estado, ligado ao Imperador.
- A cidade do Rio de Janeiro, capital do Império passa a constituir um “município neutro”.
- A Regência Trina é substituída pela Regência Una.
O ato vetava o direito das assembléias legislarem sobre impostos.

- Em Porto Alegre, o Conselho Provincial estava instalado no prédio da Casa da Junta. Os Farroupilhas quizeram comemorar com uma passeata.
Aproveitando que o presidente da Província Fernandes Braga estava em Rio Grande para casar e passar lua de mel, seu irmão Pedro Rodrigues Chaves organizou uma força de repressão, a passeata se transformou em pancadaria.
Fernandes Braga e Bento Gonçalves já haviam rompido.

Em 22 de setembro de 1834, em Porto Alegre, um conjunto de amadores, aluga uma casa inacabada na Rua de Bragança (Marechal Floriano) um pouco abaixo da Rua da Igreja (Duque de Caxias) para montar o Theatro Dom Pedro II, onde foram encenadas peças como: - “Otelo” de Shakespeare.
O teatro permaneceu em atividade até 27 de julho de 1858.

Em 1835, no Brasil, Rio de Janeiro, é inaugurada a primeira “Sorveteria” do Império.

Em 1835, no Brasil, na Província do Grão-Pará, acontece um levante popular antimonarquista de negros, de mestiços e índios contra a ordem estabelecida pela elite de Belém, tem início a Cabanagem.

Em 1835, na Província de São Pedro, havia apenas 374 índios na região Missioneira, durante as reduções jesuíticas chegaram a “25 mil guaranis”, e baixou quase ao despovoamento com o domínio português iniado em 1801.

- Os Guaranis lutaram tanto ao lado dos combatentes imperiais quanto nas tropas farroupilhas. Mas nunca deixaram de ser um segmento social marginalizado, usado para atender interesses econômicos e políticos.

- O município de São Borja abrangia toda a região das Missões, tão grande era seu território que se estendia desde Alegrete até Vacaria. A sede era o mais antigo núcleo urbano do Rio Grande do Sul, fundado em 1682 e sempre habitado.
Em fevereiro de 1821, na passagem que Saint-Hilaire evidencia a miséria e o abandono:
- “Só se vêem soldados e fuzis. A cada passo encontramos sentinelas, e diante da casa do comandante, outrora residência dos jesuítas, estão enfileirados diversos canhões.”

Até 1835, em Porto Alegre, a cidade foi um “município agrícola”, extensas “chácaras e trigais” ocupavam as zonas que ficavam além da linha de fortificações que delimitava o núcleo urbano.

Em janeiro de 1835, no Brasil, na Província da Bahia, acontece a Revolta dos Malês, negros escravos da África Oriental que sabiam ler e escrever.

Em abril de1835, no Brasil, Rio de Janeiro, se realizaram as eleições para a Regência Una respeitando o Ato Adicional à “Constituição de 1824”, a mais profunda mudança ocorrida na Constituição do Império. Apesar das inúmeras candidaturas, a eleição acabou se definindo entre dois concorrentes:
- Padre Diogo Antônio Feijó, ex-ministro da Justiça e
- Hollanda Cavalcanti, fazendeiro de Pernambuco.

Em 07 de abril de 1835, em Porto Alegre, realizaram-se as eleições para Assembléia Provincial.
Antônio Álvares Pereira Coruja foi incluído na “Chapa Liberal” e conseguiu 35 votos, ficando na suplência (neste tempo o voto era cencitário e mulher não votava).

Em 20 de abril de 1835, em Porto Alegre, capital do Continente de São Pedro (como era conhecido a Província de São Pedro) é instalada a primeira Assembléia Provincial (atual Assembléia Legislativa) criada pelo Ato Adicional de 12 de agosto de 1834, no prédio da Casa da Junta, formado por 14 municípios:
- A capital Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Pelotas, Jaguarão, Piratini, São José do Norte, Alegrete, Caçapava, Cachoeira, Triunfo, Cruz Alta e São Borja.
Dos 28 deputados três eram “sacerdotes”, e os demais, a maioria era Farroupilha.

- Exatamente neste dia aconteceu o incidente que propiciou a Revolta Farroupilha.
Na fala de abertura, o Dr. Antônio Rodrigues Fernandes Braga, presidente da Província, acusou o coronel Bento Gonçalves da Silva, deputado eleito, de articular um plano para a separação da Província do Império com caudilhos uruguaios.
O irmão de Fernandes Bragas, Pedro Rodrigues Chaves pos mais lenha no jornal “Correio Oficial”.
Aproveitando-se do seu cargo de comandante da fronteira do Jaguarão, Bento Gonçalves estaria mobilizando gente no Uruguai para este fim. A acusação do presidente da Província foi secundada pelo comandante de Armas, o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto.

- A denúncia provocou escândalo, e confirmou-se desde logo o confronte existente entre uma postura dita “Liberal”, à qual pertencia Bento Gonçalves, e uma governista, partilhada pelos chamados “Conservadores”, caramurus, camelos, pés-de-chumbo.

- Assim nascia a Assembléia Legislativa da Província do Rio Grande de São Pedro, a maior parte de seus deputados se podiam chamar de “Farroupilhas, Liberais, e Exaltados”.

Farroupilha
- A palavra Farroupilha vem do português: - Farroupa é o mesmo que “farrapo, trapo, pano velho, gasto, esfarrapado, mal trajado”.
Empregado pelos inimigos dos rebeldes, a palavra nunca foi usada oficialmente pelos revolucionários.
Segundo Walter Spalding:
- “É de farroupa que se originou a palavra farroupilha, que os revolucionários do Rio Grande do Sul, em 1835, aceitaram e engrandeceram, fazendo dela legítimo padrão de glórias.”

Em 25 de abril de 1835, em Porto Alegre, o presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nomeou Antônio Álvares Pereira Coruja para a “Cadeira de Filosofia Racional e Moral”, com ordenado de 600$000,00 réis anuais.

Em 27 de junho de 1835, em Porto Alegre, a Lei Provincial determina a criação da Cadeia Civil.

- O Presidente da Província Antonio Rodrigues Fernandes Braga, governava sem maioria, e a cada dia ficava mais impopular. Aderiu às forças políticas que apoiavam o Império e denunciou uma conspiração:
“Os políticos gaúchos estariam se unindo a uruguaios e argentinos para separar a Província do resto do Império.”

- O grupo “Liberal” passou a tramar efetivamente a eclosão de uma revolta, que teria por chefe Bento Gonçalves da Silva. Nas casas dos sediciosos, nas “sociedades secretas” e nos quartéis, a palavra de ordem apontava numa só direção: - dar um basta ao centralismo monárquico e depor o presidente da Província.

Em 14 de setembro de 1835, em Porto Alegre, Antônio Álvares Pereira Coruja assumiu uma cadeira na Assembléia Provincial, sendo eleito 2º e depois 1º secretário da Mesa.

Em 15 de setembro de 1835, em Porto Alegre, o Visconde de Camamu avisa o presidente da Província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, que os conspiradores rio-grandenses estão em trabalho ativo para deflagrar uma revolução.

- As notícias são desencontradas, e as pessoas na capital Porto Alegre se perguntam temerosas, se não estava chegando mais uma guerra a sua porta.

- A falta de atenção dos “caramurus” deixara a Província desguarnecida no interior havia apenas o batalhão de infantaria, com 80 homens, em São Borja; o corpo de artilharia, com 80 praças, em Rio Pardo; e três regimentos de cavalaria, distribuídos em São Gabriel, Bagé e Jaguarão.
No total, cerca de 300 soldados, menos do que tinha a tropa do capitão José Gomes de Vasconcelos Jardim e Onofre Pires que acamparia na Azenha, na zona sul de Porto Alegre.

- O Palácio do Governo sem defesa, pois o comandante de Armas marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto, estana na fronteira em missão corriqueira. O presidente da Província Fernandes Braga nomeou o veterano brigadeiro Gaspar Francisco Menna Barreto, como comandante-geral.
Menna Barreto e o Visconde de Camamu, comandante da Legião da Guarda Nacional da comarca, deviam organizar a resistência. Além do próprio irmão de Fernandes Braga, o chefe da polícia Pedro Chaves.

A Revolução Farroupilha começa em Porto Alegre.

- Vindo de Jaguarão o comandante da Guarda Nacional na Fronteira Sul, coronel Bento Gonçalves da Silva, estava na Estância Cristal de Pedras Brancas do capitão José Gomes de Vasconcelos Jardim transformada em quartel-general, pronto para invadir Porto Alegre.

Em 18 de setembro de 1835, em Porto Alegre, Onofre Pires e Gomes Jardim com as tropas de revoltosos vindos da Praia da Alegria de Pedras Brancas (atual cidade de Guaíba), pelo Lago Guaíba passaram pela Ilha das Pedras Brancas (atual Ilha do Presídio) no meio do rio (que dá nome ao Arraial de Pedras Brancas), onde se reuniram antes de se dirigirem para Porto Alegre.

 - Aportam e acampam nas imediações da Ponte da Azenha, nas cercanias da moenda do “Chico da Azenha”, no sul da cidade, na atual lomba do Cemitério e requisitaram peões na Capela Grande de Viamão, quatro léguas da Capital.
As tropas iriam abrir caminho pelo sul até a Capital.

Em 19 e setembro de 1835, na tarde, em Porto Alegre, o presidente da Província Fernandes Braga caminhava nervoso pelas salas do Palácio do Governo. A cidade estava deserta.

- Ao anoitecer, Porto Alegre sabe dos rumores de revoltosos Farroupilhas acampados nas cercanias e dorme preocupada. O Morro da Azenha ficou transformado em pequena povoação de tendas. As tropas iriam descer no amanhecer de 20 e invadir Porto Alegre.
Os imperiais são avisados do acampamento de forças republicanas, além do Riacho (Arroio Dilúvio).

- O governo envia pelotão comandado pelo Visconde de Camamu, comandante da Legião da Guarda Nacional, para confirmar os rumores, se dirigiram a “Ponte da Azenha” (um pontilhão de madeira), no fim dos Campos da Várzea levando o pelotão que improvisou no Palácio do Governo (duas dezenas de homens sem preparo).
Do pequeno grupo fazia parte Antônio José Monteiro, o “Prosódia”, inimigo dos farrapos, redator do jornal imperialista “O Mestre Barbeiro”, o velho Brigadeiro Alves Leite, que se vangloriava da experiência guerreira, funcionários públicos, comerciários e alguns militares.

- No acampamento Farroupilha em cima do Morro da Azenha (atual Morro do Cemitério), Onofre Pires mandou o capitão Manoel Vieira da Rocha, conhecido por “Cabo Rocha”, ir com mais três homens vasculhar a área.

Era 20 de setembro de 1835, no início da madrugada, em Porto Alegre, o Visconde de Camamu que conhecia bem a cidade, vinha à frente, quando chegaram à ponte, o Cabo Rocha avistou vultos, ordenou o ataque.
Na primeira investida o Visconde de Camamu caiu do cavalo, ferido no ombro por uma lança. O cavalo do visconde se assustou, deu meia volta e saiu em disparada, atropelando a patrulha, que debandou.
O Prosódia recebeu uma estocada fatal no peito e, atropelado por cavalos, morreu gritando na beira do arroio.
O brigadeiro Alves Leite, prensado na ponte por dois cavalos se jogou nas águas do arroio, seu corpo foi encontrado no outro dia preso a galhos.

- O pelotão ao ver isso pensando serem centenas de farroupilhas, fugiu e se dispersou pelas casas mais próximas em socorro.
Foi a primeira vitória Farroupilha “era o batismo de fogo”.
Tem inicio a Revolução Farroupilha a Guerra dos Farrapos.

- O resultado desta primeira noite: - um morto e quatro feridos, inclusive o Visconde de Camamu.

- o Visconde de Camamu se arrastou pela Várzea rasgando a roupa nos arbustos e espinheiros do caminho. No portão da cidade (atual Praça do Portão) o visconde teve dificuldade de se identificar para o sentinela, pois o fardamento estava até sem os detalhes.
Quando chegou ao Palácio da Província, Camamu estava sem o cavalo, ensangüentado e sem uma bota Para superar a vergonha, o visconde ampliou o tamanho do exército:
- “Presidente, são mais de mil homens. Lutamos, tivemos baixas, fomos obrigados a voltar.”

- No alto do morro, depois de receber o relato do Cabo Rocha sobre o que tinha ocorrido na Ponte do Chico da Azenha, Gomes Jardim escreveu um bilhete cifrado a Bento Gonçalves, na Estância Cristal em Pedras Brancas:
- “Fomos muito bem no negócio da farinha. Aguardamos sua palavra para negociar na Capital. Seria bom mandar mais gente e cavalos para o transporte das barricas”.
O bilhete foi enviado pelo cabo Silvio Jardim (filho de Gomes Jardim), na escuridão contornou a cidade rumo sul até a beira do Guaíba, lá um veleiro o esperava.

- O presidente da Província Dr. Antônio Rodrigues Fernandes Braga reuniu a família e concentra sua resistência em torno do Arsenal de Guerra, no fim da Rua da Praia, sob a escolta de 17 oficiais leais, não tendo tropas suficientes, pois a Guarda Nacional aderiu aos revoltosos; e as tropas Imperiais estavam a mais de 200 km de distância em Rio Pardo. Em conversa com o irmão Pedro Chaves, decidiu partir.
Fernandes Braga volta ao Palácio do Governo e na Alfândega e junta os dinheiros dos cofres e embarca na escuna Rio-Grandense e refugia-se na Villa de Rio Grande, onde havia sido juiz da comarca.
Durante a correria para levar tudo ao porto, o presidente redigiu uma mensagem à Corte, no Rio de Janeiro.

Villa de Rio Grande
- Única porta de entrada da Província pelo mar, por mais que tentassem, os farrapos nunca conseguiram ocupar Rio Grande. Fortaleza estratégica, a ligação da barra sempre esteve sob domínio dos imperiais.
A região de Rio Grande não chegou a ser cenário de qualquer luta armada. Inacessível a ataques farroupilhas, a cidade marítima se tornou centro de desembarque e acampamaneto de tropas caramurus e o entreposto natural de todo o comércio da área dominada pelos legalistas. Foi QG do exército imperial e, depois do episódio farroupilha, atraiu uma grande quantidade de comerciantes uruguaios e argentinos, que fugiam das confusões políticas da região do Prata.

- Pela manhã, os Farroupilhas recebem ordem de Bento Gonçalves de invadir a cidade, ele queria estar junto, mas só chegara no dia 21.
Antes de chegar ao portão da cidade (atual Praça do Portão) deviam passar pelo quartel do 8º Batalhão de Caçadores. Era territótio imperial, mas comandado pelo major carioca João Manoel de Lima e Silva, farroupilha, os soldados vieram ao encontro dos rebeldes em gritos:
- “Viva Bento Gonçalves! – Viva Bento Gonçalves!.”
Os rebeldes farroupilhas entram em Porto Alegre, seguiram pela Rua da Igreja (Duque de Caxias) invadir o Palácio do Governo, já abandonado.

Em 21 de setembro de 1835, na manhã de sol, em Porto Alegre, o vitorioso coronel Bento Gonçalves (monarquista, lutando contra os desmandos do governador por ele indicado), 46 anos, atravessou o Guaíba em barcaças que saíram da Praia da Alegria trazendo cavalos e soldados.

- A entrada do coronel Bento Gonçalves da Silva em Porto Alegre foi triunfal, os oficiais vinham vestidos com o uniforme da Guarda Nacional, medalhas, barretinas vermelhas emplumadas, espada na cintura e lanças na mão. As pessoas que estavam nas ruas aplaudiram e deram “Vivas!”

- A população acompanha Bento Gonçalves que se dirige a Câmara (Assembléia Provincial). A Câmara, dentro de suas atribuições legais, considerou vago o cargo de presidente da Província e dá posse ao quarto vice-presidente, o médico farroupilha Marciano Pereira Ribeiro. Os outros três vices alegaram doença e não compareceram quando convocados.

- O novo governo da Província prometeu punir saques e garantiu o retorno dos que tinham abandonado a cidade de Porto Alegre. O Arsenal de Guerra estava intacto, por descuido do marechal Menna Barreto.

- Após Bento Gonçalves redigiu uma proclamação para os “riograndenses e brasileiros de outras províncias”.

- Além de Porto Alegre foram ocupadas pelos farroupilhas as câmaras de Piratini, Cachoeira e Santo Antônio da Patrulha.

- Os líderes da revolta Farroupilha não estavam em farrapos: - eram estancieiros e charqueadores, donos de muitas terras, muito gado e muitos peões, era dono de um exército e cada peão um soldado. Eles usaram a mítica e os ideais do “Gaúcho” para defender uma causa justa.
A Guerra dos Farrapos foi, basicamente, uma luta contra o centralismo do Governo Imperial, a corrupção desenfreada e os desmandos de uma Corte frívola e ineficiente.
Foi mostrado ao Governo Imperial que era preciso uma reforma tributária e que os impostos sobre o “charque”, principal produto do Rio Grande do Sul estavam altos demais e sobretaxados.
As singularidades da Guerra dos Farrapos são próprias da mais meridional das Províncias do Império: - uma fronteira em armas, quase uma terra de ninguém, conflituosa já há 150 anos.
Os desdobramentos do conflito iriam perdurar por dez longos e terríveis anos, clamar muitas vidas e ecoar por todo o Brasil até que, do turbilhão de pólvora e morte, o “Gaúcho” re-emergisse como figura histórica, com voz própria, embora se mantivesse parte do Império do Brasil.

Bento Gonçalves da Silva
- Herói gaúcho, suíças amplas, rosto sempre bem barbeado, cabelos castanhos e crespos cada vez mais grisalhos, o coronel, de estatura mediana, mantinha-se esbelto e atlético. Simpático, elegante, tinha sorriso fácil e modos gentis. Mas quando ficava nervoso, infrentava qualquer inimigo ou situação.
Nascido em Trunfo, filho de estancieiros ricos, Joaquim Gonçalves da Silva e Perpétua da Costa Meireles (era da família de Jerônimo de Ornellas, madeirense (ilha da Madeira), dono da sesmaria que deu origem a Porto Alegre). Aos 26 anos casou-se com Caetana Garcia y Gonzales (16 anos), filha do espanhol Narciso Garcia, um dos maiores estancieiros da região da Fronteira. Teve 7 filhos com Caetana, sendo 4 homens.
Depois de 35 anos de lutas, tanto no Uruguai como no Brasil e na República Rio-Grandense, Bento Gonçalves volta para casa arruinado, sua estância falida, doente sem condições de recomeçar.
Em 18 de julho de 1847, morreu vítima de pleurisia (inflamação da pleura), aos 58 anos.

Em 25 de setembro de 1835, em Porto Alegre, o jornal “Recopilador Liberal” publicou na íntegra o longo texto da proclamação de Bento Gonçalves.

- Depois de explicar as razões do movimento armado, convocou todos para a manutenção da ordem e da liberdade.

Em 12 de outubro de 1835, no Brasil Rio de Janeiro, capital do Império, o Padre Diogo Antônio Feijó assumiu a Regência para governar quase 6 milhões de habitantes, sendo mais da medate formada por índios, mestiços e negros.
Renunciou ao cargo em 19 de setembro de 1837.

- Em Porto Alegre, o coronel Bento Gonçalves envia carta ao Regente Feijó, administrador do Império do Brasil no Rio de Janeiro, que poderia ser confiável:
- “... E, em nome do Rio Grande, lhe digo que nesta província extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da Corte, não toleramos imposições humilhantes nem insultos de qualquer espécie...”

- O Governo Regencial tentou apaziguar o movimento Farroupilha, nomeando para a Província do Rio Grande um novo presidente.

Em 20 de novembro de 1835, no Brasil, Província de São Pedro, na Villa de Rio Grande chegou ao porto o novo presidente da Província o deputado José Araújo Ribeiro, nomeado pelo Regente do Império Padre Feijó.

- Em Pelotas, o charqueador Boaventura Rodrigues Barcellos, promoveu um baile em seu solar, no centro da cidade. A intensão era facilitar o entendimento inicial entre o líder Farroupilha, coronel Bento Gonçalves, e o novo presidente José Araújo Ribeiro. Mas os dois convidados não se entenderam.

- Dia 09 de dezembro era a data prevista para José Araújo Ribeiro assumir como novo presidente da Província. A Assembléia Provincial, convencida por Pedro Boticário, sempre um dos mais exaltados, exigiu mais dias até a efetivação e posse
Araújo Ribeiro vai para Porto Alegre na estância da família na Barra do Ribeiro.

- O Dr. Marciano Pereira Ribeiro, presidente interino, pediu exoneração e, como deputado, juntou-se a maioria farroupilha na Assembléia Provincial.

Em 1836, na Europa, Inglaterra, foi inventado o Telégrafo, o americano Samuel Morse cria o Código Telegráfico formado por traços e pontos, que leva o seu nome.

Em 1836, em Porto Alegre, os moinhos de vento para moagem de trigo localizados no Beco do Barbosa (Rua Barros Cassal) com o Caminho dos Moinhos (Rua da Independência), foram demolidos para não servirem de “ponto de tiro alto” contra a cidade, durante a Revolução Farroupilha.

Em 1836, na metade do ano, em Porto Alegre, os “Farroupilhas” já dominavam parte de São Leopoldo, Sapucaia, Feitoria Velha, Lomba Grande e o distrito de Santana.

Em 15 de janeiro de 1836, no Brasil, Província de São Pedro, na Villa de Rio Grande é preparada a posse na Câmara Municipal do presidente da Província José Araújo Ribeiro o qual não foi reconhecido pela Assembléia Provincial dominada pelos Farroupilhas reunida em Porto Alegre.
O fato deixou a Assembléia em Porto Alegre em polvorosa, que não reconhecia o ato.

Em 03 de fevereiro de 1836, em Porto Alegre, na Feitoria Velha (atual São Leopoldo), colônia alemã, é lançada a primeira edição do jornal com propaganda republicana O Colono Alemão, “Der Colonist”, o periódico redigido e editado por Hermann von Salisch, ex-oficial do exército prussiano, professor de línguas e música em Porto Alegre, glorificava os feitos conseguidos pelos farrapos. Só durou 10 edições por ser editado em alemão.

Em 14 de junho de 1836, 11h00min, noite fria, em Porto Alegre, nove meses depois da conquista da capital pelos “Farroupilhas”, a Praça da Matriz no Alto da Praia, estava deserta, os rebeldes relaxaram a guarda.

- De repente “um tiro”, na Praça.
Era o sinal para a retomada de Porto Alegre pelos Imperiais.
O ataque foi tramado pelo tenente alemão Henrique Guimarães Mosye, que estava preso no 8º Batalhão de Caçadores (na Praça do Portão), junto a outros imperiais.
Com suborno, pegou armas, tomou o quartel, juntou 30 soldados fiéis e mais 54 presos e surpreendeu três patrulhas que policiavam a cidade, tomou o Forte da Caridade, trincheira junto a Santa Casa, em seguida abordou o barco prisão Presiganga, ancorado em frente à Praça Harmonia, libertando 13 prisioneiros, entre eles o major Manuel Marques de Souza (futuro Conde de Porto Alegre), o major Souza assumiu a direção do movimento, mas passou em seguida ao marechal João de Deus Menna Barreto.
Em poucas horas, as frágeis linhas de defesa da cidade e do Arsenal de Guerra (localizado onde cruzam a Rua Bento Martins e a Rua da Várzea) caiu nas mãos dos “Caramurus”.
Houve 54 presos entre eles o doutor Marciano Pereira Ribeiro, diversos oficiais e colonos alemães que tinham aderido aos revoltosos, também foi preso o comerciante português Pedro José de Almeida, o “Pedro Boticário”, que na tomada de Porto Alegre, havia sugerido a deportação dos prisioneiros imperiais como medida de segurança, e outros importantes políticos e homens de projeção, Antônio Álvares Pereira Coruja entre eles, foram aprisonados no Quartel do 8º Batalhão de Caçadores e dali exilados para o Rio de Janeiro.

Porto Alegre era Imperial novamente, mas os Farrapos não se deram por vencido, e três grandes cercos foram feito por terra e água isolando a cidade.

Porto Alegre Fortificada
- A defesa da cidade tinha sido reforçada, seguindo o traçado de 1778. Além do fosso de uns três metros de largura, com trincheiras e muradas de madeira emendadas a construções existentes (ao redor da península no alto do espigão), com seu principal portão de acesso junto ao atual viaduto Loureiro da Silva ao lado da Santa Casa (antiga Praça do Portão), e outras pequenas aberturas vigiadas.
Esta barricada fortificada ia desde a foz do Riacho (depois do solar da Baronesa do Gravatay) na parte sul, seguindo pelas atuais: Rua da República, Rua João Pessoa, pelos muros nos fundos da Santa Casa, descendo o espigão até a margem do outro lado da península, indo terminar na atual Rua Pinto Bandeira, e assim ficaria até o fim do conflito.
- Um sistema de baterias (39 peças de artilharias e quatro obuses) fechava tudo em terra.
- No porto, a escuna Leopoldina se posicionava, no Guaíba uma corrente de amarras sobre bóias, para embarcações não descerem ou subirem o rio.
Nos Altos da Praia (na Matriz) as trincheiras protegiam o Palácio do Governo.
Este sistema de muradas e trincheiras não impediu os bombardeios da cidade.

Em 26 de junho de 1836, no Brasil, Província do Rio Grande de São Pedro, quando Bento Gonçalves soube que a capital Porto Alegre tinha sido retomada pelos imperiais, se enfureceu. A cidade tinha grande valor estratégico. Reuniu suas tropas e partiu para Porto Alegre onde a encontrou muito bem guardada e fortificada.

Primeiro Sítio (27.06.1836 – 18.09.1836)
- A capital Porto Alegre está sitiada por terra com tropas Farroupilhas enviada por João Manoel e por água a flotilha comandada por José Pereira da Silva Junior.
Mas a cidade está muito bem guarnecida.
No Caminho Novo, os Farroupilhas foram barrados pelos homens do major Manuel Marques de Souza, e, ao Sul, o sistema de defesa dos imperiais impedia Bento Gonçalves de progredir.

- A capital ficou as escuras durante quase toda a Revolução, pois a iluminação urbana foi um dos serviços paralisados.

Em 30 de junho de 1836, em Porto Alegre, Bento Gonçalves tentou, mais uma vez retomar a Capital. Porto Alegre era o ponto chave do movimento Farroupilha, mas foi rechaçado pelas forças imperiais.

Em 20 de julho de 1836, às 03h30min da madrugada, Porto Alegre foi atacado de surpresa pelos Farroupilhas, com três mil homens, entre os quais 300 colonos alemães engajados. O avanço principal comandado por Bento Gonçalves, aconteceu na Rua da Olaria (Lima e Silva), ponto fraco das fortificações.
Só que foi dificultado pelo lamaçal provocado pela chuva junto aos buracos de onde os oleiros retiravam o barro.
As ações dos revoltosos por terra foram apoiadas pela Esquadra Farrapa (brique Bento Gonçalves e o patacho 20 de Setembro), que se posicionou na Ponta do Arsenal, atirando contra a cidade.

- Perdendo a Capital, a área mais estratégica passava a ser o canal de Itapuã, onde os Farroupilhas tinham montado um fortim na Ilha do Junco em Itapuã (ainda existem os vestígios), para impedir o avanço dos Imperiais por água.

Em 25 de julho de 1836, em Porto Alegre chegaram às tropas de Bento Manoel Ribeiro para reforçar a ocupação farroupilha.

- Para se ver o desespero da população em Porto Alegre e Pedras Brancas (atual cidade de Guaíba); o curioso acontecimento:
- “O comandante Bento Manoel Ribeiro, antes de passar para o lado Farroupilha, retornava de uma missão em Caçapava onde trouxe uma boiada para a capital, onde a Câmara manda um ofício de agradecimento ao general, ao chegar em Pedras Brancas (Guaíba), mandou dar três tiros para avisar de sua chegada, o povo que ignorava esta convenção, fez o sinal provocar 10 minutos de silêncio e apreensão na cidade.”

- Havia tratativas e a guerra quase acabou, mas as decisões do presidente da Província (do Império) José Araújo Ribeiro, em Rio Grande (capital imperial provisória), demoraram e acontece a Batalha do Seival, vencida pelos Farroupilhas.

Em 02 de agosto de 1836, em Porto Alegre, o capitão inglês John Grenfell conseguiu ultrapassar Itapuã, com cinco canhoneiras, trazendo de Rio Grande mais de 300 soldados e o presidente da Província Araújo Ribeiro.

Em 18 de agosto de 1836, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, chega o navio de guerra “Pojuca”, com os revolucionários exilados de Porto Alegre.

Em 23 de agosto de 1836, em Porto Alegre, ao Sul, numa segunda tentativa, forças legalistas comandadas pelo coronel Francisco Xavier da Cunha e a Esquadra Imperial comandada pelo capitão inglês Guilherme Parker conseguiu tomar o fortim de Itapuã, que era defendida por 23 rebeldes Farroupilhas, mataram 15, inclusive o comandante Simeão Barreto (não de sabe se foi enforcado no mastro de um navio, ou se levou um tiro e se jogou na água).

- Perdidos em águas do Guaíba, os farrapos afundaram os “barcos Bento Gonçalves e 20 de Setembro”.

Em 11 de setembro de 1836, no Sul Brasil, na Província do Rio Grande do Sul, com a euforia depois de estrondosa vitória sobre as forças imperiais brasileiras na “Batalha do Seival”, contra as tropas de Silva Tavares, os oficiais republicanos ardorosos Joaquim Pedro Soares e Manoel Lucas de Oliveira convenceram o coronel Antônio de Souza Netto.
No Campo de Meneses, sem consultar outros líderes farrapos o entusiasmado Coronel Netto reuniu a tropa e leu a proclamação:
Bravos companheiros da Primeira Brigada de Cavalaria!
Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da Corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais da nossa Província, faz derramar sem piedade o sangue dos nossos compatriotas para, deste modo, fazê-la presa das suas vistas ambiciosas.
Camaradas! - Nós que compomos a Primeira Brigada do exército liberal, devemos er os primeiros a proclamar, como proclamamos a Independência desta Província, qual fica desligada das demais do Império e forma um Estado livre e independente, com o título de República Rio-Grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente.
Camaradas! – Gritemos pela primeira vez:
Viva a República Rio-Grandense!
Viva a Independência!
Viva o exército republicano rio-grandense!”

Em 12 de setembro de 1836, na República Rio-Grandense, em Jaguarão, o coronel Antônio de Souza Netto e 52 oficiais e sargentos assinam a “Ata da Proclamação da República Rio-Grandense”.

Antônio de Souza Netto
- Comandante Farroupilha, nascido em 25 de maio de 1803, em Povo Novo, cresceu na várzea à margem direita do Rio São Gonçalo. Estudou na Freguesia de São Francisco de Paulo (Pelotas). Filho de José Netto, estancieiro de Bagé.
Aos 25 anos Netto era capitão da Guarda Nacional. Depois da proclamação da República Rio-Grandense foi promovido a General.
Cavaleiro exímio, tido como homem bonito, alto, elegante, era também um pé-de-valsa. Galanteador adorava música e bailes. Enquanto durou a República Netto foi o Chefe do Estado Maior farrapo. Para não passar ao julgo do Império foi viver no Uruguai. Lutou na Guerra do Paraguai. Netto morreu em Corrientes Argentina em julho de 1866, ao sair ferido na Batalha do Tuyuty.

Nota:
- Walter Spalding lembra que o Império negava-se sistematicamente a conceder direitos aos revolucionários. Tudo cospirava contra os farroupilhas.
Para Spalding:
- “A proclamação da república foi, pois, um ato de desforra. O governo central com nada concordava e só queria destruí-los por completo. Foram, portanto, essas circunstâncias que obrigaram a esse passo que, antes, jamais fizera parte de suas cogitações.”

- Segundo Francisco de Sá, os farroupilhas sabiam que evoluiriam da independência para a república e, depois, para a proposta de uma federação brasileira formada por todas as províncias independentes do Império.
Conforme Sá Brito:
- “Os farrapos atingiram somente as duas primeiras etapas da sublime trilogia, não tendo podido, por circunstâncias estranhas a sua vontade, libertar as outras províncias da autocracia monárquica. A idéia, porém, sobreviveu e medrou em terreno fértil para frutificar em 1889.”

Em 18 de setembro de 1836, em Porto Alegre, o Exército Farroupilha levanta o primeiro sítio contra a cidade.

Em outubro de 1836, na República Rio-Grandense, o líder Farroupilha Bento Gonçalves é preso e levado primeiro para o Rio de Janeiro, onde tenta fuga frustrada, e depois para o Forte do Mar em Salvador na Bahia, onde conhece Garibaldi.
O governo da Província do Rio Grande do Sul com Araújo Ribeiro no comando acena com anistia, mas na virada do ano, na Corte no Rio de Janeiro, o Regente Feijó pressionado pela Câmara dos Deputados substitui Araújo Ribeiro pelo brigadeiro Antero de Brito, que acumula o cargo de comandante militar.

Em 05 de novembro de 1836, na República Rio-Grandense, a Câmara Municipal de Piratini proclamou a “Independência do Rio Grande do Sul”, elevando a Província a categoria de Estado livre, constitucional e independente do Império do Brasil, podendo as demais províncias se ligarem a ele.

Neste época o Rio Grande de São Pedro tem duas capitais:
- Porto Alegre, capital Imperial da Província.
- Piratiní, primeira capital da República Rio-Grandense.

- A República é instalada na Villa de Piratini (nome de origem indígena que significa “peixe-barulhento”), próxima a Rio Grande (cidade imperial) que é elevada à categoria de cidade, com o título de:
“Muito Leal e Patriótica”.
Permaneceu como capital da República até janeiro de 1839, quando foi transferida para Caçapava e passou novamente a vila.

- A instalação da República Rio-Grandense o promovido general Bento Gonçalves da Silva foi eleito primeiro presidente da República, apesar de preso no Rio de Janeiro. Como vices Antônio Paulino da Fontoura, José Mariano de Mattos, Domingos José de Almeida e Inácio José de Oliveira Guimarães.
Como presidente interino assumiu José Gomes Jardim.
Até a volta de Beto Gonçalves, um ano e meio depois, Gomes Jardim organizou o governo:
Domingos José de Almeida, ministro da Fazenda e do Interior,
José Mariano de Mattos, ministro da Marinha e da Guerra,
José Pinheiro Cintra, ministo da Justiça e do Exterior.
Foi resestruturado o serviço público, suspendeu o pagamento da dívida ao Império brasileiro, regulamentou a saída de gado da nova república.
Criou-se o serviço de Correio e construiu arsenais para a produção de armas e munição.
A “religião católica” passou a ser a oficial, administrada pelo padre republicano Francisco das Chagas.

Domingos José de Almeida
Mineiro, nascido em 1797, o mais intelectual dos líderes farroupilhas, o verdadeiro “cérebro da República”. Chegou na Província do Rio Grande em 1819. Em Pelotas, empresário bem sucedido, dono de companhia e navegação e próspero charqueador. Sempre esteve ao lado dos farroupilhas. Culto, sua biblioteca era a mais completa do Rio Grande do Sul, uma das melhores do Brasil. Lia os originais em inglês e francês. Chegou de major a coronel na Guarda Nacional. Era deputado da primeira Assembléia Provincial em Porto Alegre. Foi um dos que convenceo Antônio de Souza Netto a proclamar a República. Em 1838, comprou uma tipografia para o italiano Luigi Rissetti editar o jornal “O Povo”. Magro, fala mansa, elegância discreta, Domingos de Alemeida continuou a viver em Pelotas. Morreu em 1871.

Em 12 de novembro de 1836, na República Rio-Grandense, um Decreto assinado por Gomes Jardim e Domingos José de Almeida criou a “bandeira oficial Farroupilha”:
- “Será de ora em diante de forma de um quadrado dividido pelas três cores, assm dispostas: - a parte superior junto a haste, verde, formada por um triângulo isósceles, cuja hipotenusa será paralela à diagonal do quadrado. O centro, escarlate, formado por um hexágono, determinado pela hipotenusa do primeiro triângulo, e a de outro igual e simétricamente disposto, cor de ouro, que formará a parte inferior.”

Nota:
- Pelo decreto, a bandeira farroupilha original não previa a inclusão de nenhum outro símbolo ou brasão. Nem o escudo com as palavras Liberdade, Igualdade e Humanidade, que só apareceram na bandeira oficializada em 1891 no governo republicano de Júlio de Castilhos.

Em 1837, na Europa, Grã-Bretanha, com a morte do Rei Guilherme IV, a Princesa Vitória é coroada rainha da Grã-Bretanha e Irlanda.

- Tem início a “Era Vitoriana”.

No quadrênio 1834/1837, no Brasil Rio de Janeiro, a Câmara dos Deputados eleita ficou dividida com relação aos desígnios do país. Assim nasceram os partidos “Progressistas”, defensor de mais autonomia para as províncias inspirado pelo liberalismo, e o “Regressista”, que pretendia uma maior centralização do poder.

Em 1837, no início do ano, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, em conversa informal na Câmara, o deputado liberal José de Alencar (pai do escritor) diria:
“Julgo político irmos arranhando nos ânimos dos povos o amor a esse sujeitinho, porque só a essa âncora poderemos nos agarrar.”
O “sujeitinho” era Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, filho de D. Pedro I e D. Leopoldina, nascido em 02 de dezembro de 1825 e sobre o qual seria, de fato, jogado o peso da nação.

Em 1837, no Brasil, Província da Bahia, eclode a Sabinada que proclama a independência da Bahia em moldes republicanos.

Em 1837, no Brasil, começa a fase áurea da literatura romântica indianista brasileira, com destaque aos autores Gonçalves Dias e José de Alencar.

Em 1837, na República Rio-Grandense, em Piratini, capital da República, é fundado o jornal “O Povo”, concebido e editado por Luigi Rossetti, o jornal oficial da revolução, seguindo idéias de Domingos José de Almeida, teve 160 números.

Em 1837, na República Rio-Grandense, na organização do governo republicano, são nomeados generais Antonio de Souza Neto, João Manoel de Lima e Silva, Bento Gonçalves da Silva e mais tarde David Canabarro, Bento Manoel Ribeiro e João Antonio da Silveira.
O Rio Grande enquanto república só teve estes seis generais.

Em 1837, em Porto Alegre, ocorreu a primeira tentativa de “organização da escola pública”, mas nesta época já faltavam recursos para a educação.

Em 1837, em Porto Alegre, as cadeias ficam lotadas de simpatizantes Farroupilhas, funcionários públicos são demitidos e tem que abandonar a cidade.
O presidente da Província Antero de Brito perde o controle da situação.

- Na colônia alemã da Real Feitoria (São Leopoldo) João Daniel Hillbrand, médico e ex-soldado, lidera a defesa da causa imperial, organizando a Companhia de Caçadores Voluntários Alemães.

Em 1837, em Porto Alegre, os Camareiros dividem a cidade em distritos, a serem administrados por Juízes, muitos não assumem por medo de ataques dos Farrapos.

- Entre 1837 e 1845, a Assembléia Provincial (Assembléia Legislativa) não se reuniu, assim como também não foram eleitos parlamentares gaúchos para a Câmara dos Deputados e o Senado, ficando a Província sem representação em âmbito nacional.

Em 21 de janeiro de 1837, em Porto Alegre, em Portaria o futuro barão de Tramanday, presidente brigadeiro Antero José Ferreira de Brito, assinou a deportação de Antônio Álvares Pereira Coruja, para o Rio de Janeiro.
No processo dos Farrapos publicado pelo Arquivo Nacional consta, na Col. 409, o Termo de Presos do Rio Grande, que inclui a sansão imposta a Coruja:
“Termo pela qual se obriga a não voltar ao Rio Grande, durante a luta atual e apresentar-se à Polícia nos dias... de cada mês para verificação de sua residência nesta.”
O Termo vem acompanhado dos sinais característicos de Coruja:
“Antônio Álvares Pereira Coruja, Termo de 3-XI-1837. Reside à Rua dos Latoeiros, 46, 2º andar. Natural de Porto Alegre, 33 anos, casado, professor de Colégio, alto, claro, cabelos castanhos, olhos azuis, nariz grande, boca irregular, bastante barba.”

Segundo Sítio (11.05.1837 - 13.02.1838)
Em 20 de junho de 1837, Porto Alegre está sitiado pelo General Netto, comandante Farroupilha, acontece o primeiro Grande Bombardeio de Porto Alegre pelos Farrapos, foram disparadas 150 granadas de artilharia.

- Os canhões dos Farroupilhas eram de pequeno calibre (bolas de ferro que só conseguiam destelhar casas e marcar paredes), mas neste dia tiveram o efeito de arruinar 13 casas e incendiar duas, matando sete pessoas (incluindo duas crianças), além de deixar vários feridos.

- O General Netto estava nos altos do Passo da Areia, onde havia uma fortificação, chamada de “Fortaleza”.
Outro contingente Farrapo estava na Estrada do Forte (atual Avenida do Forte), o tal Forte (era uma simples trincheira e barracas), mas gerou muita lenda e deu nome ao lugar.

- Durante este cerco, os Farrapos controlavam o Caminho Novo, que dava acesso a Gravataí e São Leopoldo, e o Caminho do Meio, que levava a Viamão.
Na tentativa de liberar estes caminhos, vez por outra, os Imperiais atravessavam suas muralhas. Em uma dessas saídas, Francisco Pedro de Abreu, o “Chico Pedro”, um dos heróis da resistência, matou em duelo o Capitão Fanfa. Comandante do acampamento dos Farroupilhas, chamado de “Fortaleza”.

Em 07 de julho de 1837, em Porto Alegre, acontece o “Segundo Bombardeio Farroupilha” sobre a cidade, as medidas preventivas do governo Imperial evitaram baixas, mas abalou o ânimo da população.

Entre 22 de julho e 07 de agosto de 1837, em Porto Alegre, aconteceram outros “bombardeios Farroupilhas”, trazendo o terror, mas não matando ninguém, apesar do grande número de granadas jogadas.

Em novembro de 1837, República Rio-Grandense, após a fuga da prisão Bento Gonçalves da Silva regressou ao Rio Grande, tendo chegado a Piratini, a capital Farroupilha.

Em 18 de novembro de 1837, em Porto Alegre, o presidente da Província Antônio Elzeário de Miranda e Brito cria a primeira Força Policial, ato que deu origem a atual Brigada Militar.

Em dezembro de 1837, República Rio-Grandense, o general Bento Gonçalves da Silva quando tomou posse do cargo de presidente da nova República para o qual havia sido eleito.
Imediatamente, passou a presidência ao seu vice, José Mariano de Mattos, para poder comandar o exército farroupilha.

Entre 1837 e 1838, em Porto Alegre, o problema da deposição do lixo veio à tona, durante a Revolução Farroupilha, com o sitiamento da cidade. Foram então regulamentados pela Câmara lugares para o lançamento de detritos.

Em 1838, no Brasil, no Maranhão, Raimundo Gomes, Francisco Ferreira e Cosme (líder de 330 negros libertos) comandam uma série de saques, tem início a Balaiada que terminará em 1841, com a interferência de Luiz Alves de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias).

Em 1838, em Porto Alegre, surge a “Roda dos Expostos” da Santa Casa de Misericórdia, que passou a receber as crianças ejeitas, até esta época era costume usual as crianças serem abandonadas na porta das casas.

Em janeiro de 1838, em Porto Alegre, o General Netto comandante Farroupilha, passou o comando do sítio ao coronel José Mariano de Matos, que acampou com mil homens no Caminho Novo, próximo a atual Rua Garibaldi.

- O presidente da Província general Antônio Elzeário, havia deixado Porto Alegre com dois batalhões de infantaria embarcados em navio de guerra e rumara para Triunfo, onde se reuniria com dois corpos da Cavalaria Imperial.
Vieram por terra via Portão até a Aldeia dos Anjos (atual Gravataí) para atacar os revoltosos pela retaguarda.

Em fevereiro de 1838, em Porto Alegre, a Câmara pede medidas energéticas contra o “embarque de farinha de mandioca” no porto, a escassez levou a proibição da exportação e ordenou rígido controle da Alfândega.

Em 13 de fevereiro de 1838, em Porto Alegre, os revoltosos Farroupilhas perceberam a manobra das Forças Imperais em sua retaguarda e levantaram o cerco sobre a cidade, se dirigindo para o Planalto e depois Lages (SC).

- Com o fim do segundo cerco a Porto Alegre, a Câmara ordena que os “Juízes de Paz” retornem aos seus domicílios e cargos.

Em 09 de junho de 1838, em Porto Alegre, a Câmara decide que o Corpus Christi não terá procissão em vista de ameaça de invasão rebelde.

Terceiro Sítio (15.06.1838 – 08.12.1840)
- Entre o segundo e o terceiro cerco Farroupilha a Porto Alegre, a cidade modernizou suas trincheiras, coberta desde a foz do Riacho, sobre o Caminho de Belas, e reforçada até a Travessa da Olaria (atual Rua Sarmento Leite) com a Estrada da Várzea ou da Azenha (João Pessoa).
Foi o mais longo de todos os sítios, mas os combates aconteceram todos fora dos muros.
Os Imperiais se esforçaram para levantar o cerco e os Farroupilhas se esforçavam para impedir a passagem de víveres para a população.
A principal fonte de abastecimento de Porto Alegre durante o cerco foi a Colônia da Feitoria (atual São Leopoldo), na época pertencente a Porto Alegre, que utilizavam o Rio dos Sinos como via.
Os que mais sofreram com os combates e guerrilhas eram as fazendas, sítios e chácaras que ficavam fora das fortificações da cidade.

Em 1839, na Europa, Alemanha, o alemão Johann Faber criou a máquina para fabricar Lápis com capas de madeira. Os primeiro lápis surgiram no século XVII em uma mass de argila e grafite, musturada com água.

Em 1839, na Europa, Daguerre inventa a fotografia, cria a máquina a “daguerreotipia”.

Em 1839, em Porto Alegre, a Câmara proíbe a nomeação para Inspetor de Quarteirão, de homens que possam lutar e manda punir com 200 chibatadas os escravos que fugiram para aderir aos rebeldes (Farroupilhas).

- A farinha de trigo em Porto Alegre é racionada, por falta de abastecimento.

Em 02 de janeiro de 1839, em Porto Alegre, acontece o combate mais significativo entre os Farroupilhas e Imperiais, no Passo do Feijó região da zona norte.

Em 07 de março de 1839, em Porto Alegre, acontecem os combates Farroupilhas da Sanga das Bananeiras (atual Parthenon) e da Azenha.

- As eleições para juiz de paz em Porto Alegre se realizam em apenas dois distritos, pois os demais estão em poder dos rebeldes fora da fortificação.

Em julho de 1839, no Brasil, Província de Santa Catarina, a República Rio-Grandense parece consolidada, a marinha de guerra está sob o comando efetivo de José Garibaldi, corsário italiano trazido ao Rio Grande pelo Conde Livio Zambeccari, através da maçonaria. Os farrapos decidem levar a república ao Brasil o Exército Farroupilha comandado por David Canabarro e apoiado pela Marinha de Garibaldi proclama em Santa Catarina na Villa de Laguna a República Catarinense ou “Juliana”, em alusão ao mês de julho, tendo como presidente efetivo o paranaense Padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro, tio do coronel Joaquim Xavier Neves, político mais influente em São José da Terra Firme na Província de Santa Catarina, notoriamente aliado Farroupilha, que havia sido eleito presidente da nova República e não havia assumido.

- No Rio Grande do Sul, a capital da República Rio-grandense passa a ser Caçapava.

Em 02 de julho de 1839, no Brasil, Rio de Janeiro, é assinado o “Decreto de Anistia” aos revolucionários pelo Regente Pedro de Araújo Lima, futuro visconde e marquês de Olinda.
Apesar de Porto Alegre estar pacificada, continuava em vigor a ordem para os revolucionários exilados de não retornarem a Província do Rio Grande.

A 15 de junho, 03 de agosto e 28 de outubro de 1839, em Porto Alegre, acontecem combates Farroupilhas junto aos alagadiços dos Campos da Várzea, no atual Parque Farroupilha.

- No Rio de Janeiro A Regência (que administra o país), envia grande quantidade de alimentos e charque, que chega via Rio Grande até Porto Alegre.

Em 19 de agosto de 1839, na Europa, França, é criado um novo processo fotográfico de Louis-Jacques Daguerre, artista e químico, é patenteado pelo governo francês. Após apresentar o “Daguerreótipo” à Academia de Ciências Francesa, surgiram interesses comerciais pela dissiminação da fotografia sem negativo.
Diferentemente dos procedimentos conhecidos, a imagem de Daguerre, impressa sobre uma superfície platinada, é gravada de forma permanente.

1840
Segundo Reinado (1840-1889)

Em 1840, na Oceania, o Tratado de Waitangi anexa a Nova Zelândia a Grã-Bretanha.

Em 1840, na Europa, Escócia, o ferreiro Kirkpatrick MacMillan criou a primeira “bicicleta” com pedais e direção, por este feito é considerado o “pai da bicicleta”.

Em 1840, na Europa, Grã-Bretanha, o governo concede a independência ao Canadá.

Em 1840, na Europa, Grã-Bretanha, é criado o primeiro Selo Postal do Mundo.

Em 1840, na América do Norte, Estado Unidos é instalado o primeiro “semáforo” para controle do tráfego na cidade de Boston.

Em 1840, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, os partidos “Progressista e Regressista”, passariam a se chamar respectivamente Liberais e Conservadores.

Em 1840, em Porto Alegre, com o afrouxamento do cerco, volta à normalidade:
- Os viveres chegam via porto e o comércio se intensifica novamente.
- A cidade retoma obras interrompidas, inicia-se a construção do primeiro Mercado da cidade.
- As ruas ganham nome e placa, e o critério de numeração que parte do Guaíba com os pares de um lado e impares do outro.
- Há o calçamento sistemático com pedras irregulares, desapropriações e medições de novas ruas (são as raízes de um Plano Diretor).

Em marco de 1840, no Brasil, Rio de Janeiro, D. Pedro II adquire um aparelho de Daguerreotipia (a futura máquina fotográfica), em março do mesmo ano, motivado pelas demonstrações que o abade francês Louis Compte lhe fizera em janeiro, quando introduzia a fotografia no Brasil, adquiriu seu próprio equipamento, oito meses antes que outros similares fossem finalmente comercializados no país sendo então o “primeiro brasileiro a praticar fotografia”.

- Quando introduzia a fotografia no Brasil, adquiriu seu próprio equipamento, oito meses antes que outros similares fossem finalmente comercializados no país sendo então o primeiro brasileiro a praticar fotografia. Também foi grande como mecenas e colecionador de fotografias, exercendo papel essencial para o florescimento da fotografia no Brasil. Como colecionador, constituiu o maior acervo privado das Américas durante o século XIX, a base para o estudo da história da fotografia no Brasil, reunindo ainda imagens de grandes pioneiros internacionais.

- Quando de seu exílio do país, após a Proclamação da República, doou seu acervo fotográfico para a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, que o preserva, desde 1892, com o título de Coleção Thereza Christina Maria.

Em 22 de junho de 1840, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, os liberais, vencidos no Senado por dois votos, liderados por Antônio Carlos de Andrada (irmão de José Bonifácio), abandonaram a “Câmara Prostituída”, foi um golpe branco dos chamados “Maioristas”.
O Regente Araújo Lima (escravagista) se viu sem opção a não ser aceitar o império das circunstâncias e se dirigiu ao Paço Imperial de São Cristovão, onde explicou a dom Pedro a situação crítica pelo qual o país passava e perguntou quando desejaria tornar-se maior de idade e lhe oferecer o governo, que aceitou.

Em 23 de juho de 1840, no Brasil, Rio de Janeiro, perante a Assembléia Geral, presidida pelo Marquês de Paranaguá, é declarado maior S.A.I. Príncipe Dom Pedro de Alcântara, de 18 para 15 anos, para acalmar as Províncias insufladas.
A decretação oficial da maioridade do monarca foi recebida com enorme alegria pelo povo brasileiro.
Uma demonstração clara do desejo de tornar imperador maior de idade foi o surgimento de uma quadrinha popular cantada pela população da cidade do Rio de Janeiro nessa época:
"Queremos Pedro II
Embora não tenha idade!
A Nação dispensa a lei
E viva a Maioridade!"

- Para o Sul em guerra civil, como boa vontade, foi concedida anistia aos presos políticos no Período Regencial, e estendido aos rebeldes Farrapos, como tentativa de conciliação.
Os Farroupilhas são anistiados, mas não depuseram as armas, ao contrário desafiaram o Império e convocaram uma Assembléia Constituinte.

- Na Câmara de Porto Alegre, das 299 reuniões que realizou de 1836 a 1840, que era formada por nove Camareiros que nem sempre estavam, todos, presentes as reuniões (não eram remunerados), nunca se referiram a Farroupilhas ou Republicanos, mas apenas “Rebeldes”, e raras vezes. A Câmara era presidida nesta época por Lopo Gonçalves, e as Atas eram redigidas por um secretário remunerado, Libânio Pereira.
Como se não estivesse acontecendo nada de extraordinário fora das reuniões do Conselho, diziam:
O governador Fernandes Braga foge para Rio Grande e raspa os cofres, nada é mencionado,
Bento Gonçalves entra em Porto Alegre triunfante, nada é comentado e assim até o fim da guerra.
Falava-se dos assuntos da cidade, da falta de alimentos e pontos específicos.
No período dos sítios a Porto Alegre, a Câmara teve de dividir assuntos de seu antigo cotidiano: - impostos, licenças para obras, abertura de valas, com temas dramáticos, como a escassez de alimentos e a venda de produtos deteriorados.
Mas orgulhosamente, seus Camareiros sempre escamotearam as causas:
- A guerra sangrenta,
- O cerco impiedoso a cidade.

A Câmara
- No período de 1835 à 1845 a Câmara tinha uma abrangência muito grande: - abertura e alargamento de ruas, denominações, serviços de limpeza e policiamento, impostos municipais, manutenção dos órfãos e defesa do município através da guarda, composta todos os cidadãos maiores de idade. Tinha função administrativa, mas não tinha poder de fato.

- Durante a Guerra dos Farrapos, Porto Alegre ficou sitiado (isolada), isto fez a colônia alemã da Feitoria do Linho Cânhamo (São Leopoldo) se desenvolver, trazendo mercadorias a Porto Alegre pelo rio dos Sinos que não era muito vigiado.

Em 25 de agosto de 1840, em Porto Alegre, Dona Joaquina Isabel de Brito requereu o alinhamento de um terreno na Rua da Olaria (Lima e Silva) para a construção do Mosteiro das Carmelitas Descalças – O Convento do Carmo. A Câmara autorizou a obra em Ata, que começou quase sem recursos.
Em 1852 é inaugurada depois de algumas campanhas e de muitos donativos, já funcionava a capela anexa ao mosteiro, que foi alterada por obras posteriores.

Em 02 de dezembro de 1840, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, no dia do aniversário de V.A.I. D. Pedro, alguns meses após ser declarado maior de idade, ocorre o evento, sob grande manifestação popular, com direito a festas e cortejos.
O mesmo ocorre no primeiro ano de aniversário da Maioridade. O imperador registrou em seu diário:
"Quanto me custa um cortejo, como mói! - Mas ele é sinal de gratidão de meus amados súditos. Devo recebê-lo com boa cara."

Em 08 de dezembro de 1840, em Porto Alegre, é levantado o “terceiro e último cerco Farroupilha” desviada a atenção pelas manobras da Divisão de Infantaria do Império, vinda de São Paulo comandada pelo general Pedro Labatut, sobre a retaguarda republicana, que durou 106 dias, isto atraiu a atenção de Bento Gonçalves e Davi Canabarro, que deslocaram as tropas.
Chegava ao fim o mais longo cerco a capital da Província.

O sitio a Porto Alegre
- Entre 26 de junho de 1836 e 08 de dezembro de 1840, com dois intervalos, totalizando 1.283 dias de “Cerco a Cidade de Porto Alegre” pelos Farrapos.
A tentativa era fazer Porto Alegre se render pela fome, a crise foi grande, foi atacada, bombardeada por terra e água, mas a cidade não caiu, e o Império do Brasil reconheceu o feito.

Em 1841, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, e pelos próximos 48 anos, foi dotada a renda para a Família Imperial saída dos cofres públicos que seria de 67 contos de réis por mês.

Nota:
- Curiosamente, uma das primeiras medidas do marechal Deodoro da Fonseca foi aumentar o salário do presidente da República (ou seja, ele mesmo) para 120 contos de réis por mês, quase o dobro do que recebia toda a Família Imperial.

Em 1841, no Brasil, Rio Grande do Sul, a Capital da República Rio-Grandense passa a ser Alegrete, onde se instala a Assembléia Nacional Constituinte.

Em 1841, em Porto Alegre, a Câmara viu a necessidade de reunir todas as bancas espalhadas pela Praça Paraíso e Largo dos Ferreiros em um só bloco, com a construção de um “Mercado”, pois durante o cerco Farroupilha tinha aumentado a procura no logradouro público para instalação de telheiros destinados a venda de produtos alimentícios, o caos de limpeza e circulação do espaço era demasiado.

Em 18 de julho de 1841, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, é realizado a sagração e coroação de D. Pedro II. A cidade foi cuidadosamente embelezada para a cerimônia. As festas duraram muitos dias, encerrando-se no dia 24 de julho com um grande baile de gala no Paço da Cidade.
Em Porto Alegre a cidade comemora e brinda ao “Imperador Menino”, com saraus e jantares.

Em 19 de outubro de 1841, no Brasil Rio de Janeiro, capital do Império, por sua resistência e lealdade ao Império, a cidade de Porto Alegre é agraciada com o título de “Leal e Valorosa”, por S.M.I. Dom Pedro II, que é incorporado ao brasão do município.


Erro Oficializado:
- Por erro do secretário da Câmara, repetida depois por certos escritos históricos, o arcaísmo “valerosa” (com e), estampada no brasão, foi perpetuado.


O brasão de Porto Alegre
- A Cruz de Malta, que indica a origem portuguesa,
- O Portão Simbólico, que lembra a resistência, e
- A nau Nossa Senhora da Alminha, que trouxe os primeiros açorianos.

Em 1842, no Brasil, Rio de Janeiro, Cidade Neutra, é dissolvido a Câmara dos Deputados do Império e são convocadas novas eleições.
Como conseqüência surge e Revolução Liberal (com Tobias de Aguiar, Padre Feijó e Vergueiros) e nas Minas Gerais com Teófilo Ottoni, logo sufocada.

Em 1842, no Brasil, Rio de Janeiro, Cidade Neutra, é nomeado para presidente da Província rebelde do Rio Grande do Sul, Luis Alves de Lima e Silva, Conde de Caxias (futuro Duque de Caxias).

Em 1842, República Rio-Grandense, Caçapava do Sul (segunda capital da República), onde eleitos 36 deputados Constituintes Farroupilhas, promulgam a Constituição da República do Rio Grande do Sul, nos moldes dos Estados Unidos da América.
Foi o redator e signatário José Pinheiro Ulhôa Cintra.

Em 1842, República Rio-Grandense, o general Bento Gonçalves da Silva, no começo deste ano, se bate em duelo com Onofre Pires, que morre em conseqüência dos ferimentos. Após o duelo Bento Gonçalves entrega o governo e o comando do exército republicano.

Em 1842, em Porto Alegre, o artigo que regulamentava os pontos de deposição de lixo na cidade, aprovado em 1838, foi revogado.

Em 1842, em Porto Alegre, das 42 “casas de importação” que existiam, oito pertenciam a alemães, que preferiram o comércio à agricultura.

Em 10 de janeiro de 1842, em Porto Alegre, foi formada uma Comissão para escolher um novo local para um novo “Cemitério”, o atual estava localizado nos fundos da Igreja Matriz na Rua da Igreja (Rua Duque de Caxias) e o outro ao lado do prédio da Santa Casa (na atual Praça São Sebastião) na Rua da Independência.

Em 05 de abril de 1842, em Porto Alegre, foi autorizada por ato da Câmara a construção do primeiro Mercado Público, que foi assinado pelo presidente da Província Dr. Saturnino de Souza e Oliveira.
Deste primeiro prédio não restou vestígio, construído no Largo do Paraíso, no local da atual Praça XV de Novembro. Junto ao prédio foi construída uma rampa na doca em direção a Rua de Bragança afim de nela aportarem as pequenas embarcações que viessem trazer gêneros ao mercado.

Em 09 de novembro de 1842, em Porto Alegre, o então Conde de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, assume a presidência da Província do Rio Grande do Sul e de Chefe do Exército Imperial, onde sua missão principal era vencer os “Farrapos” ou Farroupilhas.

Caxias nas folgas dos conflitos Farroupilhas administrava a Capital, Porto Alegre:
- Impulsionou a obra do primeiro Mercado Público,
- Preocupou-se com a iluminação,
- Com o traçado das ruas,
- Ajudou no estabelecimento do novo Cemitério da Santa Casa nos Altos da Azenha, em substituição do velho nos fundos da Igreja Matriz,
- Iniciou o prédio próprio da Câmara,
- A construção da Cadeia na Ponta do Arsenal,
- O Asilo Santa Teresa,
- A Ponte de Pedra,
- Forma retomadas as obras do Theatro São Pedro.

Em 1843, no Brasil, o país se tornou o segundo país do mundo a adotar um “Selo” como forma de taxa de serviço postal, uma invenção inglesa de 1840.

Em 1843, em Porto Alegre, o trecho entre a Rua do Ouvidor (General Câmara) e o Largo da Caridade na atual Praça Dom Feliciano foi denominado de Rua da Graça, continuação da Rua da Praia.

Em 30 de maio de 1843, na Europa, na Sicilia, D. Pedro II imperador do Brasil, casa-se por procuração com a princesa napolitana Teresa Cristina Maria Giuseppa Gaspare Baltassare Melchiore Gennara Francesca de Padova Donata Bonosa Andrea d’Avellino Rita Luitgarda Geltruda Venancia Taddea Spiridione Rocca Matilde de Bourbon, filha do Rei Francisco I, rei das Duas Sicilias.
Tiveram quatro filhos Dom Afonso e Dom Pedro Afonso, mas só sobrevivem Dona Isabel (Princesa Imperial) e Dona Leopoldina Teresa.

Em 29 de abril de 1844, em Porto Alegre, a Comissão para construção do novo Cemitério entra em contato com a Santa Casa de Misericórdia, na mudança para o espaço entre a chácara do Tenente-General Câmara e o Major Moraes, no alto da Azenha, à direita.
No ano seguinte a Câmara designou o espaço de “Rua do Cemitério”. Mas as irmandades do S.S. S.S. Conceição, São Miguel e Rosário, as que tinham interesse no Cemitério da Matriz, só em 1850, contrariadas, pela“proibição que ultimamente houve de inumação dos corpos nos recintos dos templos”, obedecem, e promovem a mudança.

Em 27 de setembro de 1844, em Porto Alegre, é entregue a Câmara o primeiro Mercado Público da cidade.

Em 1º de outubro de 1844, em Porto Alegre, foi inaugurado à obra do “primeiro” Mercado Público (construído no local da atual Praça XV), em grande solenidade, no Largo do Paraíso.
Uma placa registraria o acontecimento:
“O doutor Saturnino de Souza Oliveira, presidente da Província deixa nesta pedra a memória de ser ele quem fundou este edifício, destinado para a Praça do Mercado Público da Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre, no ano de MDCCXLII, Reinado do Senhor D. Pedro II.”

- Segundo relatos era um prédio quadrado de alvenaria de tijolos e com portões de ferro e com quatro escadas como o atual, com uma praça no centro e as lojas dando para fora, o mercado deveria ser menor, por este motivo a necessidade de construir um maior, devido ao movimento comercial em franco crescimento, já que abastecia toda a cidade e região.
Em seus quatros cantos externos, e internos assim como no Largo dos Ferreiros, foram inaugurados novos lampiões a óleo de baleia.
A Câmara alugava as lojas, e na praça central as quitandeiras faziam quitutes em seus fogões improvisados.
Foi construída uma rampa na doca em direção a Rua de Bragança afim de nela aportarem as pequenas embarcações que vierem trazer gêneros ao mercado (atual Praça Parobé), além desta fora prevista simetricamente com relação ao eixo da obra, entre as duas funcionaria a Praça do Mercado.
O mercado foi construído por verbas dos cofres provinciais por autorização do presidente da Província Caxias. Este primeiro Mercado Público funcionou até 1870.

Em 11 de novembro de 1844, na República Rio-Grandense, em Porongos, na noite, o Batalhão de 600 homens, chamada “Lanceiros Negros”, foram desarmados por seu comandante, Davi Canabarro, e massacrados logo após pelo Exército Imperial.
Os lanceiros negros eram um empecilho de “ex-escravos” que gerariam uma onda nacional não tolerada pela elite, a paz em o Império e a República após o acontecimento veio naturalmente.

Em 1845, na Europa, Inglaterra, baixa ato que seus navios interceptem e inspecionem navios brasileiros, para coibir o tráfico de escravos.

Em 1845, em Porto Alegre, o major engenheiro Alexandre Manuel Albino de Carvalho presidiu uma Comissão para escolha de local para a construção do “novo prédio da Câmara”, esta construção foi solicitada pelo vereador Dr. João Rodrigues Fagundes, foi cogitado fazer sobre o alicerce do Theatro São Pedro que estavam paralisadas, mas a Câmara não concordou.

Em 22 de fevereiro de 1845, no Brasil, Rio Grande do Sul, a “última participação política de Bento Gonçalves da Silva” foi uma carta que enviou a David Canabarro, três dias antes da assinatura do acordo de paz. Estava doente e não iria a assinatura do “Tratado de Ponche Verde”, apoiava a decisão dos líderes republicanos, recomendava a urgência  da pacificação honrosa e nomeava Ismael Soares da Silva como representante na histórica reunião com o Barão de Caxias (futuro Duque).

Em 25 de fevereiro de 1845, na República Rio-Grandense, com a invasão de Manuel Oribe, presidente do Uruguai, e com duas frentes para defender, os Farroupilhas preferem se unir a Caxias junto às tropas Imperiais contra o velho inimigo da Banda Oriental, a revolução vai encerrar.

- As concessões do Império, porém tiveram um caráter emergencial, em face de a situação de guerra no Prata, que se avizinhava, e à necessidade de contar com as forças gaúchas ao lado do Trono. Mais uma vez o “prestígio militar” do Rio Grande do Sul pesou na balança das relações com o centro.

Em 28 de fevereiro de 1845, no Brasil, no Sul, na Província rebelde do Rio Grande do Sul, a República Rio-Grandense teve seu fim no combate do Poncho Verde encerrando o Conflito Farroupilha
Luís Alves de Lima e Silva – o futuro Duque de Caxias -, general vitorioso, assumiu a presidência da Província e estabeleceu com os farrapos anistiados um acordo honroso para a pacificação, que foi selado entre Caxias (Luis Alves de Lima e Silva, presidente da Província) representando o Império, que teve dificuldades de encontrar o chefe real dos Farrapos e optou por Davi Canabarro (descrito como rude, extravagante e descuidado de filigranas morais) comandante do Exército Farroupilha, depois da exoneração de Bento Gonçalves do comando.

O general Antônio de Souza Netto (o proclamador da República Rio-Grandense) não aceitou o acordo, preferindo o exílio na Região do Prata.
Várias foram às cláusulas nas concessões pela pacificação dos Farroupilhas, como:

I - O indivíduo que for pelos republicanos indicado para Presidente da Província é aprovado pelo Governo Imperial e passará a presidir a Província.

III – Os oficiais republicanos que por nosso Comandante em chefe forem indicados passarão a pertencer ao Exército do Brasil no mesmo posto, e os que quiserem suas demissões ou não quiserem pertencer ao Exército não serão obrigados a servir tanto em Guarda Nacional como em primeira linha.

IV - São livres e como tais reconhecidos todos os cativos que serviam a República.

VI – É garantida a segurança individual e de propriedade em toda sua plenitude.
Entre outras...

Império do Brasil
República Rio Grandense

PAZ na Província

Em 1º de março de 1845, no Brasil, Rio Grande do Sul, com a paz assinada pelo chefe Farroupilha Davi Canabarro (que substituíra Bento Gonçalves), a chamada “Paz Honrosa” em condições garantidas pelo Imperador D. Pedro II e o Barão de Caxias.
Ao negociarem o final da guerra, Caxias esconde do Império alguns pontos e Canabarro não revela tudo aos Farrapos.
A paz foi “honrosa”, o único ponto controverso, foi à liberdade dos escravos negros que lutaram com os rebeldes, que foi resolvido pragmática e cruelmente massacrados.

No Ponche Verde, no obelisco na atual cidade de Dom Pedrito:

“Nestes campos de Ponche Verde, em 1º de março de 1845, os defensores do Império e os republicanos de Piratini asseguraram a unidade nacional, com a pacificação do Rio Grande do Sul.”

- Durante a Revolução Farroupilha com seus ideais republicanos e separatistas, baseados no iluminismo francês e questões econômicas, foi à maior guerra civil da história do Brasil, 3.466 dias, 56 confrontos bélicos, custou a vida entre 3 e 5 mil homens.

- A capital Porto Alegre, foi sitiada três vezes, por um total de 1.283 dias de angústia, escassez de alimentos, escaramuças, bombardeios e morte.
Apesar de tudo, a vida por trás da Porto Alegre Fortificada continuou e conseguiu até se modernizar.

“Houve a Guerra Farroupilha, 1835, novamente a Paz, 1845, dez anos tinham passado, mas a Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre resistiu.”

Em 31 de agosto de 1845, em Porto Alegre é escolhido os Altos da Azenha para a localização do Cemitério São Miguel e Almas, o terceiro da cidade, propriamente dito.

O Imperador D. Pedro II e D. Teresa Cristina, visitam as Províncias do Sul, pela primeira vez a população via seu Imperador.

Em 20 de outubro de 1845, no Brasil, D. Pedro II, em sua primeira viagem como imperador pelas províncias do Império; na Província de Santa Catarina, o imperador Dom Pedro II e a Imperatriz D. Tereza Cristina assistiram ao Primeiro Rodeio que se tem notícia no Brasil, nos alagados de Campinas em São José da Terra Firme, Dom Pedro II chegou até a dançar num fandango.
Para a visita de S.M.I. D. Pedro II e sua esposa D. Theresa Christina a Porto Alegre, a Câmara desapropriou terrenos para aberturas de novas ruas na Várzea, as futuras:
Rua do Imperador (República), que ligava a Rua da Margem (João Alfredo) ao Caminho da Várzea (João Pessoa),
Rua da Imperatriz (Venâncio Aires), que ligava a ilhota no Riacho ao Caminho do meio e
Rua Caxias (José de Alencar), sendo esta a primeira rua do arraial do Menino Deus, seu objetivo básico foi ligar o Caminho de Belas com o Caminho da Azenha e a Estrada da Cavalhada.

Em 21 de novembro de 1845, em Porto Alegre, em recepção solene, Suas Majestades Imperais D. Pedro II e D. Thereza Christina e comitiva, desembarcaram no trapiche da Alfândega.
São recepcionados pelo presidente da Província o Barão de Caxias (Luis Alves de Lima e Silva), as maiores autoridades civis e militares, grandes proprietários, comerciantes, a burguesia e os demais cidadãos da cidade se prepararam para este grande dia.

Ao jovem monarca de vinte anos de idade, apresentou-se o general Bento Gonçalves da Silva (ex-presidente da República Rio-Grandense, líder rebelde), com seu uniforme de coronel do Império e revestido de todas as medalhas com que havia sido condecorado por D. Pedro I, pela atuação nas campanhas militares do Primeiro Reinado.

Em 02 de dezembro de 1845, em Porto Alegre, na visita do casal imperial D. Pedro II e D. Theresa Christina é inaugurado o Asilo Santa Theresa (em homenagem a imperatriz), que deu nome às elevações (Morro Santa Tereza).

Entre 1845-46, em Porto Alegre, conforme o Relatório Hillebrand mostra que a Colônia da Feitoria foi o maior produtor da Província, graças ao espírito de denodo do imigrante, a proximidade do mercado consumidor e a variada de profissões artesanais, tais como: - carpinteiro, marceneiro, tanoeiro, torneiro, curtidor, seleiro, barqueiro, segueiro, tecelão, alfaiate, tintureiro, comerciante, chapeleiro, sapateiro, ferreiro, latoeiro, serralheiro, açougueiro, moleiro, padeiro, cervejeiro, charuteiro, canteiro, pedreiro, pintor, ourives...

Em 1846, na Europa, em Portugal, acontece a terceira guerra civil entre Liberais e Monarquistas.

Em 1846, na Europa, Alemanha, o papel deixaria de ser fabricado manualmente desde 105 A.C. Os alemães Keller e Volter inventaram uma “máquina que retirava a celulose da madeira”, para fabricar uma tonelada de papel são necessários 20 eucalíptos.

Em 1846, na América do Norte, os Estados Unidos declaram guerra ao México em disputa do território do Rio Grande (atual Califórnia).

Em 1846, no Brasil, Rio de Janeiro, foi concedido pelo Governo Imperial à “cidadania brasileira” aos imigrantes, nesta época a maioria dos alemães já havia se transferido para a Capital.

- O acúmulo de capital dos colonos propiciou a transformação dos pequenos artesanatos em indústrias, estas tomam vulto no quartel oitocentista, a maioria localizada ao longo do Caminho Novo (Rua Voluntários da Pátria), com trapiche próprio do outro lado da rua junto ao Rio Guaíba.

Em 1846, no Brasil, Província do Rio Grande do Sul, Rio Grande, um ano após o fim da Revolução Farroupilha o Governo Imperial cria a Inspetoria de Praticagem da Barra: - um grupo de experientes marujos que orientavam os navios na entrada do porto, usando bandeira ao dia e tochas a noite. Mas a profundidade máxima do canal não passava de 2 metros, e o local se manteve como infame cemitério de navios e prejudicando o caminho até Porto Alegre, o problema vai continuar até 1906.

Em 1846, em Porto Alegre, na Feitoria, a matriarca da família Mariana Diehl já exercia a navegação pelo Rio dos Sinos desde a Revolução Farroupilha, e seu dois filhos Valentin e Anton Diehl faziam o transporte de imigrantes alemães entre a capital e a colônia.

Em 1846, em Porto Alegre, o presidente da Província, o Barão de Caxias derrubou as fortificações que cercavam a península e iniciou a ampliação dos limites urbanos.

Em 1846, em Porto Alegre, foi iniciada a construção da Ponte do Riacho (Ponte de Pedra) sobre o Riacho (arroio Dilúvio) em substituição a velha ponte de madeira (que freqüentemente era danificada pela correnteza e enchentes), idealizada pelo governador Caxias, possui três arcos planos com pilastras.
Dois anos depois já era possível passar pela ponte, mas a obra só ficou pronta em 1854, a nova ponte fez a cidade avançar para a zona sul, era à saída do centro urbano para o Sul aos Areais e Chácaras, o deslocamento era pela Rua da Figueira (Coronel Genuíno) ou pela Rua da Margem ou Riacho (Washington Luiz), uma vez que a Avenida Borges de Medeiros ainda não existia.

- Quando o presidente da Província do Rio Grande do Sul o Barão de Caxias (futuro Duque de Caxias) foi embora, em 1846, o “Pacificador” deixou para trás uma cidade melhor do que na chegada.

- No Relatório de Caxias onde constam suas realizações, como governador da Província, lê-se sobre a Ponte de Tirar Água:
“Não havendo nesta cidade Fontes Públicas, ou outros mananciais donde possam seus habitantes fornecerem-se de boa água, e mostrando a experiência que quase todas as moléstias que afligem seu moradores provêm em parte de impureza da água, apanhada nas praias cheias de imundícies; e convindo com isso que construíssem pontes de madeira pelo rio adentro , afim de abastecer a Cidade de água potável; ordenei, em julho do ano passado, que na Praça do Mercado, em seguimento da Rua de Bragança, se construísse uma destas pontes, com 200 palmos rio adentro, e feita a planta e orçamento, foi posta a obra em arrematação, e já nela se trabalha; para esta ponte, e para outra que tem de construir-se da desembocadura da Rua do Ouvidor, mandei dar a Câmara desta Cidade a quantia de 6 contos de réis.”

- A elevação do preço dos aluguéis foi uma decorrência da melhoria introduzida pela municipalidade naquele local. Os moradores dos referidos quartos passaram a ter mais conforto com mais oferta de água potável.

Em 1º de março de 1846, em Porto Alegre, chega ao fim o recesso de dez anos da Assembléia Provincial, motivado pela Revolução Farroupilha.

- Porto Alegre é a quarta cidade do Império em população, com cerca de 13.500 pessoas, 1/3 de escravos.

- O presidente da Província, Caxias, solicita ao Superior dos Jesuítas a vinda de padres habilitados para serem mestres escola. Estes chegam à capital e fundam uma pequena “escola” na Rua do Arvoredo (Fernando Machado), a fim de agrupar as “aulas” dispersas pela cidade.
Por sugestão de Caxias a Assembléia criou o Liceu Dom Affonso, localizado na esquina da Rua da Ponte (Riachuelo) com Rua Direita (Gen. Câmara), que preparava professores primários através das seguintes disciplinas: filosofia, gramática latina, francesa e inglesa, geometria, aritmética, história, geografia, álgebra, retórica, desenho e música.

- As condições sanitárias de Porto Alegre são pavorosas, poucas ruas tem calçamento e iluminação, as residências exibem a velha aparência colonial, inclusive com esteios na calçada para amarrar cavalo.

Em 1º de abril de 1846, em Porto Alegre, a Collonia Allemã de São Leopoldo (antiga Colônia da Real Feitoria) é levada a categoria de “Villa”, se desmembrando da capital da Província, Porto Alegre. A Collonia se torna o centro administrativo, jurídico, político, social, cultural e religioso de uma boa parte da Província.

Em 31 de agosto de 1846, em Porto Alegre, a Câmara recebe ofício do Chefe de Polícia, comunicando a colocação de uma sentinela na “ponte de tirar água”, na desembocadura da Rua de Bragança (Marechal Floriano).
A qualidade da água era importante, por isso a necessidade de vigilância da ponte, para a população não jogar imundícies na água, de que falava o governador Conde de Caxias.
Estas pontes não duram muito, pois eram destruídas por enchentes ou pelo uso, a maioria foi desmanchada e a madeira recolhida aos barracões para uso em outras obras.

Em setembro de 1846, na Europa, Prússia, os astrônomos alemães Johann Gottfried e Henrich Louis d’Arrest descobrem o oitavo planeta do Sistema Solar, batizado de Netuno (o Deus dos Máres).

Em 1847, na Europa, Prússia (Alemanha), Karl Marx, Friedrich Engels e Stefan Born fundam a Liga Comunista.

Em 1847, na América do Norte, os Estados Unidos atacam a Cidade do México, capital do país e selando sua vitória na conquista territorial.

Em 1847, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, o imperador D. Pedro II recria o cargo de Presidente do Conselho de Ministros (extinto pelo Ato Adicional de 1834), instalando uma espécie de Parlamentarismo no Brasil.
Como dizia o senador Hollanda Cavalcanti:
- “Nada se assemelha mais a um saquarema (conservadores) do que um Luzia (liberais) no poder”.

Em 1847, no Brasil, Rio de Janeiro, capital do Império, a “Guerra Farroupilha” é tema do folhetim “A Divina Pastora”, que é lançado pelo porto-alegrense José Antônio do Vale Caldre e Fião (1821-1876), que falava de sua cidade:
- “O bulício da cidade chamava a atenção do habitante do Caminho de Belas que, ao levantar-se, sentia zéfiros embalsamados pelos florentes alecrins, dourados e verdes manjericões e mil flores cujo matiz agrada à vista e chama o pensamento do filósofo à contemplação de Deus. O habitante do Caminho Novo também é despertado e, como o do Caminho de Belas, vê o manto da noite fugir apressado ante os primeiros anúncios do dia, e o prateado espelho das águas do Guaíba refletir buliçoso o ouro e a púrpura de que se reveste o rei da natureza. Aquele, porém, que dorme debaixo do telhado das casas que formam o duplo angular terreno da Praça do Paraízo veria, sem dúvidas, se levantasse a essa hora, um ancião gordo, armado de grande chapéu de sol, seguido de sua mulher, uma linda filha tão pura como a rosa na alva serena, dois filhos que submissos seguem os passos do ancião, uma escrava gorda munida de um largo samburá; e bem depressa adivinharia ser Paulo e sua família. Das vestes simples que cobrem toda essa família, concluiria que o luxo, sempre prejudicial aos estados, não tem penetrado o seu seio, e que o necessário só ordena o interior e exterior de sua existência. Se se aventurasse a dar alguns passos até alguns dos portões da Praça do Mercado, veria que os frutos mais sazonados dentre os pêssegos, maças, marmelos, laranjas, melões, etc., os legumes mais sãos e as ervas e carnes mais escolhidas eram o que compunha o seu alimento diário.”

Em 11 de julho de 1847, na noite fria, em Porto Alegre, nascia Luciana de Abreu, foi colocada na “roda dos enjeitados” da Santa Casa de Misericórdia, nunca se soube por quem, adotada pela família de um guarda-livros (Gaspar Ferreira Viana), Luciana de Abreu superou os fatos de ser enjeitada e a condição de filha adotiva. Sua capacidade ultrapassou aquela provinciana e preconceituosa, Porto Alegre.
Estudou de 1854 a 1858 na Escola Miquelina Ferrugem.
Em 18 de junho de 1868, juntos a outros renomados da cidade funda a Sociedade Parthenon Literário.
Em 1869, foi à primeira aluna a se inscrever na recém-inaugurada Escola Normal.
Casada e mãe de uma menina (seu segundo filho nasceu durante o curso), obtendo o diploma de professora em 1872. Exerceu a profissão, uma das únicas que se ofereciam a mulher, sendo Ajudante de Ensino da profª Henriqueta Andrade.
Em 1872, aprovada no concurso para Professora Pública, fundando logo sua Escola.
Em 1875, em seu pioneirismo, primeira mulher brasileira a subir em uma tribuna e abordar temas sociais, como a “emancipação da mulher”.
Em 13 de junho de 1880, essa extraordinária mulher com a visão além de seu tempo, faleceu prematuramente aos 33 anos, tísica pulmonar, no auge de seu sucesso.
Luciana de Abreu - “Um tipo perfeito de mulher educadora, oradora brilhante, conferencista, poetisa e romancista.”

Em 18 de julho de 1847, no Brasil, Rio Grande do Sul, morre de pleurisia o general Bento Gonçalves da Silva, primeiro presidente da ex-República Rio-Grandense.
No caminho para casa, já doente, vindo de Santo Amaro (Triunfo), se sentiu mal e parou em Pedras Brancas (atual cidade de Guaíba) na casa do amigo José Gomes de Vasconcelos Jardim, que foi substituto, várias vezes na presidência da República Rio-Grandense.
Após o fim do Conflito Farroupilha, pobre e doente, Bento Gonçalves retornou para as atividades do campo sem interessar-se mais por política.
Deixou viúva Caetana Garcia e 8 filhos.
Seus restos mortais encontram-se sob monumento na Praça Tamandaré situada no município de Rio Grande.

Em 1848, na Europa, a Revolução de Fevereiro na França, é proclamada a “IIª República” e Luis Napoleão assume a presidência.

Em 1848, na Europa, Karl Marx e Engels publicam o Manifesto Comunista em que conclamam os trabalhadores do mundo a lutar por seus direitos.

Em 1848, na Europa, estouram Revoluções na França, nos reinos Italianos, na Áustria e Alemanha.

Em 1848, na América do Norte, México, os territórios do Texas, Califórnia e Novo México são cedidos aos Estados Unidos, depois de dois anos de lutas e sucessivas batalhas.

Em 1848, no Brasil, os ingleses Henry W. Bates e Alfred R. Wallace vem estudar tipos diversos de borboletas.
As análises tornam-se a base da Teoria da Origem das Espécies pela Seleção Natural, de Charles Darwin.

Em 1848, no Brasil, Rio de Janeiro, os Liberais querem redigir uma nova “Constituição” e entram em choque com os Conservadores.

Em 1848, no Brasil, Província do Pernambuco, inicia a Revolta Praieira, iniciada pelo Partido Liberal, que terminará em 1849.

Em 1848, em Porto Alegre, é fundado o Partido Conservador que traduzia o “modus vivendi” estabelecido com o centro. A iniciativa coubera ao presidente da Província, ele também um elemento conservador e designado pelo Trono. Legitimava-se assim uma aliança no interior da camada dominante nacional, e constituía-se uma ação política que permitia que parte da oligarquia gaúcha se tornasse governo, em troca e apoio ao poder central.

- O Partido Liberal era constituído, por elementos que se consideravam legítimos herdeiros das “tradições farroupilhas”, defendiam as liberdades públicas e civis, reivindicando a descentralização e o federalismo.

Em 15 de fevereiro de 1848, em Porto Alegre, conforme Ata para a construção de um prédio para a Câmara foi então resolvido construir ao lado do Theatro São Pedro um novo prédio idêntico (atual Palácio da Justiça). A obra do “prédio gêmeo” foi concluída em 1870.

Em 07 de maio de 1848, na Europa, no Vaticano, o Papa Pio IX, pela bula AD Oves Dominicas Rite Pascendas, criou a Diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul, designando na mesma Bula como catedral provisória a Igreja Matriz de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre.

Em 1849, na América do Norte, Estados Unidos, tem início à “corrida do ouro” na Califórnia, em poucos meses San Francisco passa da condição de vila a cidade, abrigando 25 mil pessoas.



Continua na Parte XI

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